86% dos universitários se excedem na bebida alcoólica, diz pesquisa

O desejo dos estudantes virou negócio para muitos empreendedores de Teresina.

MOTIVOS | Estudantes argumentam que bebem para combater o estresse ou se socializar | Reprodução
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Cerveja gelada, aperitivos, a galera reunida e uma boa conversa. Quem nunca desejou estar em um ambiente como esse durante aquela aula interminável? O desejo dos estudantes virou negócio para muitos empreendedores de Teresina. Hoje, a maioria das universidades e faculdades da cidade tem pelo menos um ou dois bares nas suas imediações. No entanto, até que ponto esse programa pode ser praticado sem prejudicar o desempenho dos estudantes?

Estes bares são visitados pelos estudantes no turno da manhã e tarde, mas, principalmente, por aqueles que estudam à noite. Alexandra dos Santos, uma das proprietárias de um bar localizado nas proximidades da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), conta que praticamente todas as noites há estudantes no local. ?Geralmente eles vêm antes da aula e na saída. Mas muitas vezes alguns chegam antes do início das aulas e ficam a noite inteira?, disse.

Já Irisvânia de Lima, que, por dez anos, manteve um bar bem próximo da Uespi, conta que o fluxo de alunos no local é constante. ?Eles iam para comer e acabavam pedindo uma cerveja. Nas sextas-feiras e nos sábados o bar ficava cheio de alunos. Nós só não os recebíamos aos domingos porque não havia aula?, disse. Hoje o estabelecimento não vende mais cerveja e está um pouco mais distante da instituição e o número de estudantes também diminuiu, segundo a proprietária.

Os estudantes de uma faculdade de Teresina, no entanto, contam que essa prática de ir a bares próximos das universidades deve ser exercida com cautela e com responsabilidade para que não chegue a prejudicar seu desempenho na universidade. ?Nós costumamos vir até o bar nas sextas-feiras após as aulas. Nós almoçamos por aqui e ficamos até a tarde. Mas nunca deixamos de assistir aula para beber, apesar de conhecer pessoas que fazem isso. Mas isso depende da consciência de cada um?, afirmou o estudante Irisvan de Lima.

Consumo de álcool chega a 86%

Vender bebidas para universitários virou um negócio lucrativo. Isso porque é cada vez mais comum jovens estudantes abusarem das bebidas alcoólicas. A prática, muitas vezes, atrapalha o rendimento acadêmico

De acordo com uma pesquisa realizada pela USP, mais de 86% dos jovens universitários brasileiros consomem álcool, e entre os calouros, 47% bebem e dirigem. O estudo foi realizado em 2011 nas 27 capitais brasileiras. Quase 18 mil estudantes universitários, de 100 instituições, das cinco regiões do país, participaram da pesquisa.

A pesquisa mostra que em muitos casos a entrada na universidade representa uma mudança de comportamento na vida desses jovens, pelo acesso a novas experiências. Outros números importantes apontam que 49% dos universitários já experimentaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez na vida, e dentre os jovens que se declararam menores de 18 anos, 80% já consumiu algum tipo de bebida alcoólica.

Em geral, o uso de álcool não tem origem na universidade, mas se intensifica na vida acadêmica.

Entre os motivos alegados pelos jovens estão: estresse, insatisfação com o próprio desempenho acadêmico, fazer e manter amigos, inseguranças quanto ao futuro profissional, sair de casa para morar em república, entre outros.

Entre as consequências do excesso de bebida nessa idade universitária está a violência, relações sexuais sem proteção e direção perigosa.

Liberdade deve ser bem administrada

Se no ensino médio os estudantes precisavam cumprir prazos rígidos e horários estabelecidos, na universidade eles se sentem mais libertos, sendo este um dos motivos que os levam aos bares em horários de aulas. Essa sensação de liberdade, no entanto, segundo especialistas, precisa ser bem administrada para que não prejudique os estudantes.

?Quando entram na universidade, os jovens se sentem com mais liberdade, além disso, eles estão em contato com pessoas de diferentes classes sociais, idades e até de outras cidades e estados, causando uma vontade de se enturmar, o que os leva a procurar os bares próximos da universidades.

Muitas vezes não tem aula, mas os bares estão sempre abertos, então essa acaba sendo a melhor opção?, disse a assistente social da Fazenda da Paz, que lida com pessoas que consomem álcool e outras drogas, Diana Pacífico.

A estudante da Universidade Estadual do Piauí, Karina de Paula, conta que é uma frequentadora assídua dos bares que ficam nas imediações da Uespi, onde ela estuda. Segundo a estudante, ela já chegou a abandonar uma disciplina porque durante as aulas ela preferia estar no bar.

?Eu sempre vou ao bar perto da universidade pelo menos três vezes na semana. Às sextas-feiras, por exemplo, é regra. Eu cursava uma disciplina que era muito chata e ao invés de estar naquela aula massante eu preferia ir ao bar?, afirma.

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