A vice-embaixadora União Europeia no Brasil, Claudia Gintersdorfer afirmou, em entrevista exclusiva ao Jornal Meio Norte, que o Piauí já conta com importantes investimentos europeus no setor de energia renovável que estão na vanguarda da inovação e com anúncios de novos investimentos recentes.
Ela cita como exemplos a empresa italiana, Enel S.p.a. por meio da sua subsidiária Enel Green Power Brasil, que investe R$1 bilhão e começa a construir no Piauí a maior usina de energia solar da América Latina; a empresa franco-belga Engie (Tractebel Energia), que tem uma central eólica em Pedra do Sal, com capacidade geradora de 18 MW; a multinacional espanhola de energia renovável Gás Natural Fenosa, através da sua filial Global Power Generation, anunciou investimentos de aproximadamente R$ 313 milhões dos projetos nas usinas Sertão I e Sobral I, que serão desenvolvidos no Piauí.
“Claro, estes investimentos ao final são decisões do setor privado e não de governos, mas o panorama é esperançoso”, afirmou Claudia Gintersdorfer.
Claudia afirmou que entre os objetivos da visita da Missão de Vice-Embaixadores ao Piauí, que começa nesta sexta-feira e será encerrada no dia 27 de junho é intercambiar informações sobre possíveis áreas de interesse comum entre a União Europeia e o Piauí, dar visibilidade à Serra da Capivara e, além disso, divulgar informações sobre a Europa e as políticas europeias não só para o Governo do Estado, mas também para os estudantes, despertando o interesse deles sobre a União Europeia.
Participarão da visita, a vice-embaixadora da União Europeia, Claudia Gintersdorfer, acompanhada do Chefe do Setor de Cooperação, o Embaixador da Irlanda, a Embaixatriz da República Tcheca e os Vice-Embaixadoresda Alemanha, da Bélgica, da França, de Portugal e do Reino Unido.
Meio Norte - Qual o objetivo da missão de diplomatas no Piauí?
Claudia Gintersdorfer - Um grupo de Vice-Embaixadores da União Europeia e de seus Estados-Membros no Brasil visitará o Piauí entre os dias 23 e 27 de junho no intuito de conhecer o Estado e explorar oportunidades de cooperação. A viagem faz parte de um esforço da União Europeia e das Embaixadas, localizadas em Brasilia, para conhecer as realidades de um país tão grande e diverso como é o Brasil e para estabelecer contatos com as autoridades do Estado. Entre os objetivos da visita: intercambiar informações sobre possíveis áreas de interesse comum entre a União Europeia e o Piauí, dar visibilidade à Serra da Capivara e, além disso, divulgar informações sobre a Europa e as políticas europeias não só para o Governo do Estado, mas também para os estudantes, despertando o interesse deles sobre a União Europeia. O Governo do Estado do Piauí já tem realizado um importante esforço nos últimos anos para promover o Piauí no exterior. O governador visitou vários países europeus, incluindo Alemanha, França, Portugal e Itália, a fim de divulgar as oportunidades de investimentos e de dar visibilidade ao Parque Nacional da Serra da Capivara. Agora é a nossa vez de viajar ao Piauí para conhecer em primeira mão.
Meio Norte - Que interesse o Piauí desperta aos países da União Europeia?
Claudia Gintersdorfer - A União Europeia (UE) considera que o Piauí tem um potencial importante no setor de energias renováveis, na preservação da biodiversidade, do desenvolvimento socioeconômico e do turismo sustentáveis – temas onde a UE é pioneira. A parceria estratégica entre a União Europeia e o Brasil, que completa em 2017 o seu décimo aniversário, está baseada num compromisso compartilhado sobre temas como o desenvolvimento sustentável e na luta contra as mudanças climáticas. O Brasil e a UE são parceiros importantes em nível internacional na implementação da Agenda 2030 sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável e do histórico Acordo de Paris sobre o clima. A União Europeia e os seus Estados-Membros irão desempenhar o seu papel na aplicação do Acordo, tanto internamente como no plano internacional. Continuaremos a ser, como até agora, um dos principais financiadores da necessária transformação internacional.
Meio Norte - O Piauí tem atraído empresários europeus para investimentos na produção de energias eólica e solar, novos investimentos neste setor poderão ser feitos no Estado?
Claudia Gintersdorfer - A União Europeia lidera e incentiva o uso das energias limpas, como no caso da eólica e da solar, como parte do seu compromisso com a luta contra as mudanças climáticas. O compromisso da UE é de reduzir as nossas emissões em pelo menos 40% até 2030. As energias renováveis representaram 78% da capacidade total instalada na UE em 2014. Este setor emprega mais de 1,1 milhão de pessoas e as empresas europeias de energia renovável estão na vanguarda da inovação. Na UE sabemos que o futuro sustentável depende dessa transição para uma economia de baixo carbono e estamos prontos para compartilhar as nossas experiências com outras partes do mundo. O Piauí já conta com importantes investimentos europeus no setor de energias renováveis e com anúncios de novos investimentos recentes. Alguns exemplos são: a empresa italiana, Enel S.p.a. por meio da sua subsidiária Enel Green Power Brasil, que investe R$1 bilhão e começa a construir no Piauí a maior usina de energia solar da América Latina; a empresa franco-belga Engie (Tractebel Energia), que tem uma central eólica em Pedra do Sal, com capacidade geradora de 18 MW; a multinacional espanhola de energia renovável Gás Natural Fenosa, através da sua filial Global Power Generation, anunciou investimentos de aproximadamente R$ 313 milhões dos projetos nas usinas Sertão I e Sobral I, que serão desenvolvidos no Piauí. Claro, estes investimentos ao final são decisões do setor privado e não de governos, mas o panorama é esperançoso.
Meio Norte - Com o aumento do rigor da entrada de latinos americanos e cidadãos de outros países nos Estados Unidos, os países da Europa podem atrair mais turistas brasileiros?
Claudia Gintersdorfer - Os turistas brasileiros sempre são bem-vindos na Europa e sabemos que a Europa é um destino favorito para os brasileiros. Eles podem visitar os países europeus do espaço Schengen (O Acordo de Schengen é uma convenção entre países europeus sobre uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas entre os países signatários. Atualmente, o Espaço Schengen abrange 26 países europeus (22 dos quais são Estados Membros da União Europeia: Bélgica, República Checa, Dinamarca, Alemanha, Estónia, Grécia, Espanha, França, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Hungria, Malta, Países Baixos, Áustria, Polónia, Portugal, Eslovénia, Eslováquia, Finlândia e Suécia, assim como a Islândia, o Listenstaine, a Noruega e a Suíça), sem a necessidade da emissão prévia de vistos, permitindo uma permanência de até 90 dias num período de 180 dias. Isto claramente facilita o turismo para a Europa, comparado com outros países, como os Estados Unidos, onde o visto é obrigatório. Alem disso, os fluxos dos turistas dependem de outros fatores, incluindo a situação econômica do pais e a taxa de câmbio, o que vale dizer que uma desvalorização relativa do real encarece as viagens ao exterior.
Meio Norte - O que os países europeus estão fazendo para manter o mesmo fluxo de turistas brasileiros e de outros países no momento em que os ataques terroristas parecem ser cotidianos?
Claudia Gintersdorfer - Os ataques terroristas tem um impacto mediático importante, mas em termos de números não são significativos comparados com mortos por acidentes de trânsito, por exemplo. Segundo estadísticas da Organização Mundial do Turismo (OMT), os atos de terrorismo na Europa não afetaram o número de turistas que visitaram os países europeus: dentro dos 5 países mais visitados no mundo, 3 são europeus e, em dois deles, os números de turistas tem aumentado. As decisões dos turistas de viajar dependem mais de outros fatores como o valor da moeda ou a situação econômica. Países mais visitados por turistas Internacionais em 2015-2016
Meio Norte - Como os diplomatas europeus atuam em um Brasil que tem vivido um período de instabilidade política e econômica?
Claudia Gintersdorfer - Como diplomatas, somos observadores, e não atores, da política do país no qual estamos acreditados. Neste sentido, os últimos tempos têm sido turbulentos e às vezes difíceis no trabalho cotidiano por causa das incertezas e dos interlocutores em constante alteração. Mas também têm sido interessantes – não há espaço para o tédio. A União Europeia também tem passado por várias crises ao longo da sua história e nos últimos anos, mas muitas vezes estas crises foram estímulos para uma maior integração e para progressos em nosso desenvolvimento. Quero acreditar que seja assim desta vez, também no Brasil.
Meio Norte - A Missão vai conhecer o Parque Nacional Serra da Capivara com qual objetivo?
Claudia Gintersdorfer - A visita ao Parque Nacional da Serra da Capivara tem várias razões. Além do desejo dos diplomatas de conhecer este tesouro natural e arqueológico, mas ainda pouco conhecido e de difícil acesso, podem ser mencionados os seguintes objetivos: a A visita ao parque, declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, inscreve-se dentro do esforço da União Europeia para dar maior visibilidade à preservação do patrimônio cultural no contexto do ano 2018, que será o Ano Europeu do Patrimônio Cultural; entender melhor os planos de gestão do parque no futuro, com o intuito de identificar possibilidades de apoiar o seu desenvolvimento, conjuntamente com o Governo do Estado e outros órgãos responsáveis pela gestão do mesmo, nomeadamente a Fundação Museu do Homem Americano (FUNDHAM), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Iphan. Vale mencionar que o parque já contou com um apoio da União Europeia no passado. Entre outubro e dezembro de 2013, a Delegação da União Europeia no Brasil, em parceria com os Estados Membros, apoiou a organização da exposição "Serra da Capivara: os brasileiros de mais de 50 mil anos", no Espaço Israel Pinheiro, em Brasília. O evento contou com exposição museográfica, exposição e venda da cerâmica produzida pela fábrica da Serra da Capivara e ciclo de conferências organizado por várias instituições sobre arqueologia, turismo, gestão de áreas protegidas, gestão de patrimônio natural, inclusão produtiva de populações vizinhas, promoção da igualdade de gênero, entre outros. Atualmente, a França e a Alemanha estão somando esforços nas pesquisas arqueológicas na região.
Meio Norte - O Piauí tem chances de atrair turistas europeus? De que forma e usando quais estratégias?
Claudia Gintersdorfer - O litoral do Piauí e as praias já atraem turistas do mundo inteiro, principalmente esportistas que aproveitam os fortes ventos da região para a prática de kitesurf e esportes similares. Mas a região Sul do Estado, incluindo o Parque Nacional da Serra da Capivara, oferece um potencial turístico que ainda não está explorado, principalmente pela falta de infraestrutura, a dificuldade de acesso e a falta de visibilidade. Eu acho que o parque tem um potencial enorme: poderia atrair um público europeu interessado em turismo sustentável, ecoturismo, turismo cultural e arqueológico. De fato, já existem várias agências europeias de turismo especializadas em organizar viagens ao Nordeste do país e que poderiam estar interessadas em oferecer um roteiro para a Serra da Capivara. Os gestores do Parque também poderiam olhar para as experiências de turismo já existentes na Europa, como as visitas às pinturas pré-históricas das cavernas da França e da Espanha.