A Comissão Europeia aprovou nesta terça-feira (15) o uso do Lecanemab, o primeiro medicamento autorizado no continente que retarda a progressão do Alzheimer em estágios iniciais, em vez de apenas aliviar os sintomas. Desenvolvido pelas farmacêuticas Biogen e Eisai, o anticorpo monoclonal atua reduzindo a formação de placas de proteína amiloide no cérebro, um dos principais marcadores da doença degenerativa. No entanto, o tratamento não reverte os danos já causados pela enfermidade.
Aplicação restrita e cuidados com efeitos adversos
O Lecanemab será administrado por infusão a cada duas semanas e só poderá ser indicado a pacientes que estejam em estágio inicial da doença, com comprometimento cognitivo leve, e que apresentem no máximo uma cópia do gene ApoE4, já que essa variante genética está ligada a maiores riscos de efeitos colaterais como inchaços e hemorragias cerebrais. A decisão da Comissão Europeia se baseou em nova avaliação da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que reexaminou os riscos e benefícios do remédio.
Nos Estados Unidos, onde o medicamento é vendido como Leqembi, a aprovação ocorreu em 2023. Estudos apontaram que ele consegue retardar o declínio cognitivo por aproximadamente cinco meses.
Alzheimer ainda é um desafio global
Atualmente, 55 milhões de pessoas vivem com demência no mundo, sendo dois terços em países em desenvolvimento. A dificuldade no tratamento do Alzheimer está na complexidade dos mecanismos envolvidos na progressão da doença. Até recentemente, não se sabia exatamente por que o acúmulo de amiloides levava à morte dos neurônios.
Nova descoberta pode mudar o rumo da ciência
Um estudo publicado na revista Science em outubro de 2024 revelou um mecanismo inédito por trás da neurodegeneração causada pelo Alzheimer. Cientistas da Bélgica e Reino Unido identificaram que a formação das placas de amiloide ativa a produção da molécula MEG3, responsável por desencadear necroptose, um tipo de morte celular inflamatória. Quando os pesquisadores bloquearam a ação da MEG3 em testes com camundongos, os neurônios pararam de morrer.
“É a primeira vez que entendemos como os neurônios morrem no Alzheimer”, afirmou o neurocientista Bart De Strooper, um dos autores do estudo. A descoberta representa um avanço que pode permitir o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e direcionados, superando os resultados ainda limitados das terapias atuais.
O que vem pela frente
O Lecanemab deve estar disponível na Europa nos próximos meses, com treinamento específico para médicos e a criação de um sistema de monitoramento rigoroso para acompanhar os pacientes. Ao mesmo tempo, a descoberta do papel da MEG3 pode acelerar o surgimento de novas terapias que realmente interrompam a progressão da doença, oferecendo esperança para milhões de pessoas e famílias afetadas pelo Alzheimer.