Turismo excessivo em Barcelona revolta moradores e nova medida é tomada

A falta de educação de alguns viajantes fizeram muitos moradores sentirem quase uma aversão aos turistas.

Moradores rejeitam turistas em Barcelona | AFP
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Barcelona vive, há anos, o dilema de conciliar a recepção a turistas com o interesse de moradores de viver em uma cidade sossegada. Somente no ano passado, cerca de 10 milhões de pessoas visitaram a capital catalã, mas a falta de educação de alguns viajantes fizeram muitos moradores sentirem quase uma aversão aos turistas. E eles não escondem isso. Em pontos turísticos da cidade, os próprios moradores rabiscam frases com mensagens contra os visitantes: "Turista: sua viagem luxuosa – minha miséria diária" e "Vão para casa" são algumas que podem ser vistas. 

O último embate com os visitantes envolve um mirante que se tornou ponto turístico, mas agora está cercado por grades e só pode ser visitado em horários determinados. Propagado pelas redes sociais, mirante Turó de la Rovira ficou famoso e atrai muitos turistas diariamente, principalmente para apreciar o fim da tarde com um por do sol. Mas segundo publicação do Nossa Uol, vizinhos do bairro Carmel começaram a reclamar do barulho, da bebedeira, do lixo abandonado, dos ônibus que estão sempre cheios e dos turistas que não respeitam os horários de descanso de quem mora na região.

Pichação em pedra num ponto turístico de Barcelona diz 'Vão para casa' | foto: NurPhoto/NurPhoto via Getty Images

A prefeitura da cidade acabou cercando o topo do monumento e limitando os horários de visita na tentativa de ter maior controle sobre o local, que também tem importância histórica por ter servido de bunker e base de uma bateria antiaérea durante a Guerra Civil Espanhola, construída para defender a cidade dos bombardeios. Outras medidas também foram tomadas como a limitação de horário para visitação. O acesso, porém, continua sendo gratuito, pelo menos por enquanto. 

Conflitos 'atracam' pelo mar

Se por terra o problema é o mau comportamento do turista, soma-se a isso insatisfação quanto à grande contaminação provocada pelos transatlânticos. Na alta temporada, entre maio e setembro, a cidade chega a receber até 15 navios em um único fim de semana e as regiões turísticas como as ramblas (calçadão) ou a praia da Barceloneta ficam excessivamente lotadas nos dias que esses navios atracam. Para os ecologistas, a contaminação que esses transatlânticos causam é um fator a ser considerado. 

Além disso, muitos moradores não aprovam a grande quantidade de pessoas que invade o centro da cidade por apenas algumas horas e gastam pouco dinheiro. Com o hashtag "Stop Creurs" (Chega De Cruzeiros) e o lema "A cidade é de quem mora nela e não de quem a visita", um grupo de vizinhos luta para diminuir o número de cruzeiros que chegam a Barcelona e pedem um limite de acesso de turistas em determinadas áreas do centro. A medida já foi adotada em outras cidades europeias como Palma ou Dubrovnik, que limitaram o número de grandes navios que podem chegar ao mesmo tempo em um único dia aos seus portos.

Taxa aos visitantes

Desde 2012, a prefeitura cobra uma taxa diária do visitante, o que para alguns é um imposto polêmico. O valor depende do tipo de alojamento e da quantidade de horas que a pessoa fica na cidade. Quem se hospeda em um AirBnb, por exemplo, tem que pagar cinco euros por dia. Já o valor para quem fica alojado em um hotel cinco estrelas é de 6,25 euros (cerca de R$ 36). Para quem entra na cidade de cruzeiro, também há taxa: se passar menos de 12 horas tem que pagar 5,75 euros por dia (por volta de R$ 30). A prefeitura tem a expectativa de arrecadar cerca de 50 milhões de euros em 2023, recursos que serão investidos na manutenção e preservação de espaços turísticos de Barcelona.

Manual de Boas Práticas

Como ainda não há uma normativa que regule os grupos grandes de turistas, a prefeitura junto com guias de turismo criou um documento de boas práticas. Entre as sugestões, grupos guiados não devem ter mais do que 15 pessoas circulando juntas no centro e 30 em outras regiões de Barcelona. Na tentativa de conciliar uma boa convivência entre visitantes e moradores, o documento também pede que megafones não sejam utilizados nesse tipo de passeios e que 50% do espaço das calçadas fique livre para que os pedestres possam circular. 

Enquanto isso, associações de vizinhos de Barcelona continuam saindo às ruas para protestar e evitar que a sua cidade vire um parque temático. Eles não querem perder qualidade de vida nem a sua identidade, embora cerca de 12% do PIB da Catalunha venha do turismo.

Com informações do Nossa Uol

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