O cobrador de ônibus que aparece em um vídeo na internet quebrando o vidro do coletivo a cabeçadas diz ter alertado, antes do dia de fúria, a empresa 1001 de que estava doente. Há três meses, Rafael Santos Couto, de 26 anos, informou aos superiores que não se sentia bem. Por isso, procurou um médico e recebeu o diagnóstico de transtorno de ansiedade. Também apresentava sinais de síndrome do pânico, de acordo com diagnóstico feito por uma psiquiatra de Nova Iguaçu.
Apesar disso, Rafael continuou a ser escalado para trabalhar na linha que liga Charitas, em Niterói, à Praia de Ipanema, Zona Sul do Rio. Com os pedidos de afastamento ignorados, o rapaz passou a viver sob ainda mais pressão, até que, na última quarta-feira, nas proximidades do Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, discutiu com uma passageiras e ?perdeu o foco?.
- Apagou tudo. Não lembro daquele momento - disse ele.
Arrependido, Rafael cumpre licença de 15 dias e espera, agora, um novo exame para saber qual será o seu futuro.
Morador do Centro de Niterói, o cobrador mudou de vida radicalmente desde que as cenas foram gravadas por uma passageira do ônibus. Desde o fato, passou a viver com a mulher, Beatriz, de 20 anos, e a filha Maria Luíza, de 9 meses, na casa de um parente, na Zona Norte da capital. Ele, agora, quer deixar a poeira baixar.
- Não estou entrando na internet nem vendo TV.
O vídeo mostra a troca de ofensas entre o cobrador e uma das pessoas que viajavam no coletivo. A mulher queria saber onde ficava a parada, que mudou de local por causa do fechamento do Elevado da Perimetral. Rafael não soube informar, por - segundo ele - não ter sido alertado pela empresa nem pelas autoridades de trânsito.
- Você é um grande babaca recebendo e dando troco - chega a afirmar a mulher.
O ríspido diálogo anterior às cabeçadas aconteceu na primeira viagem do dia, pouco depois das 16h, mas o jovem funcionário já estava vivendo no limite do estresse. O cobrador está na função há três anos, e chega a passar 12 horas no trânsito do Rio.
- Ainda tem as virações. As escalas dobradas. A gente precisa de dinheiro. Passei 21 horas trabalhando direto - comenta o jovem, ao revelar ter sentido problemas físicos ao longo dos últimos meses, antes mesmo de ir ao médico e pedir um diagnóstico.
- Estava sofrendo muito. Ficando nervoso. Às vezes, ficava tudo escuro.
Como se não bastasse a dificuldade de encarar o tráfego diário em uma área com grandes mudanças de rota, Rafael observa ter sido prejudicado pelas escalas.
- Eu passei muito tempo às 4h da madrugada. Depois, me colocaram à tarde. Assim, não dá para programar nada. Não consigo fazer nada da vida.
O cobrador lamenta não ter trocado de função na empresa antes de ter perdido o controle, na quarta-feira. A empresa teria alegado ser impossível aceitar o pedido e não levou em conta as considerações apresentada pelo funcionário.
- Além de mostrar que eu precisava de uma mudança, mostrei o laudo. Infelizmente, a gente sofre cada vez mais. É muita pressão. Medo de assalto, acidente e de sofrer violência - declaro.
O EXTRA tentou ouvir a empresa 1001, mas foi comunicado por um funcionário, que estava na garagem às 12h20, que informações sobre o assunto só serão repassadas a partir desta segunda-feira, no horário comercial.