Três suspeitos de canibalismo em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, viraram réus pela morte de duas de suas vítimas, informou nesta terça-feira (15)o promotor de Justiça do caso, Itapuan Vasconcelos. Segundo o representante do Ministério Público, o trio confessou mais seis mortes no inquérito, que totalizariam nove vítimas.
De acordo com o MP, o trio responderá pelos crimes de duplo homicídio triplamente qualificado, falsidade ideológica, estelionato, ocultação de cadáver e falsificação de documentos. A denúncia foi recebida integralmente pelo juiz José Carlos Vasconcelos Filho, da 1ª Vara Criminal do município do Agreste, na quinta-feira (10), que também decretou a preventiva dos réus.
O crime foi descoberto em abril deste ano, quando a polícia encontrou os corpos enterrados no quintal dos acusados, que formavam um triângulo amoroso. Um homem e uma mulher de 52 anos, que seriam casados, e uma jovem de 25, estão presos. Ainda segundo a polícia, uma das suspeitas afirmou que vendia salgados com a carne das vítimas na região.
Investigações
Segundo o promotor de Justiça, que teve acesso aos autos dos inquéritos que investigam as três mortes confirmadas até o momento, os depoimentos dos suspeitos dão conta de que mais seis mulheres teriam sido mortas em três cidades. A Polícia Civil não confirma a informação.
?Eles confessaram essas seis mortes à polícia. Analisando o material do inquérito, contei o nome de seis mulheres e alguns endereços em Olinda, Paulista e no Recife. Requeremos ao juiz que tirasse algumas peças daquele inquérito para encaminhar às delegacias de cada cidade. O DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] está começando a investigar, deve ter aberto inquéritos policiais para cada homicídio?, afirmou o promotor.
Três inquéritos apuram o caso: uma vítima confirmada na Paraíba, duas confirmadas em Garanhuns, e um inquérito em Olinda, onde a polícia havia encontrado apenas ossadas, até o momento não identificadas.
?Relatamos como eles agiam. Eles atraíam as vítimas, apenas mulheres, com promessa de emprego ou para falar de Deus. A primeira vítima, aqui em Garanhuns, foi atraída para pregar a palavra de Deus e quando estava na casa dos suspeitos conversando, o homem saiu de trás da residência e desferiu um golpe grande nela. Ele cortou o pescoço dela, levaram para o banheiro e esquartejaram. Eles também ingeriram a carne dela?, afirma o promotor sobre a denúncia.
Ainda conforme Vasconcelos, a segunda vítima foi atraída com promessa de emprego. O trio teria informado que fazia parte de uma seita, chamada Cartel, e que uma entidade os dizia qual pessoa tinham de matar, as consideradas impuras.
Já sobre a menina de cinco anos que teria presenciado os crimes, vivendo com os acusados, o promotor afirma que o caso ainda é investigado. ?Eles teriam matado essa mulher que era pedinte [em Olinda] e ficado com a criança. A menina tem dois registros de nascimento falsos. O primeiro foi registrado na Paraíba, no Conde, com o nome do irmão do réu. Uma das suspeitas assumiu a identidade da vítima, tirou carteira de identidade, cartão de crédito, tudo?, diz o promotor.
Inimputáveis
O promotor avalia também que a tese de inimputabilidade deverá ser utilizada em um possível júri popular. ?Isso significa que eles não podem ser responsabilizados por esses crimes por possível doença mental. É provável que o processo gire em torno dessa tese de que eles não teriam conhecimento da ilicitude do fato e não poderiam se determinar de acordo com esse entendimento. Vamos ver a postura que vai se adotar?, comentou. ?Por outro lado, eles fizeram compras com o cartão de uma das vítimas, assinavam por ela. A gente se pergunta se eles realmente não tinham consciência do fato.?
Com relação à suspeita de que as carnes das vítimas seriam usadas para fazer salgados que seriam vendidos na cidade, o promotor diz que parece mais uma lenda. ?Não tiro a possibilidade, mas também não tem como provar. No inquérito tem uma pergunta que foi feita ao homem: se eles utilizavam as carnes nas coxinhas. Ele disse que se elas [as suspeitas] fizeram isso não tinham autorização para tanto, elas sabiam que era para o consumo em casa. Eles tratavam isso como missão, como ritual. A gente não tem como provar, nos autos, especificamente, em termo de depoimento, eles não falaram nada. Se não me engano, uma das mulheres disse isso em uma entrevista?, finalizou.