A realidade das travestis no Brasil muitas vezes é associada a prostituição, uso de drogas, criminalidade e suicídio.A presença delas em ambientes acadêmico e corporativo, é fundamental para garantir a representatividade do grupo na sociedade como um todo.
Nesta semana, uma travesti de São Paulo deu um passo importante na inclusão de trans no ensino superior.
A travesti Amanda Palha de 28 anos, foi aprovada em primeiro lugar pelo Sisu no curso de Serviço Social da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Em entrevista ela confessa que nunca pensou em fazer faculdade: "Eu não via muito sentido em fazer uma faculdade, a gente sabe que o mercado de trabalho é fechado para gente, independente de ser formada ou não. Mas passei e vou dar o meu melhor, quero mostrar para todo mundo que uma travesti pode sem ter uma carreira de sucesso."
Amanda concluiu o ensino médio e logo em seguida conseguiu um emprego na área de serviço social em São Paulo. Ela ajudava pessoas em situação de rua, percebeu que era naquilo que gostaria de seguir.
"Foi a primeira vez que uma carreira que me fez falar, 'nossa, para isso eu estudaria. Me daria tesão para fazer uma faculdade'. Isso foi fundamental", explica.
"Nos últimos três anos, comecei a prestar o vestibular, mas me esforçando mesmo, sem muito sucesso. Até passei para a segunda fase da Fuvest no ano passado, mas acabei tendo uma crise de pânico e não fui fazer a prova."
Também em 2015, Amanda fez um curso de formação política que foi essencial para fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), prova que permite concorrer a vagas pelo Sisu.
"Os estudos de gênero carecem de uma perspectiva contemporânea das questões de transexualidades e travestilidade. Desenvolver esse conteúdo pode ser muito benéfico para que a gente possa pensar a situação política dessa população de outra forma. E na atuação profissional de fato, porque a gente sabe que transexuais são parte significativa da população de rua. A atuação profissional de assistentes sociais bem preparados para lidar com a questão é fundamental. Isso faz um diferencial gigante."
Amanda não chegou a usar o nome social na inscrição para o Enem, mas isso não foi impeditivo de ser tratada pelo nome social e gênero correto enquanto a prova era aplicada.
Para Amanda, sua aprovação no vestibular não é exatamente uma vitória ampla – é mais pontual, um início de trajeto.