O Quadrado é o centro de Trancoso, com restaurantes, pousadas e bares. Crédito: Amanda Costa/MTUR
Trancoso é um dos destinos mais charmosos e sofisticados da Bahia e, também, um dos mais procurados do litoral baiano. Reúne, ao mesmo tempo, belezas naturais, com praias e vegetação, história, cultura e religiosidade. É um destino para todos os gostos. Localizada na região sul da Bahia, a vila de Trancoso integra a rota estratégica do Descobrimento, ao lado de Arraial d´Ajuda e Caraíva – todas elas distritos de Porto Seguro. Completa este roteiro o município de Santa Cruz Cabrália. Foi nesta região que Pedro Álvares Cabral desembarcou, em 1500.
Para chegar à vila, o aeroporto mais próximo é o de Porto Seguro. Saindo de lá, é possível seguir até o Distrito pela BR-367 de carro ou pela travessia de balsa de Porto Seguro a Arraial d´Ajuda, que encurta o trajeto até Trancoso.
O Quadrado, como é conhecida a praça principal, é o coração da vila. Dia e noite moradores e turistas circulam pelo gramado, rodeado por árvores centenárias e antigas casinhas coloridas, que se transformaram em pousadas, lojas, restaurantes e bares.
Na extremidade do Quadrado está a Igreja de São João Batista, mais conhecida como “Igrejinha do Quadrado”, e onde muitos casamentos são realizados até hoje. É uma das igrejas mais antigas do País e um dos principais cartões-postais de Trancoso – construída entre 1815 e 1817 com pedras de arrecifes e um reboco comum na região que utilizava areia, óleo de baleia e água doce.
Atrás da igreja está um mirante com vista privilegiada para a praia dos Nativos, que é a mais movimentada da vila. É lá também que o rio Trancoso deságua, formando lagoas de águas quentes. Pelo Quadrado é possível acessar a praia com uma caminhada de cerca de 10 minutos. A vila também conta com outras praias, como a dos Coqueiros, com recifes e, claro, coqueirais.
A partir de Trancoso, também é possível acessar outras praias da redondeza, como a de Taípe, famosa por abrigar falésias de cerca de 40 metros de altura em tons avermelhados, e a praia do Espelho, considerada por muitos uma das mais belas do País.
Principal atividade econômica da vila, o turismo foi diretamente impactado pelas restrições impostas pela pandemia de Covid-19. O fechamento de atividades turísticas em geral afetou hospedagem e passeios, assim como o funcionamento de restaurantes lanchonetes, bares, barracas de praia e casas de aluguel para temporada.
A partir de julho, o distrito, assim como toda a região de Porto Seguro iniciou a reabertura gradual das atividades, seguindo todos os protocolos de biossegurança necessários contra a doença.
Em todo o município, 340 selos Turismo Responsável foram emitidos para setores como meios de hospedagem, guias, agências de turismo e restaurantes. Trata-se de um programa do Ministério do Turismo que estabelece boas práticas de higienização para 15 segmentos do setor, conferindo mais segurança aos turistas.
A professora aposentada Sonia Torres, de Arcos (MG), não viajava há sete meses e escolheu Porto Seguro para passar férias em família, visitando Trancoso e Arraial d´Ajuda. “Este é um lugar paradisíaco. Quem nasceu e mora aqui é privilegiado”, comentou sobre Trancoso. “Estamos tomando os devidos cuidados. Lavo as mãos sempre, passo álcool em gel e sempre com máscara”, disse.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Trancoso entrou na rota do turismo brasileiro a partir da década de 70, impulsionado, entre outros grupos, por hippies em busca de maior contato com a natureza. “A chegada dos hippies acaba trazendo outras pessoas e começa o boom turístico em Porto Seguro, com a descoberta do litoral, estimulados também pela abertura da BR-367”, conta o historiador e arqueólogo Tadeu Cardoso, que estuda e atua na região há 22 anos.
Nesta época, muitas comunidades tradicionais começaram a vender suas casas, principalmente no Quadrado, para pessoas que vinham de fora. “Alguns começaram a fazer marmitas ou lanches para quem vinha da praia”, conta Cardoso, ao destacar que até hoje o Quadrado abriga alguns residentes antigos, que começaram a tirar do turismo a sua renda.
Mas a história de Trancoso é bem mais antiga. Quando os portugueses desembarcaram no Brasil, era uma aldeia tupi. Ainda no século XVI os Jesuítas se estabeleceram na região para catequização dos indígenas que ali viviam e estabeleceram a Aldeia de São João, que contava com uma biblioteca de suporte à evangelização. Em 1760, a aldeia foi elevada a condição de Vila de São João.
Mais tarde, em 1760, após desentendimentos com o político e diplomata Marques de Pombal, os jesuítas deixam a vila, que tinha cerca de 500 índios na época. O convento dos padres jesuítas foi demolido e a biblioteca destruída. Mais tarde, entre 1815 e 1817, a Igreja de São João Batista foi erguida, utilizando as bases da biblioteca e até hoje permanece no Quadrado.
FESTAS POPULARES
Uma das festas mais tradicionais da cidade e que movimentam o turismo local são celebrações religiosas: de São Sebastião (20 de janeiro), de São Brás (3 de fevereiro) e do padroeiro da Paróquia, São João Batista, (25 de junho) – todas com grande participação popular. Atualmente, há três mastros coloridos fincados em frente à igreja, cada um homenageia um dos três santos. Anualmente, na data destas celebrações, os mastros são trocados por novos, sendo que a pintura deles e das bandeiras é produzida por artistas locais.
O frei Romão, que administra a igreja, conta que as três festas são públicas, têm almoço grátis para todo mundo, procissão, missa e levantamento do mastro, começando no dia anterior à celebração. “São 24h sem parar de festa. Começa com o samba de coro dos nativos por volta das 20h. Depois o show artístico, que vai até 5h. Então, todo mundo desce para buscar o mastro, que já está pintado. Tem um café servido para todo mundo que os festeiros providenciam. Enquanto isso, na Casa das Festas, estão ali 20 a 30 mulheres para cuidar do almoço, que é gratuito para todo mundo. Turista não paga almoço nestes dias”, assegura.
Na sequência, às 16h, é realizada a missa. Depois vêm a procissão e uma cerimônia que reúne canto, tambores e dança quando é indicada a escolha dos festeiros que organizarão a festividade no ano seguinte. Só então o mastro é levantado.
Frei Romão durante a celebração da Festa de São Brás no ano passado. Crédito: divulgação Paróquia
A próxima celebração é a de São Sebastião, cuja origem remonta de dois séculos atrás e está mantida, com algumas adaptações por conta da Covid-19. “Por exemplo, o levantamento do mastro não vai ser com o povo, será com um grupo restrito às famílias. Mas o almoço, como é feita a marmita e entregue na mão, será para todo mundo”, destaca o frei.
Diante de toda riqueza natural, cultural, artística e histórica, fica difícil dizer não a Trancoso. “Viaje com responsabilidade e redescubra o Brasil. Este é o convite que faço aos brasileiros. O turismo do nosso país está preparado para receber a todos os turistas”, destaca o ministro Marcelo Álvaro Antônio que, nesta semana, apresentou Trancoso ao secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), Zurab Pololikashvili, com visita a atrativos e uma série de reuniões para promoção do destino. (Por Amanda Costa/MTur)