Até então protagonizada por estudantes, as manifestações desta quinta-fera serão marcadas pela presença da classe trabalhadora. O CSP- Conlutas e demais entidades nacionais que compõem o Espaço de Unidade de Ação (Anel, Sinasef, Condsef etc) estão convocando sindicatos, movimentos populares e estudantis, em todo país, para construção do chamado ?Dia Nacional de Luta?, que acontece hoje às 15:00 na Praça da Liberdade, próxima do IFPI.
A trajetória da manifestação pretende percorrer a Avenida Frei Serafim e alguns pontos estratégicos, como as sedes do governo estadual e municipal.
O ato reivindica, de um modo geral, mais recursos para educação e saúde, bem como a redução de tarifas e melhoria da qualidade do transporte público, implantação do passe livre para estudantes e desempregados e também congelamento dos preços de alimentos e tarifas públicas. Além dessas pautas mais abrangentes, o movimento também pretende organizar possíveis paralisações, greves ou ações mais específicas voltadas ao que considerarem mais adequado à situação concreta de cada categoria, cidade ou região.
De acordo com o militante do PSTU e presidente da ADCESP (Associação de Docentes da Universidade Estadual do Piauí), o docente Daniel Solon, as reivindicações dos sindicatos se concentram em melhorias salariais e redução da jornada de trabalho. Na UESPI, por exemplo, ele reclama por mais verbas e pela contratação de professores efetivos.
O professor ressalta que a importância desse ato consiste na presença maciça de trabalhadores e seus sindicatos nas ruas. Ele defende que os estudantes não exercerão um papel secundário, mas sim de fortalecimento desta luta, que para ele é uma preparação para uma luta maior programada para o dia 11 de julho.
Sobre os jovens contrários à presença de bandeiras e partidos, ele explica que isso advém da decepção dos mesmos com os atuais partidos que estão no poder. Para evitar maiores discussões com este grupo, ele propõe um diálogo de forma tranquila que esclareça que a democracia é feita de partidos. ?As pessoas têm o direito de se filiar e participar das lutas.
O que nós vamos dizer a essas pessoas é que o inimigo é o governo e não quem está na luta historicamente?, declara Militante do Movimento de Mulheres em Luta (MML) e da base do SINDSERM (Sindicato dos(as) Servidore(as) Públicos Municipais de Teresina), Letícia Campos, viajou de manhã para participar das manifestações em São Paulo.
Ela afirma que o MML exerce um importante trabalho de formação e conscientização nas bases sindicais com objetivo de combater o machismo, que é a principal bandeira da entidade e será levada às ruas nacionalmente. ?Somos mais de 50% da classe trabalhadora. Então a necessidade de estarmos constantemente organizadas serve para lutar por avanços para categoria?, afirma.
Com exceção do DNIT, que está em greve desde terça-feira, não há indicativos nem deflagração de greves e paralisações de outros órgãos.
Protesto esvaziado
Sem a força das primeiras manifestações de rua em Teresina, que reuniram milhares de estudantes e trabalhadores, um protesto realizado ontem no centro de Teresina só conseguiu atrair cerca de 200 pessoas, que não tiveram o apoio dos pedestres que passavam, mas foi ordeiro e pacífico em sua maior parte. Como sempre, um pequeno grupo radicalizou e destruiu lixeiras ao longo da Rua Senador Teodoro Pachêco, além de atacar portas de lojas com chutes e invadir o estacionamento do Hiper Bom Preço da Avenida Frei Serafim.
Os manifestantes começaram o ato na Avenida Frei Serafim, seguiram pela Avenida Miguel Rosa e depois retornaram pela Rua Coelho de Rezende. Em seguida, pararam na frente do Palácio de Karnak e atravessaram a Praça Pedro II, indo pela Rua Senador Teodoro Pachêco até a Avenida Maranhão, onde uma parte se dispersou.
Eles destruíram lixeiras no centro e interromperam o tráfego diversas vezes. Já no início da noite, um pequeno grupo tentou danificar equipamentos no estacionamento do Hiper Bom Preço e entrou em confronto direto com a Polícia Militar. Quatro pessoas foram detidas por danificar o patrimônio privado e um ficou ferido.
Reunião na OAB discute violência em manifestações
Ministério Público Estadual, OAB-PI, Defensoria Pública do Estado do Piauí e outras entidades de movimentos sociais se reuniram na manhã de ontem, quarta-feira(26), na sala do Conselho da OAB, para discutir os excessos cometidos pela repressão policial a manifestantes nos protestos que vêm ocorrendo em Teresina, especificamente nos dias 21 e 24 de junho, onde os confrontos foram mais intensos.
Representando a Defensoria Pública do Estado do Piauí, Igor Sampaio relata que as principais denúncias apresentadas foram a não identificação dos policiais do Batalhão de Choque, a forma com que a Polícia Civil está conduzindo as apreensões e a fixação exorbitante de fianças. ?O instituto da fiança não pode ser descaracterizado como tentativa de evitar que as manifestações continuem. A maioria dos manifestantes presos são vulneráveis economicamente?.
Raimundo Oliveira, advogado dos manifestantes que foram presos na segunda-feira (24) à noite, confirma que as fianças eram bastante desproporcionais com a classe social dos manifestantes, que sofreram maus-tratos.
?O mais grave é que apesar de haver manifestantes de todas as classes sociais, infelizmente só os mais miseráveis da sociedade, os mais pobres estão sendo presos. Nenhum dos meninos que estavam lá eram bandidos ou vândalos? alerta, ressaltando que os jovens apreendidos encontravam-se algemados e com hematomas.
O advogado do DCE-UFPI, Álvaro Dias, afirma que a repressão policial que aconteceu na segunda não é nenhuma novidade e adverte que é preciso muito cuidado com o discurso que criminaliza estudantes como vândalos.