Os conhecidos versos do poeta Manuel Bandeira, trazem à tona uma das imagens mais degradantes que se pode presenciar: o árduo e arriscado trabalho de um catador de lixo.
Estes homens quase destituídos de cidadania são empurrados pelo nosso sistema de desigualdade e mazelas a sociais à situação deplorável nos lixões, que têm dias contados para acabar de acordo com a Lei 12.305, que versa sobre Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A Lei estipula que até 02 de agosto todos os municípios devem entregar plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, assinalando destinação correta para o lixo no município. O plano teresinense ainda está sendo elaborado.
O desafio é grande, pois a capital possui 101 pontos de coleta irregular, ou seja, 101 pequenos lixões, espalhados em terrenos baldios que vão na contramão do desenvolvimento.
Em média, são coletados por mês cerca de 8,7 mil toneladas de resíduos que são lançados aleatoriamente nas ruas, avenidas, praças e em outros logradouros públicos. Para fazer esse trabalho de limpeza, a Prefeitura gasta cerca de R$ 222 mil mensais.
Uma das metas do plano é a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. Em nossa cidade isso se faz emergencial, pois em vários lixões e no próprio aterro sanitário as condições de trabalho são absolutamente insalubres e desumanas.
Envergonhado com a precariedade do trabalho que executa em um lixão no Distrito Industrial, zona Sul da cidade, Cláudio aceita falar apenas o primeiro nome.
Cabisbaixo e de poucas palavras, ele convive com moscas, gatos, cachorros e demais bichos em um lixão fétido, onde está exposto à contaminação de uma série de doenças.
A sobrevivência de Cláudio depende daquilo que ele consegue no lixão. A renda dele oscila entre R$ 100,00 e R$ 200,00. É instável, pois depende dos matérias que ele encontra lá, tais como plástico, ferro, alumínio dentre outros que ele vende em sucatas e pontos de reciclagem. Ele trabalha sem máscara, sem luva, sem especificação técnica que o proteja das muitas impurezas do local.
Sua alimentação também é conseguida no lixo. Ele afirma que já encontrou pedaços de carne arroz, feijão, macarrão. Nem sempre esses alimentos se encontram em boas condições, mas ele conta que geralmente sim e ainda que não a necessidade às vezes obriga que sejam consumidos de qualquer maneira para que a fome seja saciada.
Neste lixão em que Cláudio trabalha existem outros companheiros que fazem o mesmo trabalho e compartilham a mesma rotina, Alguns até dormem por ali. Teresina está repleta de outros lixões.
Com catadores ou não, mas às vezes em situações piores com alagamento ou até mesmo com incêndio em pleno sol dos trópicos. Teresina já possui aterro sanitário, contudo ele ainda precisa passar por mudanças para se adequar a lei e ainda assim não consegue absorver toda a demanda e os lixões se multiplicam pela cidade.