Ainda é comum a ocorrência de queimadas e incêndios florestais no Piauí durante o B-R-O-Bró, época mais quente do ano, sobretudo por fatores climáticos (ventos e calor) e pelo uso indiscriminado do fogo. De acordo com dados do Inpe – Instituto de Pesquisas Espaciais do Estado do Piauí, no mês de agosto, o Piauí ocupou a 9ª colocação no Brasil e a 3ª posição no Nordeste no ranking de focos de queimadas por estado no Brasil.
O sistema de monitoramento do Inpe também mostra que os biomas do cerrado e da caatinga são os mais atingidos pelos focos de queimadas no Piauí nos últimos dias.
O Geógrafo e Doutor em Geografia Emanuel Lindemberg, destaca que as queimadas correspondem a uma técnica, mesmo que predatória e rudimentar, de preparo do solo, que utiliza a aplicação do fogo para a limpeza do terreno. No entanto, quando se propaga para categoria de incêndios florestais, as queimadas causam severos danos ao meio ambiente.
Espécies vegetais
“O fogo quando se alastra sem controle tende a queimar as espécies vegetais, podendo causar a morte e até mesmo a extinção de algumas espécies. Os animais que não conseguem escapar da linha de fogo e acabam morrendo”, esclarece o professor do Curso de Geografia da UFPI.
Diversos focos de incêndio foram registrados no município de São Raimundo Nonato (534 km de Teresina), desde a terça-feira, 7 de setembro, que ameaçou atingir residências da região e até mesmo o Parque Nacional da Serra da Capivara. A situação gerou uma verdadeira operação dos moradores e da gestão local na contingência dos incêndios. Imagens divulgadas pelo jornalista e repórter fotográfico André Pessoa, mostram a proporção que as chamas tomaram na região.
A Prefeitura de São Raimundo Nonato, com o apoio da Brigada do PrevFogo do ICMBio e Corpo de Bombeiros, realizou uma mobilização de maquinários das cidades circunvizinhas, para a realização de aceiros, a fim de evitar o prolongamento e controle do fogo e para facilitar o acesso dos carros pipa aos focos.
Perda da cobertura vegetal local
Emanuel Lindemberg ressalta que mesmo sendo uma técnica secular que os agricultores utilizam no preparo de sua terra para o plantio, as queimadas tendem a empobrecer o solo, particularmente com a perda de micro-organismos e nutrientes.
“Podemos elencar alguns impactos mais expressivo, tais como: perda da cobertura vegetal, sendo que com o solo exposto há uma tendência da intensificação dos processos erosivos; a diminuição da biodiversidade, tendo em vista que o ambiente é um todo integrado e harmônico; Tem potencial das cinzas, quando em grande quantidade, poluir os nossos rios e lagos; tornar o ar com mais partículas em suspensão, prejudicando a respiração; pode causar a perda do patrimônio público e privado”, afirmou.
Perda
Ainda de acordo com o professor doutor, as consequências podem estar associadas a perda do patrimônio genético, bem como a extinção de espécies endêmicas, seja animal ou vegetal. “As cinzas têm potencial, quando em grandes quantidades, poluem rios, riachos, açudes e lagoas. As queimadas tendem a poluir o ar, particularmente nas áreas urbanas, e podem causar sérios danos à saúde humana, como irritação nos olhos e doenças respiratórias”, pontuou.
Nas cidades as queimadas, geralmente, ocorrem de forma criminosa ou acidental como, por exemplo, quando uma pessoa joga pontas de cigarros em terrenos baldios. Algumas pessoas também utilizam o fogo na queima de lixo doméstico e limpeza de lotes baldios e com os ventos fortes, comuns nesta época do ano, as chamas se espalham causando danos ao meio ambiente e até às redes elétrica e telefônica.(W.B)
Prejuízo ao meio ambiente e a saúde
No Piauí, segundo a Secretaria do Meio Ambiente, 100% dos incêndios têm relação direta com as ações tradicionais da população, como a queima do lixo e as atividades econômicas como a extração do mel e queima do terreno pelo pequeno agricultor.
Segundo a bióloga e doutora em Sistemas Costeiros e Oceânicos, Georgia Aragão, a nível global as queimadas podem ter relação com mudanças climáticas, aquecimento global, perda de biodiversidade, alterações na dinâmica dos ecossistemas, bem na diversos tipos de agricultura. A fumaça e a fuligem também causam problemas. Diminuem a qualidade do ar provocando doenças respiratórias.
Fumaça
“O grau e quantidade de elementos tóxicos presentes nas fumaças, como o carbono e enxofre, afetam o organismo humano a curto e longo prazo, provocando infecções do sistema respiratório, vermelhidão e alergia na pele, irritação dos olhos e garganta, asma, conjuntivite, bronquite, tosse, falta de ar e tantas outras doenças”, enfatizou.
Para Georgia Aragão, a solução que buscam com as queimadas é momentânea, a longo prazo o efeito é contrário e aquela área precisará ser abandonada por falta de potencial para agricultura. “Queimadas para plantio só com autorização, nos casos de preparação do solo para o plantio, queimadas controladas devem ser previamente autorizadas pelo Corpo de Bombeiros e Secretaria de Estado do Meio Ambiente, quais devem ser monitoradas para evitar espalhamento do fogo”, avalia.(W.B)