Na noite de segunda-feira (1), o grupo de ativistas do Anonymous no Brasil vazou supostos documentos de cidadãos ligados a Jair Bolsonaro, com informações do próprio presidente, sua família e assessores — os dados não foram confirmados por todos, mas as reclamações e os pedidos de investigação levam a crer que sim.
Nos Estados Unidos, o mesmo grupo lançou um vídeo em protesto contra o assassinato de George Floyd por um policial da cidade de Minneapolis. O evento desencadeou uma onda de protestos no país. Segundo o vídeo, o Anonymous teria provas de outras mortes violentas contra negros e iria expor dados sobre o tema.
O nome Anonymous não é novo, mas retomou projeção no Brasil diante dos dois eventos citados. Contudo, afinal, quem são as pessoas por trás desses movimentos?
Anônimos
O grupo é uma união de membros decentralizados, sem que haja uma liderança vertical. Por este motivo, eles conseguem se manter anônimos e, também por isso, é difícil precisar o ponto inicial do movimento.
O que se sabe é que o Anonymous nasceu do fórum 4Chan, antes mesmo de o espaço de tornar um reduto da ultradireita (atualmente, o grupo nega abertamente relação com o 4Chan).
A primeira ação notória do Anonymous data de 2008, no caso contra a Cientologia. Na época, ativistas vazaram um vídeo interno dos cientologistas, apresentado por Tom Cruise. Advogados da religião entraram com ações judiciais para derrubar os conteúdos vazados, o que motivou o grupo a espalhar o vídeo em vários sites pela internet.
Desde então, células do Anonymous se organizam para lutar contra ações que ferem direitos humanos e liberdade. Em 2010, por exemplo, colaborou para quebra da censura durante a Primavera Árabe em países do Oriente Médio e norte da África.
Em 2017, após a passeata neonazista de Charlottesville, nos Estados Unidos, outra célula do grupo também postou vídeos recriminando a ação e vazando documentos pessoais dos envolvidos.
Para mostrar a união, o grupo passou a se identificar com a máscara inspirada no filme V de Vingança, em homenagem ao soldado histórico Guy Fawkes.
Como age o Anonymous?
O Anonymous atua de duas formas distintas. A primeira com os ataques chamados de DDoS, sigla inglesa que significa ataque de negação de serviço. Na prática, isso significa criar uma situação no servidor de um site para sobrecarregar o sistema, e retirar a plataforma do ar. Por exemplo, no caso de Minnesota, o site da polícia local foi derrubado por este mesmo processo.
Outro movimento dos ativistas é vazar informações dos adversários. Aqui, basicamente eles se aproveitam de falhas de segurança e coletam dados sensíveis dos oponentes e divulgam de forma pulverizada na rede. Assim, torna difícil identificar o caminho do vazamento. Foi este o processo relacionado ao vazamento de dados do presidente brasileiro.
Como fazer parte?
Como um grupo pulverizado e sem um líder único, não há também uma forma de participação oficial ao Anonymous. Um integrante se alia ao movimento apenas ao concordar com as ideias e modos de agir, com ataques e vazamento de informações.
Também por conta disso, não há uma entidade única do Anonymous. Por isso, a utilização do termo células para diferenciar a atuação de grupos no Brasil, Estados Unidos e outros países.
Embora o Anonymous defenda a ideia de que atua em favor de liberdades individuais e contra preconceitos, a falta de uma centralização também cria ações consideradas dúbias. Por exemplo, na década de 2010, há uma série de ações como a invasão de sites de combate à epilepsia para inclusão de GIFs supercoloridos, causando ataques epiléticos em visitantes.
No Brasil, também é difícil identificar os movimentos, com mais de uma centena de páginas em redes sociais com o nome Anonymous, mas compartilham ideais parecidos. Por exemplo, a página AnonymousBr4sil demonstrou seu apoio a movimentos conservadores e foi atacada por outros grupos Anonymous no Brasil, por divergir da proposta.
O grupo que assumiu a responsabilidade pelos ataques e vazamentos contra Bolsonaro é o AnonymousBrasil. A conta, contudo, foi suspensa pelo Twitter, mas outros grupos mantêm o compartilhamento dos dados.