Até pouco tempo atrás, quando ouvíamos as palavras biografia ou autobiografia, a primeira, e mais provável, associação que fazíamos era com um livro. Mas hoje, quando a máxima ?uma imagem vale mais que mil palavras? se mostra tão coerente com o momento em que vivemos, a história pode ser diferente. A sua história, a minha, a história daquele personagem ou de uma celebridade podem ser contadas através de fotos. Como já fazem milhões de usuários do Instagram. O que suas fotos no Instagram contam sobre você?
Há poucos dias o Facebook anunciou mudanças no seu feed de notícias, dando maior destaque para as imagens. Entre os aplicativos para smartphones faz sucesso o Vine, uma rede de compartilhamento de vídeos de seis segundos, logo comprado pelo Twitter assim que começou a fazer sucesso entre os usuários. Se você achava difícil dizer algo em 140 caracteres, experimente seis segundos. Dois exemplos recentes que mostram como as imagens ganham mais relevância, especialmente nas nossas interações pela Internet e no uso das novas tecnologias digitais.
Claro, uma biografia não se faz apenas com uma dezena ou centena de imagens numa rede social. Tampouco dá pra contar a história de uma vida com alguns meses de uso de um aplicativo como o Instagram. Quando líamos uma biografia em um livro, usávamos as palavras para viajar, imaginar, para nos levar para dentro da história. Mas, hoje, um conjunto de imagens também poderia cumprir esse papel. A diferença é que quanto menos palavras, mais diversas podem ser as interpretações dos leitores. Além disso, nessa rede social, leitor é sinônimo de seguidor e ele não mais apenas lê a história, ele pode interagir com o narrador/autor dela.
Em uma biografia em formato de livro, o texto auxilia, entre outras coisas, a apresentar em detalhes seu personagem, o contexto, suas ideias, preferências, experiências, opiniões etc. Uma foto no Instagram mostra o personagem e uma reduzida legenda que tenta explicar onde está, o que está acontecendo, o que fez ou algo que queira dizer. O leitor-seguidor não está obrigado a seguir uma ordem cronológica da história ou buscar uma lógica que faça algum sentido entre as imagens. Ele passa pelas fotos no Instagram da maneira que quiser, quando quiser, em sua ordem preferida e viaja na imaginação, interpreta cada foto como um fato. Fato esse que pode ser diferente para mim, para você, para nossos amigos, para milhares de usuários. E assim vamos contando diferentes histórias em cima de histórias.
Ninguém ? ainda não conheci nenhuma pessoa ? entra no Instagram somente com o objetivo de contar sua história, escrever sua biografia. Talvez ninguém pense dessa forma. O mais legal é compartilhar fotos bacanas, em lugares legais, viagens, restaurantes, amigos, preferencialmente em momentos felizes. Mas se você pedir para um estranho olhar agora suas fotos e dizer o que ele viu, o que você imagina que ele vai contar? Você ficaria surpreso se ele dissesse alguma coisa muito diferente daquilo que você pensou em mostrar quando publicou suas fotos?
Isso deve ser muito comum com celebridades. Como o aplicativo é uma ferramenta de uso pessoal, já que fica no seu celular, não é administrado por um empresário, nem conta com o auxílio de uma assessoria de imprensa para ajudar a celebridade com o que dizer ou como dizer, elas costumam publicar fotos de momentos íntimos, às vezes indiscretos, encontros com amigos, partes da casa em que vivem e muitas outras situações. Você gosta muito daquele cantor, mas não curtiu a decoração da sala da casa dele que viu no Instagram. Então, de alguma forma, você começa a considerar que aquela decoração pode fazer dele uma pessoa nem tão legal como você imaginava. Ou ainda: você segue seu ator preferido, mas depois de um tempo começa a achar que ele é narcisista demais porque só publica fotos dele o tempo todo, sempre com caras, bocas e poses, na maioria das vezes na frente do espelho. E em poucos minutos o encanto se vai. Nessas situações, os personagens não narraram uma história para você. Foi você mesmo que criou essas histórias a partir do que viu. E tirou suas conclusões. Para bem ou para o mal.
O mais interessante na Internet são as finalidades diversas que podemos criar para as ferramentas, aplicativos, sites de redes sociais. Restringir o tipo de uso ou ditar regras de comportamento não é legal. Cada um usa do seu jeito e disso nascem ideias originais, novas ferramentas e até transformações no nosso comportamento. Portanto, cada um faz do seu perfil no Instagram o que mais gosta: álbum de fotos pessoais, catálogo de modas, encarte de artesanato, book de modelos, making of da sua vida etc. Mas como tudo que cai na rede pode ficar lá para sempre e receber diversas outras interpretações, que história você quer contar para a posteridade com suas fotos?