Sucesso em todo o Brasil, aplicativos que promovem encontros amorosos são arma também dos brasilienses. Na capital das solteiras, segundo pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a tecnologia é uma grande aliada dos que procuram um novo amor.
O que muita gente percebia no dia a dia (o excesso de mulheres solteiras na capital do Brasil), foi constatado em números por uma pesquisa da FGV. A cada dez moradoras do DF, quatro estão sem um companheiro. O estudo Sexo, Casamento e Economia, do Centro de Políticas Sociais da FGV, mostra que na capital federal, 44,32% das mulheres estão solteiras, seguido de Rio de Janeiro (43,10%) e Pernambuco (42,43%).
Para tentar reduzir esses números, as brasilienses aderiram ao uso de aplicativos. Para começar um novo romance, o usuário precisa baixar a ferramenta no celular, disponível para sistema Android e IOS. A partir daí, o aplicativo sincroniza informações pessoais com o perfil do Facebook e localiza pessoas que estão próximas ao internauta. Existem duas opções, o X para rejeitar uma sugestão e o coração para curtir. Se duas pessoas se curtirem, a plataforma abre um bate-papo e os dois podem iniciar uma conversa. Se apenas um marcar um coração, nada acontece e o "amado" nem fica sabendo.
A funcionária pública Isabela* está neste rol e aposta no Tinder como uma ferramenta para, antes de tudo, conhecer pessoas. Ela conheceu o aplicativo depois do fim de um relacionamento. Quando entrou para o time das solteiras, uma prima e as amigas a incentivavam a fazer um perfil na rede social. A jovem, de 28 anos, resistiu, mas em uma viagem à Europa, em março, cedeu aos apelos.
Quando chegou a Paris, o aplicativo identificou homens solteiros próximos à cidade luz. Entre uma curtida e outra, a turista conheceu um francês, que a convidou para tomar um drink. No outro dia, um novo convite e ela entrou para o time das que já pode dizer que viveu uma noite romântica em Paris. Ao voltar ao Brasil, a funcionária pública resolveu baixar novamente o aplicativo, o que lhe rendeu mais uma oportunidade. A jovem elogia a ferramenta, mas afirma que nada substitui a conversa cara a cara.
? É um facilitador, mas dizer que é uma ferramenta essencial, não.
Ela ainda faz um alerta.
? Eu acho que não é uma ferramenta para quem está carente porque quem está carente pode se apaixonar e nem todo mundo está lá para namorar. Eu não acho que vou encontrar o amor da minha vida no Tinder. Pode acontecer, mas não é o objetivo.
Uma das explicações para o sucesso da plataforma no DF se deve à grande presença feminina. Dados do Censo de 2010 mostram que aqui tem mais mulheres do que homens, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Elas compõem 52,18% da população enquanto a capital carioca tem 52,31%. Aqui são 112 mulheres a mais que homens, e, neste cenário, a solteirice é inevitável.
A cabeleireira Bia* é uma das que pode deixar a vida solitária em breve, depois de conhecer um parceiro por meio do Tinder. Depois do fim de um casamento de sete anos, resolveu usar o aplicativo depois que uma cliente falou sobre a ferramenta. Chegou a conhecer pessoalmente cinco rapazes depois de marcar encontros pelo aplicativo e, nos últimos dias, entre uma conversa e outra, acabou se aproximando mais de um deles. Ela acha que, em breve, passa para o grupo das comprometidas. A jovem conta que outras redes sociais ajudaram na aproximação do casal.
? O Tinder funciona muito para troca de whatsapp, Facebook e nós trocamos, a princípio, whatsapp, começamos a conversar sobre o que cada um fazia, se já foi casado, se tinha filho, quantos, o máximo de informações. Já havíamos combinado de sair, mas eu dei o bolo três vezes, voltamos a nos encontrar no Tinder, marcamos um encontro e temos afinidades.
Aopesar da paixonite, a cabeleireira garante que o aplicativo não é apenas para relacionamentos. Ela diz que é comum que pessoas que trabalham em Brasília e moram em outras cidades baixem a ferramenta somente para fazer amizade.
? [pessoas de fora de Brasília] Acabam fazendo fazendo amizade para quando voltar à cidade, ter companhia para sair. Existem dois que eu converso muito, um mora em Porto Alegre e outro no Rio, mas é só conversa mesmo.
Para o professor de Psicologia da Universidade Católica de Brasília, Alexandre Gusmão, a ferramenta é uma nova forma de comunicação, mas os principais sentimentos desenvolvidos em relação a outra pessoa ainda segue a forma tradicional do encontro cara a cara.
? Os aplicativos são um facilitador. De repente, você não encontraria uma pessoa na rua e isso possibilita o encontro e é muito bom. A paixão e o gosto acontecem no encontro real. No mundo virtual há um interesse, um sonho, uma expectativa, a busca de uma afinidade, mas a consolidação só se dá pelo encontro.
Apesar das vantagens, o professor alerta que algumas atitudes podem evitar situações indesejáveis ou até de violência. Mais do que olhar as fotos, o usuário precisa perceber a forma de escrever da pessoa, possíveis brincadeiras, mensagens sobre a forma como a pessoa se vê e vê o mundo podem dizer muito sobre a personalidade de quem está do outro lado.
? As imagens são estéticas, mas o texto, o que a pessoa coloca no perfil, o que ela busca, como ela se vê, isso podem ser atrativos que demonstram muito de uma personalidade de uma forma a dizer muito do outro.
Além de olhos atentos na afinidade, os usuários do aplicativo devem ficar atentos quando marcarem encontros pessoais. Eles devem acontecer sempre em locais públicos, evitar falar muito sobre a vida pessoal na primeira saída, não postar fotos muito expostas, que evidenciem local de trabalho e local de residência.
Final feliz
Apesar dos riscos, a história dos brasilienses Natallie Valleijo e Lucas Cabral mostra que namoros começados pelo Tinder podem ter um final feliz. Os dois investiram no aplicativo e há cinco meses engataram um namoro depois de se conhecerem por meio da rede social.
A jornalista baixou o aplicativo no celular no final de novembro do ano passado por insistência de um amigo. Dois dias depois, conheceu Lucas Cabral, os dois passaram a conversar, se encontraram três vezes, estão juntos e já têm planos para o casamento. Entre e o bate papo e o pedido de namoro foi menos de um mês.
? No meio de dezembro a gente começou a namorar, menos de um mês de quando a gente se conheceu. Depois de um mês do início do namoro, ele me levou para conhecer a família dele em São Paulo e a gente já planeja casamento, fala na possbilidade de alugar um hotel fazenda em Uberlândia ou outra cidade que fique entre Brasília e São Paulo para facilitar para as duas famílias.
A história dos pombinhos, para a jornalista, é a prova de que muita gente quer coisa séria nas redes sociais. Nem a distância abalou o amor do casal. Lucas recebeu uma proposta de trabalho e foi morar em São Paulo no início de maio, mas os dois decidiram dar continuidade ao namoro. A jornalista não descarta a possbilidade de mudar de cidade para ficar perto do amado.