Dentro de um ano e meio estará pronta a tecnologia dos balões que possibilitarão ao governo levar internet a lugares do Brasil onde a rede não chega - seja porque os métodos de distribuição convencionais são inviáveis, seja por falta de interesse comercial das operadoras.
Ainda não se sabe exatamente quais áreas serão atendidas e nem a quantidade de pessoas a serem beneficiadas pelo projeto Conectar, mas alguns lugares como o norte de Minas Gerais e partes do Amapá, Amazônia, Roraima e Piauí já estão previstos, segundo o engenheiro José Angelo Amado, que é o responsável pelo projeto dentro da Telebras.
Sob tutela dos ministérios das Comunicações e de Ciência e Tecnologia, a Telebras, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) estão criando balões que serão alçados a cerca de 1,5 quilômetro para espalhar a rede. É como se o sinal do Wi-Fi comum, que atende uma área de 400 metros, fosse amplificado para um alcance de 25 km.
Três pilares são fundamentais para o projeto: atender o máximo de pessoas simultaneamente e ter as maiores área de cobertura e velocidade possíveis. Quanto ao último quesito, o Ministério das Comunicações, seguindo o PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), determina o mínimo de 1 Mbps por usuário, mas a Telebras trabalha também para atender clientes corporativos (incluindo o governo) e provedores de internet; nesses casos a velocidade seria de 20 Mbps, podendo chegar a 100 Mbps.
O grande desafio é manter isso em funcionamento, pois, estando a mais de 200 metros de altura, o balão está sujeito a todo tipo de intempérie. "Um vento muito forte poderia causar prejuízos", observa o engenheiro da Telebras.
Ao menos por enquanto, a tecnologia não permite acessos móveis diretos; a transmissão será feita até um receptor que levará a internet até o usuário.
Oportunidade
O sistema de balões pode ser usado em outras situações, inclusive em grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. "Basta estar em acordo com aerovias pra deixar os balões fora das rotas e evitar acidentes", explica Amado.
O método seria útil em casos emergenciais, para restabelecer os serviços de comunicações rapidamente, e em grandes eventos. Quem participou das manifestações de junho notou que foi difícil usar a internet nas ruas por causa da alta demanda, o que poderia ser evitado com ajuda de balões. A mesma coisa para acontecimentos como Rock in Rio e Lollapalooza.
"Essa possibilidade [o uso comercial] já está dentro do escopo do trabalho, mas a urgência agora é atender à demanda onde não há acesso", afirmou o engenheiro.
O Google também tenta espalhar internet com balões por meio do Project Lion; a diferença é que, enquanto no Brasil eles ficarão ancorados a 1,5 km de altura (são troposféricos), os da gigante de buscas serão soltos e permanecerão a 20 km do solo (estratosféricos).
A ideia da gigante de buscas é basicamente a mesma daqui: chegar aonde ninguém chega. Só que o Project Lion já recebeu duras críticas de Bill Gates. "Quando você estiver morrendo de malária, eu acho que você irá olhar para cima e ver o balão, mas eu não sei como isso irá ajudar", atacou o cofundador da Microsoft, que por meio da Bill & Melinda Gates Foundation financia extensivamente pesquisas para o desenvolvimento da cura da doença.
Embora apóie a disseminação da internet, ele chegou a dizer que "quando uma criança tem diarreia, não existe nenhum site que possa aliviar isso".