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IA usa selfies para prever idade biológica e sobrevivência ao câncer

Algoritmo determinou que os pacientes com câncer eram, em média, cinco anos mais velhos biologicamente do que seus pares saudáveis.

Algoritmo uso IA para converter uma simples foto em primeiro plano em um número que reflete com mais precisão a idade biológica de uma pessoa | Foto: Freepik
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Um novo algoritmo de aprendizagem profunda, chamado FaceAge, foi apresentado na última quinta-feira (8) pela revista The Lancet Digital Health. A tecnologia é capaz de analisar uma foto em primeiro plano e estimar a idade biológica de uma pessoa, indo além da data de nascimento registrada.

Treinado com dezenas de milhares de imagens, o FaceAge identificou que pacientes com câncer apresentavam, em média, uma idade biológica cinco anos superior à de indivíduos saudáveis da mesma faixa etária.

Segundo os pesquisadores, o método pode auxiliar médicos na escolha de tratamentos, indicando quem está apto a suportar terapias mais agressivas e quem se beneficiaria de abordagens mais leves.

Em um cenário hipotético, imagine dois pacientes: um de 75 anos com idade biológica de 65, ágil e resistente; e outro, mais frágil, de 60 anos com idade biológica de 70. Nesse caso, uma radioterapia agressiva pode ser segura para o primeiro, mas arriscada para o segundo.

A mesma lógica pode ser aplicada a decisões sobre cirurgias cardíacas, substituições de quadril ou indicações de cuidados paliativos.

Maior precisão

Estudos mostram que o envelhecimento varia entre indivíduos, influenciado por fatores como genética, estresse, exercícios e hábitos como fumar ou beber. Enquanto testes genéticos analisam a degradação do DNA, o FaceAge oferece uma alternativa acessível, estimando a idade biológica a partir de uma selfie. O algoritmo foi treinado com quase 59 mil fotos de adultos saudáveis com mais de 60 anos, extraídas de bancos de dados públicos. 

O FaceAge foi testado em 6.196 pacientes em tratamento nos EUA e nos Países Baixos, com fotos feitas antes da radioterapia. Pacientes com câncer pareciam, em média, 4,79 anos mais velhos biologicamente do que sua idade real. Entre eles, uma idade biológica elevada indicava menor chance de sobrevivência, especialmente acima dos 85 anos.

Diferente da percepção humana, o FaceAge foca em sinais sutis, como mudanças na musculatura facial, em vez de cabelos brancos ou calvície. Em testes com médicos, suas previsões sobre pacientes terminais melhoraram após acessarem os dados do algoritmo.

O modelo também chamou atenção ao estimar a idade biológica do ator Paul Rudd, então com 50 anos, como 43 — validando seu meme de “eterna juventude”.

Preconceitos e dilemas éticos

Embora a IA muitas vezes seja criticada por viés racial, os testes preliminares do FaceAge não indicaram distorções significativas. A equipe agora desenvolve uma nova versão do modelo com dados de 20 mil pacientes e testa fatores como maquiagem, cirurgia estética e iluminação.

A tecnologia levanta questões éticas: pode ser útil para médicos, mas preocupante se usada por seguradoras ou empresas. Saber que o corpo está biologicamente mais velho pode incentivar hábitos saudáveis — ou gerar ansiedade.

Os criadores planejam lançar um portal público para coleta de dados e validação, seguido por versões clínicas após testes adicionais.

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