Criado por “encalhada”, site de namoro na China já tem 100 mi de usuários

Chinesa abriu página na internet há 10 anos após ser humilhada durante busca por marido

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Embora a figura do "casamenteiro" exista há mais de 2 mil anos na China, Gong Haiyan, a "cupido número um" do país transformou a atividade em um negócio surpreendente.

Quando tinha 25 anos, por se achar "encalhada", Haiyan decidiu criar um site de namoro. Uma década depois, a página tem 100 milhões de usuários e já é listada na bolsa de valores eletrônica de Nova York.

"Eu já tinha mais de 25 anos e pelos padrões chineses eu era uma mulher "encalhada". Minha mãe e meu pai ficavam insistindo para que eu me casasse", conta.

Pressionada, ela decidiu pagar 500 RMB (cerca de R$ 182) para se inscrever em um site de namoros. Mas não recebeu resposta alguma e pouco depois descobriu que a empresa havia roubado perfis de sites concorrentes.

"Eu pedi meu dinheiro de volta. Mas quando pedi para ser reembolsada eles riram da minha cara", relembra.

Funcionários do site de namoro disseram a Gong que ela "não tinha nenhum charme ou beleza" e que "homens bem sucedidos não se interessariam por ela".

Revoltada, a chinesa resolveu transformar a humilhação em uma grande ideia. E mal sabia que, anos depois, além de arranjar um marido, ficaria famosa no país inteiro e ganharia muito dinheiro com seu novo negócio.

Raiva e superação

"Fiquei com muita raiva, e perguntei a uma amiga minha quanto custaria para criar uma página na internet e abrir meu próprio site de relacionamentos", conta.

Assim como o Facebook, o site de Gong foi criado no quarto de sua residência universitária e a primeira pessoa a criar um perfil foi sua melhor amiga, uma colega de faculdade, ainda em 2003. Quatro dias depois, ela convenceu a segunda pessoa a se inscrever.

Dez anos depois, o site Jiayuan.com, que em tradução livre significa "Lindo Destino", tornou-se uma empresa de grande sucesso, com escritórios em diversas cidades chinesas e mais de 100 milhões de usuários inscritos.

Para se ter uma ideia do bom desempenho, em maio de 2011 a companhia passou a ter suas ações negociadas na Nasdaq, a bolsa de valores eletrônica de Nova York, tornando-se o primeiro site de namoro chinês a ser listado no mercado financeiro fora do país.

Marido

Mas além de fama e riqueza, o site trouxe a Gong o que seus pais tanto queriam.

Ela diz que não se importava com riqueza material. "Eu estava procurando por alguém inteligente, de bom coração e saudável", diz.

Seis meses após sua criação, o Jiayuan.com colocou a jovem em contato com um cientista que estuda moscas de frutas.

"Eu pedi que ele fizesse um teste de QI, e ele obteve cinco pontos a mais do que eu", conta a empresária.

Ela acabou se casando com Guo Jian Zeng três meses depois, e hoje em dia eles têm uma filha de quatro anos.

O chinês chamou a atenção por seu calor humano e vontade de ajudar os outros, desde parentes até estranhos na rua, mas foi a foto em seu perfil que saltou aos olhos de Gong.

"Ele estava usando uma camiseta e era possível ver que ele era bem musculoso, e até tinha ganhado uma competição de iron man em sua academia", relembra.

Tradição milenar

Apesar de estar se utilizando de novas ferramentas, Gong não inventou nada novo em seu país, onde a tradição do "casamenteiro" existe há mais de 2 mil anos, desde a dinastia Zhou.

Antigamente, cada vilarejo contava com uma "Mãe Vermelha", uma mulher nativa encarregada pelas famílias de achar os parceiros ideais para seus filhos e filhas. Mais tarde, políticos locais e chefes de grandes fábricas desempenharam a função.

Mas os tempos mudaram. "Para imigrantes que vieram do interior, como eu, é quase impossível contar apenas com as antigas redes de contatos para encontrar um marido. Quando eu cheguei em Xangai não tinha parentes nem amigos na cidade", diz Gong.

Ela também explica que a diferença entre homens e mulheres é um motivo de crescente preocupação no país, onde a política do filho único, implementada desde os anos 1980, fez com que as famílias preferissem ter mais filhos homens do que mulheres.

O cenário levou o país a ter atualmente uma das proporções de gênero mais desequilibradas do mundo, com 118 homens para cada 100 mulheres - e há chances de que venham a haver cada vez mais "encalhados" do que "encalhadas" na China.

Projeções e desequilíbrio

De acordo com projeções do governo, até o final desta década haverá 24 milhões de homens "deixados de lado", ainda em idade de se casar. E há acadêmicos que apontam que entre 2020 e 2050 cerca de 15% dos homens chineses simplesmente não terão conseguido encontrar uma mulher.

"Na minha cidade na província de Hunan já estamos vendo este problema. Muitos homens de 40 e 50 anos foram solteiros durante toda a vida e desistiram de encontrar alguém para se casar", explica a empresária.

Para ela, a ascensão econômica do país também gera expectativas mais altas, e com isso maiores decepções.

"Há um desequilíbrio de informação - a pessoa que você está procurando existe, mas você não sabe onde encontrá-la", diz.

"Por outro lado, por estar buscando um parceiro tão ideal, a pessoa que de fato possui as qualidades que você procura pode não retribuir seu amor".

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