Certas pessoas fazem com que todos nós pareçamos pais santificados: nossos filhos achando que estão fazendo o dever de casa quando, na verdade, mensagens de texto estão voando, navegadores da internet estão abertos, vídeos estão rodando e um rock no último volume está retumbando nos falantes ah, não, essa última eram nossos pais reclamando a nosso respeito.
Sim, eu entendo a sensação. E não só como pediatra. Tenho meus próprios filhos um estudante do colegial, um da faculdade e um aluno de medicina, e sei como é.
Mas se você perguntar aos especialistas, eles são unânimes em dizer que não sabemos muito.
"A literatura que examina a mídia e seu impacto nas habilidades da atenção está apenas em sua infância", disse Renee Hobbs, professora de mídia e comunicação de massa da Universidade Temple e especialista em alfabetização de mídia.
Outro especialista, o Dr. Dimitri Christakis, professor de pediatria da Universidade de Washington e um dos principais pesquisadores sobre crianças e a mídia, concorda. "O ritmo da ciência não acompanhou a tecnologia", afirmou ele.
Já o Dr. Victor C. Strasburger, professor da Escola de Medicina da Universidade do Novo México, disse que "As crianças estão gastando uma quantidade extraordinária de tempo com a mídia", mas acrescentou: "Nós não sabemos realmente ao que eles prestam atenção, e ao que não. Não sabemos como isso impacta seu desempenho escolar, ou se isso impacta seu desempenho escolar".
Um estudo recente e muito discutido mostrou uma diminuição de produtividade em adultos que desempenhavam múltiplas tarefas simultaneamente ou, como Christakis colocou, "A verdade é que você não realiza múltiplas tarefas, você apenas acha que o faz; o cérebro não consegue processar dois atos cognitivos de alto nível". O que você está realmente fazendo, segundo ele, é "oscilando entre as duas tarefas".
Então os adolescentes são melhores em oscilar?
"Pode ser que a realização multitarefa seja um problema maior para os cérebros mais velhos", disse Hobbs. Christakis especulou que os adolescentes podem ter algumas vantagens, em parte por sua destreza mental supostamente maior e, em parte "esta é a parte que nós não entendemos", disse ele "porque eles realmente cresceram com essas tecnologias".
Essa lacuna tecnológica e de geração reflete todas as perguntas não respondidas acerca do que significa crescer nesta era, e provavelmente explica parte da desorientação que muitos pais experimentam ao observar seus filhos navegando pelas muitas e variadas conexões da adolescência moderna.
Pais são imigrantes digitais, explica Christakis; crianças são nativos digitais. "No século 20, você se preocupava com uma barreira digital separando ricos e pobres", continuou ele. "Isso se estreitou, e a barreira que surgiu está separando pais de filhos. Nós somos bem analfabetos em relação ao mundo digital habitado por eles".
Então onde isso tudo deixa os pais que tentam ajudar seus próprios nativos digitais a desenvolver bons hábitos de estudo? Harris M. Cooper, professor de psicologia da Universidade Duke que passou muitos anos estudando o dever de casa e seus efeitos, disse ser importante manter em mente na finalidade da tarefa.
"Uma das coisas que o dever de casa deve fazer por nós é nos ajudar a generalizar onde sentimos que podemos aprender", disse ele, acrescentando que parte do funcionamento adulto de sucesso é "combinar a tarefa ao contexto". Em outras palavras, você precisa aprender como você trabalha e sob quais circunstâncias.
Então, decidi testar meus preconceitos de imigrante digital que me dizem que ninguém consegue estudar com eficácia enquanto assiste, escuta, navega, conversa contra minha experiência profissional que me diz que estudantes de medicina que não estudam com eficácia não conseguem aprender o enorme e complexo corpo de material que precisam dominar, e, portanto, não conseguirão passar nos exames frequentes. Em outras palavras, perguntei a meu filho e seus amigos, pessoas de vinte e poucos anos que estudavam muito.
Esses estudantes de medicina soavam como estudiosos peritos, já que haviam prestado muita atenção aos diferentes tipos de concentração exigida para diferentes tarefas.
"Se estou estudando para memorizar", meu filho me disse, "geralmente continuo conversando" isso significa mensagens instantâneas. "Mas geralmente não é uma conversa em tempo real. Eu dou uma olhada de vez em quando e escrevo algo; posso ter um filme passando no fundo, mas escolho um filme que já tenha visto".
Ele até mesmo conduziu um experimento. "Realizei um estudo de tempo onde calculei, em média, quantas páginas de um documento eu conseguia ler quando tinha um filme passando no fundo, em comparação à leitura sem o filme. Descobri que podia ler com cerca de 80% da eficiência". Então a distração valia a pena; significava que ele poderia continuar lendo por períodos muito mais longos.
Essa questão de como manter-se estudando por longos períodos preocupava outros estudantes de medicina. Uma aluna disse que estudava melhor na academia de ginástica, geralmente no aparelho de step; ela gravava as aulas e as escutava em velocidade rápida enquanto se exercitava.
Mas você não pode se exercitar o tempo todo. "No dia anterior a uma grande prova", disse ela, "eu geralmente vou à academia e treino escutando uma das aulas que eu acho que possa ser a mais importante, e depois dou uma passada por todo o restante".
Como uma imigrante, sempre me faltará alguma fluência quando se trata do mundo digital. E aprendendo da forma como aprendemos, a tarefa que Cooper descreveu, é uma que nós, os pais, não podemos completar para nossos filhos não, nem mesmo os pais mais terrivelmente super-envolvidos, aqueles que ficam acordados a noite toda montando o cartaz de biologia da sétima série (vocês sabem quem vocês são).
O conselho que recebi de meu filho mais velho a respeito de meu filho mais novo foi, "Não se preocupe com isso até existir algo com que se preocupar. Se ele está indo bem nas aulas e com o dever de casa, ótimo". Esse também foi o conselho de Cooper aos pais: "Se eles estão se saindo bem, deixá-los terem as próprias escolhas permite que eles encontrem seu próprio estilo".
Ah, pensei pesarosamente comigo mesmo, mas ainda sinto que algo se perdeu. E quanto ao ardente prazer de ler algo, de realmente ler algo, sem distrações? E a complexidade criativa de escrever, fazer a linguagem fluir de frase a frase, ouvindo apenas sua voz interior?
Então refleti sobre meus próprios hábitos de trabalho, e as maneiras pelas quais adotei os costumes deste novo país, e pensei: seria esta a levemente suspeita nostalgia do imigrante pelo belo, mas já mitológico terreno, que ela mesma deixou para trás?