A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o suicídio como o ato deliberado, intencional, de causar a morte a si mesmo. É um ato iniciado e executado deliberadamente por uma pessoa que tem a clara noção ou forte expectativa de que dele pode resultar a morte, e cujo desfecho fatal é esperado. As crises vivenciadas pelo indivíduo sejam financeiras, afetivas, perdas emocionais, insucesso na escola, doenças terminais, doenças mentais, crise planetária são motivações para o suicídio.
O professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e doutor em Ciências Sociais, Benedito Carlos de Araújo Júnior, estudou os casos de suicídio que aconteceram em Teresina, de 2001 a 2010, para a tese do seu doutorado defendido na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Em sua pesquisa, ele procurou demonstrar que o primeiro passo deve ser o reconhecimento do suicídio como grave problema de saúde pública. De acordo com o doutor, os programas criados desde 1999, como SUPRE (Suicide Prevention), não têm obtido bons resultados. “Precisamos desenvolver pesquisas sobre o tema, que é complexo, e não haverá prevenção com medidas simples. A sociedade, incluindo os meios de comunicação, recusa-se a discutir o assunto, o que compromete o enfrentamento do problema”, afirmou. Segundo o professor, Teresina não se desenvolve ao mesmo tempo que promete se inserir na atual ordem mundial. E, muitas vezes, as pessoas têm um sentimento de frustração e acabam recorrendo ao uso de drogas e ao suicídio.
“A cidade vive sem referências culturais tradicionais e não adquiriu referências do mundo contemporâneo. O resultado é o vazio, a fragilidade, a desilusão. Não há políticas protetivas dos governos municipal e estadual. No Brasil, há experiências que reduziram as tentativas de suicídios. Em Campinas (SP) e Candelária (RS), medidas de acompanhamento de pessoas com comportamento suicida reduziram as taxas”, afirmou.
Os índices presentes em todos os continentes, no passado e no presente, em todas as religiões, mostram que o suicídio é inerente à espécie humana. O crescimento das taxas preocupa porque o suicídio já está entre as principais causas de mortalidade no mundo. Em alguns países é a primeira causa.
A OMS atribui mais de 90% dos casos à depressão, mas para o doutor, a posição é reducionista, pois se tratado apenas como resultado de doença mental, a prevenção se dará apenas no hospital, guiado pela medicina. “Não é possível desconsiderar a crise civilizacional. Até agora, todas as medidas de controle restringiram-se à psiquiatria e os números só cresceram”, defende.
Projetos ajudam pessoas a superar crises
Em Teresina, alguns projetos foram desenvolvidos para realizar um atendimento especializado e gratuitos para pessoas com ideias suicidas ou que tentaram o suicídio recentemente. Como o programa Provida, desenvolvido pela Prefeitura de Teresina e o Centro de Valorização da Vida, que oferece serviço gratuito, realizado por voluntários de todo o país, que se colocam disponíveis a uma conversa de ajuda e preocupados com os sentimentos dessa pessoa.
O psicólogo Sandocleber Lopes Soares, do Ambulatório Provida, que funciona no Hospital Lineu Araújo, afirma que a equipe formada por dois psicólogos e uma psiquiatra chega a realizar até 100 atendimentos por mês e que o atendimento possui um diferencial, já que não é necessária marcação de consulta. De acordo com ele, a pessoa tem liberdade para chegar ao local e pedir ajuda. “O nosso serviço é livre, qualquer pessoa que estiver apresentando algum comportamento suicida pode se dirigir até o ambulatório, que será prontamente atendido”, disse.
Ele declarou que o trabalho é delicado e são avaliados os riscos de suicídio e quais são os fatores para assim estabelecer uma intervenção específica. “Nós, psicólogos, fazemos psicoterapia de apoio para fortalecer os recursos internos das pessoas e garantir que elas possam lidar com as situações de crise. É preciso criar condições para que o paciente consiga enfrentar esse momento que, muitas vezes, vem junto com desespero e desesperança”, acrescentou.
O profissional esclarece que as pessoas que apresentam um potencial suicida se comunicam com familiares e amigos e mostram sinais, como apresentar ideias de morte e até mesmo de falar abertamente. Mas ele ressalta que poucas pessoas levam os avisos a sério e nesse momento é preciso ter uma atenção redobrada para dar suporte e realizar o trabalho de prevenção, que é possível.
“Se dentro de casa essa pessoa tiver apoio e um bom vínculo estabelecido esse fator será fundamental para esse indivíduo se sentir acolhido e amparado. Quando trabalhamos com suicídio não podemos ser simplistas. São vários fatores que devem ser levados em consideração. Esse é um caso para o qual existe prevenção, sim, é uma morte evitável, já que 90% dos casos das pessoas que apresentam comportamento suicida têm questões subjacentes para tratar. Por isso que estamos aqui realizando esse trabalho”, declarou.