O ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón, suspeito de receber propina da Odebrecht para campanhas do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), foi solto na sexta-feira (5), em Goiânia. Ele foi um dos 5 presos na Operação Cash Delivery, que cumpriu mandados em endereços ligados a Perillo, no último dia 28.
O advogado Antônio Carlos Almeida, conhecido como Kakay, que representa Marconi Perillo, informou, por meio de nota, que “a defesa não tem nenhuma preocupação com a investigação” e que desde o início da operação “afirmou que a prisão era injusta, extemporânea e ilegal”.
Jayme Rincón saiu da sede da Superintendência da Polícia Federal (PF), em Goiânia, por volta das 20h30. Como a decisão foi concedida em caráter liminar pelo desembargador federal Cândido Ribeiro, ela pode ser reavaliada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
No documento, o magistrado avalia que a prisão de Jayme não é necessária, porque as investigações são relativas a situações de 2010 e 2014. Segundo ele, “mais de quatro anos que não encontram eco nos requisitos”.
O desembargador afirmou ainda, ao conceder a liberdade ao investigado, que “os elementos de prova até então coletados são suficientes à investigação da autoria, sem necessidade, por hora, de segregação cautelar do paciente”.
Além de Jayme, o filho dele, Rodrigo Godoi Rincón, Márcio Garcia de Moura – policial militar e motorista de Rincón – , o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior e o advogado Pablo Rogério de Oliveira foram presos no dia 28. Até a noite desta sexta-feira, somente o Márcio Garcia de Moura continuava preso até a manhã deste sábado (6).
Jayme Rincón é ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) e foi coordenador financeiro de campanha eleitoral em 2010. Ele e mais quatro pessoas foram presas na operação, deflagrada no último dia 28 de setembro. Ao prestar depoimento à PF, ele confirmou que “recursos” para campanhas eleitorais de candidatos aliados foram entregues pela Odebrecht a seus motoristas no apartamento que o investigado tem em São Paulo.
Na ocasião ele também disse que esses valores eram “destinados, em sua maioria, para campanhas de candidatos aliados” e que “parte dos valores era oficializado com ajuda de empresas parceiras” – o que pode configurar lavagem de dinheiro, de acordo com a PF. O preso disse ainda que “todo o montante destino à campanha de Marconi Perilllo foi legalizado”.
Escutas da Polícia Federal presentes no inquérito que culminou na Operação Cash Delivery, também obtidos pela TV anhanguera, mostram um diálogo que, segundo a corporação, revela a entrega de R$ 1,2 milhão em propina da Odebrecht para campanhas de Perillo em 2010 e 2014.
Em uma das escutas obtidas pela PF, o motorista do doleiro Álvaro José Novis liga para um motorista de Jayme Rincón, identificado como Sérgio, para confirmar o endereço do apartamento onde faria a entrega de “encomendas”, que, segundo a PF, tratava-se de propina.
Conforme a declaração de Jayme, o filho dele, Rodrigo Rincón, também preso na Operação, “não tinha a menor participação nestes encontros e sequer sabia do que estava ali acontecendo”.
A defesa do ex-governador e atual candidato ao Senado afirmou que “não existe qualquer hipótese de propina ou corrupção na investigação, apenas doações para campanhas”. Ele deve prestar depoimento à PF após as eleições.
Outro documento, obtido pela TV Anhanguera, mostra que o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior, também preso na mesma operação, confirmou à Polícia Federal que prestou serviços a uma empresa onde, segundo as investigações, foram entregues R$ 1,8 bilhão da Odebrecht. Na ocasião, ele também disse nunca ter recebido nenhuma quantia ilícita da empreiteira.
Investigações
No inquérito consta que Marconi, ao solicitar os valores para suas campanhas, se mostrava favorável às demandas da Odebrecht em Goiás, como, por exemplo, na construção do VLT, que não saiu do papel, além de obras de esgoto no Entorno do Distrito Federal.
Conforme apurou a TV Anhanguera, apesar da suspeita de envolvimento de Marconi Perillo no esquema, a Justiça Federal não pediu a prisão dele por conta da Lei Eleitoral, que proíbe a prisão de candidatos 15 dias antes do pleito, exceto em casos de flagrante.
Durante a operação, os celulares de Marconi Perillo e da esposa, além do computador da filha, foram apreendidos.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Perillo, quando ainda era senador e depois como governador, pediu e recebeu propina para favorecer a Odebrecht em contratos e obras. Os valores, segundo as investigações, foram de R$ 2 milhões em 2010 e R$ 10 milhões em 2014.
Na denúncia, Marconi Perillo é citado como líder do esquema. Jayme Rincón é apontado como braço-direito do ex-governador, responsável pela entrega do dinheiro solicitado pelo político. O filho de Jayme, Rodrigo Rincón, teria colaborado diretamente com o recebimento do dinheiro, tendo sido beneficiário de parte dos pagamentos.