Em audiência na tarde desta sexta-feira em Campinas, o agente do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (GAECO) do Ministério Publico (MP), Henrique Romanini Subi, revelou que o sogro do ex-secretário de Segurança e Finanças, Carlos Henrique Pinto, o empresário Joaquim Argemiro Tinarelli, ganhou 40 vezes na loteria no começo dos anos 2000. De acordo como o agente, o Gaeco encontrou os dados na declaração de imposto de renda do empresário, enviada a Receita Federal e seria uma forma de justificar o aumento no seu patrimônio.
A revelação irritou Pinto, que é acusado pelo MP de corrupção e formação de quadrilha e fazer parte do grupo que desviava dinheiro de contratos de licitações na Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), em Campinas. Segundo o MP, Tinarelli seria proprietário da empresa Biguá Alimentos, que já foi fornecedora de arroz e feijão para a Secretaria de Educação de Campinas. Ele não foi localizado pelo Terra para dar sua versão.
A audiência de instrução começou às 11h30 e ainda prosseguia no começo desta noite com a presença das seis testemunhas convocadas. Os réus foram convocados para acompanhar os depoimentos. Estiveram presentes também a ex-primeira-dama Rosely Nassin Jorge Santos, o ex-vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT), o ex-secretário de Comunicações Francisco de Lagos, o ex-diretor de Planejamento Ricardo Cândia e o ex-presidente da Sanasa Luiz Castrillon de Aquino.
"Quando meu sogro ganhou na loteria eu não era secretário", afirmou Pinto. Nervoso e um pouco alterado, ele foi cercado por jornalistas quando saiu para tomar café. "É natural que avalie a evolução patrimonial das pessoas", comentou. Ao ser inquirido com veemência por um repórter chegou a repetir: "Não tenho relação financeira com ele, vão perguntar a ele".
Carlos Henrique Pinto é advogado e ocupou os cargos de secretário de Finanças e depois secretário de Segurança na administração do prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT). Ele concorreu ao cargo de deputado estadual com apoio de Santos, mas não se elegeu. Com a crise do governo de Santos, chegou a ser considerado foragido quando a Justiça decretou a prisão de 20 pessoas em 20 de maio de 2011. Quase dois meses depois, em novo pedido da Justiça, ele foi detido e cumpriu prisão preventiva no quartel da Policia Civil em São Paulo.
Ex-primeira-dama
Amparada por advogados, usando óculos escuros e o cabelo preso por um rabo de cavalo, a ex primeira-dama e ex-chefe de gabinete de Campinas Rosely Nassin Jorge Santos chegou à Cidade Judiciária um pouco depois das 11h para a audiência em que é apontada como a líder de um esquema de fraudes em licitações e desvio de dinheiro na Sanasa. Cercada por jornalistas e fotógrafos, ela não respondeu aos questionamentos e entrou na sala de audiência onde a imprensa não pode gravar som ou imagem.
O empresário Ilário Bocaletto, uma das testemunhas citadas no processo, afirmou ter recebido ameaça de morte nesta manhã e chegou escoltado por policiais da Corregedoria da Policia Civil. Ele revelou aos promotores do Ministério Publico a cobrança de propina para a aprovação de empreendimentos imobiliários na prefeitura durante a gestão do ex-prefeito cassado, Hélio de Oliveira Santos.
Todos são acusados pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MP) de integrarem um esquema de fraudes em licitações na Sanasa que pode representar em torno de R$ 17 milhões. Outras 16 pessoas foram denunciadas pelo MP e devem responder em juízo. O processo foi desmembrado em dois pelo juiz Bernardes e eles serão julgados separadamente.
No primeiro processo estão Rosely, apontada pelo MP como líder do esquema de fraudes praticado pelos ex-agentes públicos, e o ex-dirigente Aquino, que também figura como delator junto ao MP dos crimes do grupo. Na segunda peça desmembrada ficaram o ex-diretor técnico da Sanasa, Aurélio Cance Júnior, o ex-conselheiro da autarquia, Valdir Carlos Boscato, o promotor de eventos Ivan Goreti, os empresários Gabriel Gutierrez, João Carlos Gutierrez, João Thomaz Pereira Junior, Gregório Wanderlei Cerveira, Alfredo Antunes, Augusto Antunes, Pedro Luis Ibraim Hallack, Dalton dos Santos Avancini e os lobista Emerson Geraldo de Oliveira e Maurício de Paulo Manduca.
Depoimentos
Os depoimentos dos "cabeças" do esquema de desvios de dinheiro ocorrem na semana de aniversário de um ano do pedido de 20 prisões temporárias de empresários e agentes públicos quando foram cumpridos onze mandados, no dia 20 de maio de 2011. Rosely e Aquino são acusados de formação de quadrilha, corrupção passiva e fraude em licitações. Vilagra e Cândia responderão por formação de quadrilha e corrupção passiva. Já Henrique Pinto e Lagos vão a julgamento por formação de quadrilha.
Os empresários e lobistas irão responder por corrupção ativa. Gabriel Gutierrez, João Carlos Gutierrez, João Thomaz Pereira Junior, Gregório Wanderlei Cerveira, Emerson Geraldo de Oliveira e Maurício Paulo Manduca são acusados de fraudes em licitação. Ivan Goreti responderá por formação de quadrilha, enquanto que Aurélio Cance Junior por formação de quadrilha, corrupção passiva e fraudes em licitação. Já Valdir Boscato, por corrupção passiva.