A aglomeração começou aos poucos. Às 16h20m da última quinta-feira, cerca de 200 pessoas, vestindo verde e amarelo, se reuniram em frente ao número 937 da Rua Pamplona, chegando pela primeira vez ao bairro nobre dos Jardins. Tocavam tambores e pareciam animados torcedores da seleção brasileira, cuja estreia aconteceria em 40 minutos. O disfarce e o barulho funcionaram. Ninguém percebeu quando um deles ligou uma maquita em um gerador e serrou a porta do edifício de 15 andares, a duas quadras da Avenida Paulista. Estava feita a invasão do prédio pelo Movimento de Moradia da Região Centro (MMRC), com o apoio do Movimento Passe Livre (MPL) e de outros grupos sociais.
? Desde setembro planejávamos a ação e sabíamos que a polícia não estaria aqui no dia da abertura da Copa - explicou Guilherme Land, um dos coordenadores da ação. Na tarde de hoje, havia apenas alguns colchões e poucas famílias ocupando os apartamentos de cerca de 90 metros quadrados, equipados com grandes janelas e banheiras nos banheiros. Havia água e energia elétrica.
O perfil dos novos ocupantes é diverso. Enquanto um grupo de crianças jogava bola no terraço, Leonardo Cordeiro, estudante de filosofia da USP lia um texto sobre lógica. No nono andar, a auxiliar de limpeza Ana Silva, de 34 anos e grávida de cinco meses, almoçava uma quentinha ao lado da filha, Paola, de 6 anos.
? Eu gostei dessa nova casa. Quero ficar aqui porque já estou cansada de mudar. É a sexta casa em que moro - disse Paola.
O edifício é de propriedade privada e não possui dívidas de IPTU com a prefeitura. Na loja, no nível da rua, uma gráfica funciona há nove anos.
? Pago aluguel aqui, e é caro. O prédio não está abandonado, há porteiro todos os dias. O movimento escolheu um momento em que o local estava vazio para entrar ? afirmou Nivaldo Bertoncelo, dono da gráfica. No 15º andar do edifício mora a zeladora Maria Almeida Silva, de 63 anos.
? Até 1990, o prédio era residencial, ocupado pelo pessoal da embaixada da Alemanha. Depois foi alugado para escritórios e há quatro anos os proprietários decidiram vender. Mas o negócio ainda não aconteceu - disse Maria. Ela afirma não ter sido hostilizada pelos novos ocupantes do lugar.
O MMRC pretende instalar até 96 famílias na área. E não descarta novas invasões nos próximos jogos do Brasil.
? Não sei se teremos condições de fazer outras. O que queremos é a provocação política, em um bairro que não está acostumado a ver esse tipo de coisa ? diz Land.