Os assentados do Canaã do Norte, localizado a 25 km do Centro de Parnaíba, estão temendo suas condições de sobrevivência e permanência na terra pela falta das condições de produção. Alocados na antiga Fazenda Lourival Parente, que foi modelo de produção durante muito tempo em todo Nordeste, os assentados lamentam estar em uma terra tão rica, mas sem condições de plantar.
?Nós estamos com nossos campos preparados, mas não temos nem condições de comprar sementes e também faltam chuvas. Até o momento, já deveríamos estar com uma plantação já alta, se tivéssemos as condições materiais e de chuva?, diz José de Abreu, um dos assentados.
José de Abreu conta também que a falta de condições de produção e de dignidade para continuar na terra tem provocado uma retirada de muitos recém-assentados. ?As pessoas estão voltando para Teresina para serem empregadas ou diaristas, em trabalhos que não vão oferecer muito para elas, porque aqui ninguém está aguentando ficar. Tem gente que achava que depois que o INCRA assentasse, já teria tudo, mas ninguém vive de promessa né??, conta.
Segundo o superintendente substituto do INCRA(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Marcos Felinto, a situação do crédito para as casas e do crédito fomento já foi colocada no orçamento, no entanto, estão à espera de que a União vote seu orçamento para 2013. ?O recurso já foi empenhado, agora falta aprovação do orçamento para a verba ser encaminhada?, diz Felinto acrescentando que depois deste processo ainda haverá outros procedimentos, mas que esperam solucionar até junho deste ano.
Ele explica que o crédito fomento e instalação para construção das casas deve sair juntos, o que é uma novidade, pois antes era em momentos separados. O crédito construção será de 15 mil reais, antes era de 8 mil. Mesmo assim, este e outros fatores têm feito com que a população desista de esperar, uma vez que a sobrevivência é urgente, como diz José de Abreu.
Falta de água é grande problema
Depois de 6 anos na BR que leva a Demerval Lobão, os acampados do Salitre Chileno I, enfim, conquistam o direito à terra. Há 8 meses, agora podem dizer que são livres para plantar e colher em suas própria terras. No entanto, a reforma agrária, propriamente dita, ainda não pode ser pronunciada com certeza da boca dos assentados do Canaã do Norte.
Hoje, os assentados reclamam de uma série de problemas para a manutenção de suas vidas. A falta de água é o mais urgente. "Temos que caminhar pelo menos 4 km para conseguir chegar no rio e pegar uma água muito suja, barrenta que serve para tudo. Para banhar, beber, e tudo", diz José de Abreu, um dos assentados.
A água é, de fato, uma das principais preocupações e, atualmente, muitas são as doenças que aparecem nos moradores. "A gente usa essa água mesmo porque é o jeito. Quando a gente não pode ir pegar, a gente compra de uma pessoa que traz em uma carroça a água do rio e pagamos 3 reais por cada galão de água, que ainda é suja.
Muitas vezes, a gente adoece e nem todo mundo tem filtro em casa ou conhece maneiras para tratar a água em casa", diz Maria do Amparo.
Segundo o superintendente substituto do INCRA(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Marcos Felinto, o órgão gastou mais de 1 milhão de reais para construir uma adutora para abastecer os assentamentos da região. No entanto, a Agespisa, que deveria ser o órgão responsável pela manutenção, justificou que não faria a manutenção porque não era viável do ponto de vista do lucro. "Todavia, a função social da adutora é muito importante para garantir água boa para consumo para estas famílias", diz Felinto.
De acordo com Felinto, foi realizada uma reunião com a Prefeitura Municipal de Parnaíba e Diretoria Estadual da Agespisa para que se resolvesse a situação. "Mas ainda não temos nada formalizado. Esperamos resolver a situação com a assinatura do termo de cooperação", explica.
Além da falta de água, os assentados reclamam também da falta dos créditos e das moradias. "Hoje vivemos aqui como gado, amontoados uns em cima dos outros e sem condições, cobertos por lona e palha", diz Dona Benonizia, a presidente da Associação de Moradores do Canaã, enquanto aponta a antiga moradia dos gados da Fazenda Lourival Parente, que deu lugar às novas moradias improvisadas.
Estudantes realizam extensão popular
O Assentamento Canaã do Norte recebeu mais uma vez o grupo de estudantes do Programa de Extensão Educação Popular Justiça Social. O primeiro encontro, quando ainda eram acampados à beira da estrada de Demerval Lobão, inspirou a vivência que se encerrou na última semana no Seminário ?Vivência no Chão, da luta pelo direito à terra: o reencontro da caminhada?.
Durante o Seminário, onde o eixo principal foi a organização comunitária, foram realizadas oficinas, apresentações de peças a partir do teatro do oprimido, onde a comunidade pode intervir, além de momentos em grupo, tudo a partir da concepção da educação popular, metodologia e concepção que se inspiram nas fontes Freireanas.
Participaram cerca de dez estudantes do Programa da Universidade Estadual do Piauí, mas que conta também com a participação de estudantes de UFPI. O Grupo envolve estudantes do Núcleo Coraje (Corpo de Assessoria Jurídica Estudantil), estudantes e profissionais das áreas de Comunicação e Biologia. Além disso, participaram também componentes do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade, assentados no município de Nazária.
?A ideia é justamente poder trabalhar a partir da interdisciplinariedade e dos saberes de pessoas que se organizam em defesa do direito à terra, os problemas que mais afetam a comunidade e trabalhar a necessidade da organização comunitária para buscar, em coletivo, a resolução dos problemas?, diz Renzyo Augusto, um dos participantes do Seminário.
Para Keuelane Carvalho, a vivência foi um espaço de fortalecimento no real sentido da pesquisa engajada em defesa da permanência de camponeses, no sentido amplo de reforma agrária. ?Não tenho uma vivência forte no eixo campo, mas desde o momento que começamos a acompanhar o Salitre Chileno, que hoje boa parte está no Assentamento Canaã do Norte, vi o quanto é importante uma pesquisa que se preocupe em colocar os camponeses como sujeitos detentores de direitos. A partir da luta deles quando ainda eram acampados na BR, resolvi pesquisar a temática de campo e reforma agrária?, diz Keuelane demonstrando que a vivência, dentre outras coisas, estimulou a pesquisa.