O vídeo mostra uma adolescente, aluna da Escola Estadual Flávio Ribeiro de Rezende, de Natividade, no Noroeste Fluminense, motivada por várias outras em sua volta, rindo, debochando e tentando tocar à força o cabelo de uma menina de 11 anos, negra, que resiste como pode às investidas, assustada e indefesa. "Puxa o cabelo dela!", gritam as garotas por várias vezes, sendo abafadas apenas pelas risadas umas das outras. "Você não gosta do seu cabelo?", desdém uma delas. Parte do que é dito na gravação é ininteligível, mas, em alto e bom tom, a vítima pede para que as colegas parem com aquilo.
A situação, que aconteceu dentro dos muros de um colégio estadual, virou caso de polícia. Questionada, neste sábado (1), a Secretaria Estadual de Educação afirmou que, além de ter instaurado uma sindicância na pasta para a apuração detalhada de tudo o que aconteceu, o Conselho Tutelar fez também um registro de ocorrência na delegacia da cidade de Natividade, "já que bullying, racismo e discriminação religiosa são atos criminosos que devem ser avaliados à luz do Estatuto da Criança e da Adolescente". Procurada, a 140ª DP (Natividade) informou que agentes realizarão diligências para identificar todas as pessoas envolvidas e esclarecer os fatos.
O fato aconteceu na segunda-feira (27), mas veio à tona nesta quinta-feira (30), e esteve entre os assuntos mais comentados nas redes sociais. A vítima, de 11 anos, sofre de deficiência de aprendizagem – a princípio, chegou a ser dito que ela possuía um grau de autismo.
Com a exposição e grande repercussão negativa sobre o caso, surgiu ainda, num segundo momento, uma nova gravação, também feita por alunos, onde a diretora da instituição fala sobre o incidente. Sem abordar ou condenar as questões relacionadas ao bullying e racismo praticadas pelas adolescentes, ela deu ênfase ao uso irregular dos aparelhos celulares e disse, ainda, que vítima e agressora são amigas, o que gerou revolta por parte de internautas.
"Isso é bom para vocês entenderem o que o celular faz na hora errada nas redes sociais. Essas brincadeiras erradas, de dar tapinha no outro, na hora da fila da merenda, ou em outros momentos... as pessoas filmam e a filmagem (inaudível). Aquela menina que está implicando com a (nome da vítima), as outras em volta ficaram instigando ela a implicar. Porque as duas são amigas", diz a docente em sala de aula.
Também perguntada sobre a postura da diretora, a Seeduc afirmou que, para além das imagens, a direção da escola agiu para proteger todas as crianças, alertando inclusive sobre os perigos do bullying, da falta de respeito, da falta de solidariedade e da disseminação de imagens que podem expor as crianças e causar violência do lado de fora da escola.
"Foi acordado com o Conselho Tutelar e a comunidade escolar, como uma medida protetiva, que as crianças fossem afastadas para a realização de trabalhos didáticos em relação ao bullying. E que elas fossem ouvidas por psicopedagogas e as famílias participassem deste grupo de entrosamento e de discussão coletiva. Esse é um trabalho didático da escola, que fará ações contra o bullying e a violência", afirma a secretária de Educação do RJ, Roberta Barreto.
Neste sábado, em entrevista à CBN, Barreto também falou sobre a necessidade de a sociedade encarar o caso com seriedade e responsabilidade. Segundo ela, as jovens que praticaram o bullying contra a menina de 11 anos estão reclusas e com medo da reação negativa e de toda a proporção que o caso tomou.
"A escola é um lugar de paz, temos que promover a paz. É muito importante a sociedade entender que são crianças e que nós todos precisamos cuidar delas. Não podemos hostilizar as crianças. Elas estão trancadas em casa, com medo da reação da população", disse.