A barragem de Piracuruca, município localizado há 208 km de Teresina, ao Norte do Estado, pode estar prestes a desencadear uma tragédia com reflexos ainda mais graves que o ocorrido em Brumadinho (MG). A denúncia é do desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho, do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI), que afirma que a barragem está há mais de 30 anos sem reparos e pode ruir a qualquer momento.
A força da água é avassaladora. Além disso, a capacidade da estrutura mineira era de apenas 12,7 milhões de m³ de água, quase 20 vezes menos que a barragem de Piracuruca, que possui 250 milhões de m³. “Diferente da barragem de Brumadinho, a barragem de Piracuruca não é de rejeitos. Mas é uma quantidade enorme d’água, que causa uma pressão muito grande sob às paredes e que causariam inúmeros transtornos. A avalanche d’água é imensa, maior que a de rejeitos. A destruição seria ainda maior que a de Brumadinho. Para você ter uma ideia, o volume d’água da barragem de Piracuruca é cinco vezes maior que o açude do Caldeirão, em Piripiri”, declara Brandão de Carvalho.
O desembargador afirma que há uma carência de estudos eficazes para avaliar a estrutura, que funciona como ferramenta de segurança hídrica. “É preciso um estudo minucioso para avaliar as condições da barragem de Piracuruca. É preciso a visita de técnicos especializados porque é uma barragem de mais 30 anos. Aparentemente ela está normal, mas não sabemos se existem fissuras. Não há fiscalizações ou vistorias”, aponta o Brandão de Carvalho.
Brandão lembra que uma população de mais de 200 mil habitantes pode ser atingida, pois além de cidades, há muitos povoados e vilas circunvizinhos. “É uma barragem que tem 250 milhões de m³ de água. É uma estrutura muito extensa. Para você ter ideia, ela tem mais ou menos uns 7 km de extensão. Toda a população de Piracuruca e a região ribeirinha que vai do Rio Longá ao Rio Parnaíba está ameaçada. Quem está próximo também está em risco”, afirma.
O desembargador afirma que acompanha com proximidade a situação da barragem. “Tenho um sítio em Piracuruca e acompanho o dia-a-dia da barragem, as cheias estão cada vez maiores, ficamos assustados com o volume d’água. O Governo Federal, Estadual e a Prefeitura precisam estar juntos para uma análise técnica de geologia e engenharia. Não podemos deixar que a tragédia de Algodões aconteça novamente. Pessoas perderam vidas, bens, lavouras. E veja bem, uma barragem infinitamente menor que a de Piracuruca”, compara Brandão de Carvalho.
Idepi afirma que técnico visita açude periodicamente
Questionado sobre a situação da barragem de Piracuruca, Geraldo Magela, diretor do Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi), afirma que um técnico realiza uma vistoria temporariamente, fato que é questionado pelo desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho, do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI).
Magela conta que a barragem de Piracuruca passou por reparos há três anos, mas conta que não existem trabalhos de beneficiamento previstos para este ano. “O desembargador está totalmente desinformado. Esta barragem tem vistoria frequente. Há três anos foi feito um serviço no sistema de comporta. Na situação atual não existem riscos para a comunidade. A barragem está em situação estável. Frequentemente ela é vistoriada. Até em três meses os técnicos fazem visitas, mas no período de chuva aumenta essa frequência”, conta o gestor.
O serviço mencionado por Magela foi através de um contrato com a empresa Construtora Hidros LTDA, que fez a recuperação do tubo externo de tomada de água da barragem de Piracuruca. Com recursos próprios do Instituto e do Governo Federal no valor de R$ 139.372,64, o contrato com a empreiteira foi feito em 19 de fevereiro de 2013. A obra foi conclusa respeitando o prazo de 180 dias.