A grande quantidade de aguapés presente no rio Poti sinaliza a enorme poluição que o mesmo vem sofrendo. Em alguns pontos, a planta chega a cobrir o rio por completo. Mas essa situação deve tomar novos rumos já que existe uma audiência para discutir esta questão marcada para o dia 17 de outubro, quinta-feira. O juiz federal Márcio Braga Magalhães marcou a audiência com base na ação cautelar, ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) no Piauí, que pede a retirada dos aguapés do Poti, até que as obras de esgotamento sanitário de Teresina sejam concluídas.
Nesse período mais quente e sem chuvas percebe-se um aumento considerável na extensão dos aguapés nos rios. Segundo o ambientalista, Deocleciano Guedes, isso acontece, pois nesta época de B-R-O-BRÓ, o nível do rio está mais baixo e o sol está mais intenso, favorecendo a fotossíntese destas plantas. A reprodução dos aguapés ocorre por meio de sementes e por brotações laterais.
O aguapé serve de abrigo natural a organismos, servindo de habitat para uma fauna bastante rica, desde micro-organismos, moluscos, insetos, peixes, anfíbios e répteis até aves. Uma das principais vantagens do aguapé é que ele é um filtro natural, pois apresenta a capacidade de incorporar em seus tecidos uma grande quantidade de nutrientes. As raízes longas e finas, com uma enorme quantidade de bactérias e fungos, atuam sobre as moléculas tóxicas, quebrando sua estrutura e absorvendo-os.
Contudo, é preciso vigiar de perto o crescimento descontrolado dessa planta. Deocleciano aponta que o principal prejuízo causado pelos aguapés é a diminuição significativa do oxigênio nos rios, o que afeta a vida dos seres vivos do rio. ?Numa quantidade pequena (de aguapés) não tem problema, mas tudo de maneira exagerada prejudica o rio. Vai chegando um momento em que o rio não tem mais como respirar e sobreviver com a quantidade de aguapés. A tendência vai ser crescer mais ainda. A solução para o problema é tratar o rio. A gente não pode pensar em soluções paliativas para o rio?, destaca, observando que a simples retirada das plantas não é a solução definitiva para o problema.
Entidades defensoras do meio ambiente, também articulam maneiras de proteger os rios da capital. A ONG Olho Aberto desenvolve investigação sobre as causas da poluição do rio e um laboratório está fazendo a análise das amostras das águas do Poti, com o intuito de identificar principais focos de poluição do rio.
Através da campanha Parnaíba Limpo, ONGs articularam um abaixo-assinado pela criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Parnaíba, mas que beneficia o Rio Poti. O estudante de engenharia ambiental, Matheus Mendes, que é um dos organizadores do abaixo-assinado ?O Comitê da Bacia do Parnaíba contempla todos os rios agregados à Bacia e o Poti é um deles?, explica o jovem falando que todos os municípios piauienses, com exceção de Cajueiro da Praia, estão enquadrados nesta situação.
AÇÃO - O autor da ação, procurador regional dos direitos do cidadão no Piauí, Kelston Pinheiro Lages, requereu que o Estado do Piauí, a Agespisa e o Município de Teresina retirem, em até 60 dias, os aguapés, do leito do Rio Poti. Além disso, os gestores estariam obrigados a remeter um relatório à Justiça, a cada seis meses, sobre a retirada dos aguapés, até que as obras de esgotamento sanitário de Teresina fossem concluídas. O não cumprimento do disposto resultaria em multa no valor de R$ 20.000,00 por cada relatório bimestral não apresentado.
Foi recomendado, pelo MPF, por meio de ofício à Prefeitura e ao Governo do Estado a construção e ampliação do sistema de tratamento de esgotos e da respectiva rede de coleta, junto com os corresponsáveis - o Município de Teresina e Agespisa, para o atendimento da demanda da cidade de Teresina, hoje com apenas 17% de cobertura.
De acordo com a Agespisa, já foram identificados alguns pontos de lançamento de esgoto irregular no rio. Os mesmos já foram encaminhados à prefeitura para Prefeitura de Teresina. O órgão também informou que as obras de ampliação na rede de esgoto serão ampliadas de 17% para 50% de cobertura. Porém, no momento as obras encontram-se paradas, devido a trâmites burocráticos com um banco. Além da Agespisa e das secretarias de meio ambiente do estado e do município, foram convocados a participar da audiência o Ibama e a Agência Nacional de Águas (ANA).