"Olha eu aqui de novo". Era essa a frase entoada por cerca de 50 manifestantes no momento em que se dirigiram pela quarta vez à sede do governo do Estado do Rio, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, no fim da noite de quinta-feira. Apesar de o protesto ter sido marcado por três violentos confrontos anteriores com a Polícia Militar, o último movimento dos manifestantes em frente ao Palácio Guanabara prometia terminar de maneira pacífica - alguns homens do Batalhão de Choque, atendendo a apelos dos manifestantes, chegaram a retirar suas máscaras do rosto. E foram aplaudidos.
Uma nova confusão, contudo, teve início quando a polícia - sem justificativa aparente - deteve um homem que se encontrava no meio do grupo. Um agente perguntou: ?É esse aqui??. Após a resposta afirmativa, o rapaz foi arrastado, sob protestos, para trás do cordão de isolamento. Questionei o motivo da prisão e um policial respondeu: ?Ah, quem levou com certeza sabe?.
O tumulto prosseguiu. Uma mulher, que tinha muita dificuldade para respirar por causa do spray de pimenta, também recebeu voz de prisão (mais uma vez, sem justificativa aparente; mais uma vez, de maneira truculenta). Avisado sobre o estado de saúde dela, um policial debochou: "Vai passar mal na cadeia".
Enquanto eu filmava tudo, voltei a questionar o motivo da prisão, quando um segundo PM se aproximou e disparou spray de pimenta contra meu rosto. Fui ajudado por uma equipe da Casa de Saúde Pinheiro Machado, que pouco antes me dera entrevista sobre o gás atirado por policiais e que invadira a clínica.
Durante esse episódio, alertei um policial sobre o fato de que lá era um hospital, sendo necessário tomar cuidado e evitar justamente o que estava acontecendo: as bombas de gás lacrimogêneo sendo jogadas bem em frente à casa de saúde. A resposta, mais uma vez, veio em tom de descaso: ?Ah, mas está cheio de vândalos ali?.
Terminei a noite no hospital, com uma forte reação alérgica ao spray de pimenta. Pior do que a dor da injeção de anti-histamínico, contudo, foi flagrar tamanha falta de cuidado por parte daqueles que deveriam proteger a população.