O designer de artesanato Renato Imbroisi, curador da mostra ‘Serra da Capivara – Homem e Terra’ que acontece no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab), no Rio de Janeiro, concedeu entrevista ao Jornal OGlobo, onde falou sobre seu primeiro contato com a Serra da Capivara e da importância do Parque Nacional para o Brasil e para o mundo. Além disso, fez uma avaliação do trabalho desenvolvido por Niède Guidon.
Renato Imbrosi, que veio ao Rio para o evento, diz que a "Serra da Capivara mudou a história da Humanidade".
"Sou carioca, vivi no Rio até os 19 anos, onde trabalhava com tecelagem manual, e fui morar em São Paulo. Participei de projetos de valorização do artesanato brasileiro, sempre ligado ao desenvolvimento de comunidades locais. Há até pouco tempo, dirigia uma escola de artes e ofícios em Moçambique."
Confira a entrevista na íntegra!
Conte algo que não sei.
O Museu do Homem Americano (que reúne o patrimônio cultural deixado pelos povos pré-históricos na Serra da Capivara) é pouquíssimo conhecido pelos brasileiros. Quando se fala da Serra, não é todo mundo que identifica imediatamente. Minha curadoria precisava mostrar os vários sítios arqueológicos da região.
Como sua relação com a Serra da Capivara começou?
Eu prestava consultoria para uma entidade no Piauí quando fui convidado por ela a trabalhar no estado. Eu mesmo pedi que me mandassem à Serra, porque a cerâmica de lá cresceu ao longo dos anos e porque outros designers trabalharam na região. Achei que tinha alguma coisa a contribuir.
Que impressões você teve de lá?
Eu fui para fazer uma coleção. Ao chegar, todo mundo mostrava as peças de cerâmica com inscrições rupestres, que é a grande força dos artesãos. Mas reparei, meio que nos bastidores, que eles esculpiam pequenos personagens e animais da fauna local nos intervalos do trabalho. Sugeri que colocassem isso numa linha de produção, porque havia um grupo que desenhava na cerâmica, enquanto outro pintava e outro esculpia, tudo em equipe. Eles toparam fazer uma coleção a partir disso. Um ano e três meses depois da primeira visita, retornei à Serra e fiquei impactado com o resultado. Foi então que pediram que eu fizesse uma curadoria da cerâmica da Serra da Capivara. Eu queria exatamente comparar o homem da pré-história com esse homem atual, que ainda faz cerâmica, e uma cerâmica de referência.
Por que as pessoas deveriam conhecer as inscrições rupestres e a história da Serra?
Assim como conhecem o Corcovado e o Pão de Açúcar, elas precisam conhecer esse sítio arqueológico, que é do Brasil e do mundo. Acredito que sejam idênticos em termos de importância, porque a Serra mudou a história da humanidade. Ao chegar na Pedra Furada ou nos paredões rochosos, que são um grande cartão postal, encontra-se uma quantidade de inscrições raras e quase únicas.
O que se descobre através dessas inscrições?
Elas mostram que essa região, como diria Niède Guidon, por ser uma beleza única no mundo, inspira criatividade e inovação. Acho que isso foi feito lá atrás, na pré-história, e continua sendo feito hoje.
Qual a sua avaliação sobre o trabalho de Niède Guidon?
É uma arqueóloga paulista que ouviu falar desses sítios na década de 60 e, tempos depois, ficou impressionada com o lugar, tanto que se mudou para trabalhar. Ela tem destaque não somente por suas pesquisas, mas criou uma fundação e o Parque Nacional da Serra. Guidon vem brigando há anos com o governo brasileiro para conseguir manter um patrimônio da humanidade. Ao mesmo tempo, é muito bem vista por ter criado escolas de artes e ofícios, sendo uma delas a de cerâmica, que existe até hoje.
Por que trabalhar com cerâmica é importante para a sociedade?
A cerâmica e suas inscrições ajudam a gerar renda para a comunidade e a preservar o parque. De uns cinco anos para cá, ela também se distribuiu muito para grandes negócios, principalmente em São Paulo. A cerâmica é o que vende a imagem da Serra da Capivara