Por José Osmando de Araújo
Na quarta-feira passada, 11 de Janeiro, três dias após os atos terroristas que culminaram com o golpe que ocupou e depredou os palácios-sedes dos três poderes da República, em Brasília, o Brasil presenciou um dos mais significativos momentos de sua recente história: a posse de Sônia Guajajara como a primeira titular do Ministério dos Povos Indígenas, e de Anielle Franco, como Ministra da Igualdade Racial.
Digo isso, porque entendo que, ao lado do desemprego e da fome que atinge milhares de brasileiros, são essas as maiores desgraças nacionais. Secularmente, os povos indígenas e os negros são os segmentos de nossa população mais atingidos pelo preconceito, pelo desrespeito, pelo descaso, pela usurpação, pela violência e mortes.
À frente da pasta dos Povos Indígenas, Guajajara entra para história ao se tornar a primeira indígena a chefiar um ministério.
NOVO TEMPO
Em seu vigoroso e corajoso discurso de posse, após enumerar os graves problemas causados às populações indígenas brasileiras, como a intoxicação gerada por mercúrio dos garimpos, pelos agrotóxicos das grandes lavouras, os crescentes desmatamentos, as invasões ilegais de suas terras por garimpeiros, as condições degradantes de saúde e saneamento e a violência que já matou centenas de indígenas, Sônia Guajajara cravou uma frase que constitui verdadeiro símbolo desse novo tempo que se inicia:
“É hora de reflorestarmos mentes e corações rumo a uma Democracia do Bem Viver de todos os brasileiros e brasileiras.”
APELO
Seu apelo ao reflorestamento de mentes e corações tem bastante significado, num momento em que o Brasil passa por grave crise de desagregação, de amarga intolerância, de ódio e violência. O que se viu em Brasília no dia 8, é o soberbo reflexo de um grupo fanatizado, vitimado pela quebra do respeito imposta por um governo, recente, que governou para um pequeno grupo e forneceu espaço para que a extrema direita assumisse postura de mando, numa forma perversa de enxergar o país.
Isso tudo, me parece, tem a ver com a crescente aproximação dos militares da política, por meio transverso, fazendo diminuir o propósito social tradicional das Forças Armadas, com grave e marcante modificação de suas funções.
Tirando proveito do que nos recomenda a Ministra dos Povos Indígenas, penso que é hora de mentes e corações dos militares serem agora ocupados por missões relevantes e humanitárias, como no passado foram capazes de realizar. Além de missões internacionais marcantes, como as realizadas em Moçambique, Angola, Timor Leste, Haiti e Líbano, que ajudam a consolidar o nome do Brasil no exterior e fortalecê-lo junto à ONU, as nossas fronteiras e a própria Amazônia são destinos naturais para que nossos militares ponham em prática o seu caráter social, na estratégia de consolidação de um projeto de Nação.
MISSÃO IMPORTANTE
Além do que, dedicar-se à ciência, tecnologia e inovação, como maneira de renovar e atualizar as Forças Armadas, sobretudo Marinha e Aeronáutica, penso ser uma missão importante para os militares brasileiros, retirando-os da influência e dos privilégios a que foram submetidos nesse último governo, e devolvendo-os ao seu verdadeiro caráter institucional.