A UTI Neonatal do Hospital Central da Santa Casa de São Paulo prestou atendimento a Juliana Ferreira da Silva, mãe de Matheus Henrique, recém-nascido diagnosticado com disfunção cardíaca que teve marca-passo implantado após 24h do seu nascimento.
A mãe do bebê conta que recebeu o diagnóstico no 5º mês de gestação durante o pré-natal e sofreu com a expectativa de saber se seu filho nasceria vivo. “Tive ansiedade quando descobri que ele tinha esse problema, mas o Hospital me atendeu muito bem, o médico que operou, o anestesista e enfermeiros, todos me tranquilizaram”.
De acordo com Dr. Daniel Bartholo Hyppolito, médico cirurgião cardiovascular, Matheus tem bloqueio átrio ventricular total ou de terceiro grau. “Essa arritmia não é rara, nós lidamos com isso todos os dias, mas em adultos. A maioria dos bloqueios são adquiridos, ou seja, a pessoa nasce com o coração em ritmo normal e com o passar do tempo adquire, porém a maioria dessas pessoas são sexagenárias”, contou o médico.
O médico ressaltou ainda que a criança nasceu com tamanho adequado, peso adequado, altura ideal e nas primeiras 24h que teve que esperar para colocar o aparelho no coração, respondeu muito bem e não teve nenhuma complicação.
Como a frequência cardíaca do bebê era baixa ele teria dificuldade de mamar, já que os ventrículos não batiam numa frequência normal, apenas os átrios. A disfunção de Matheus foi identificada ainda no ventre materno por meio de exame de ecocardiograma intrauterino.
A primeira criança no Brasil a ter marca-passo
Ana Mafalda Goulão Correia foi à primeira recém-nascida a passar por cirurgia de implantação de marca-passo no Brasil. Seu procedimento aconteceu na Santa Casa de São Paulo em 1964, quando tinha três meses de vida. O implante foi realizado pela Equipe de Cirurgia Cardíaca coordenada pelo Dr. Hugo J. Felipozzi.
Ao contrário de Matheus Henrique, que tem um aparelho de 24 gramas, Mafalda recebeu um marca-passo na região do abdômen que media cerca de 7 centímetros de comprimento por 6 de largura e pesava 184 gramas.
Na época os marca-passos não tinham recursos, mas hoje estão modernos e conseguimos programar até a frequência dos batimentos, isso é muito bom para o paciente, porque uma vez colocado o aparelho é só esquecer que ele está implantado e ter vida normal”, relatou o Diretor do IPITEC – Instituto de Pesquisa, Inovação Tecnológica e Educação, Dr. Luiz Antonio Rivetti.
Já o Dr. Wilson Lopes, coordenador da Equipe de Estimulação Cardíaca Artificial destaca que com o desenvolvimento tecnológico das baterias e dos circuitos desses aparelhos implantados, aliados ao avanço da medicina dão ao paciente uma recuperação mais rápida com menores riscos, já que o trauma para implantação do marca-passo é menor. Com esses aparelhos atuais que possuem a uma enormidade de recursos tecnológicos, possibilitam não só uma cirurgia mais segura, mas também um acompanhamento clínico mais eficiente.
A mãe de Ana, Maria Constança Goulão, lembrou como na época o processo da filha foi doloroso e ao longo da vida passou por 42 cirurgias para troca de aparelhos e baterias.
Dr. Rivetti alerta para o fator de que a vida de um paciente com problema cardiovascular deve ser normal. “O paciente sempre vai achar que a colocação do aparelho vai ser um problema para ele, mas pelo contrário, este procedimento é relativamente simples”.
A paciente que hoje tem 55 anos nasceu com bloqueio átrio ventricular congênito, mas soubemos disto alguns meses depois do nascimento.
Hoje, Ana comemora o fato de levar uma vida normal, mesmo depois de ter realizado diversos procedimentos. “Minha vida foi normal, engravidei, troquei o marca-passo durante a gravidez, depois nasceram meus filhos e eu trabalhava. Nenhuma mãe precisa ter medo de operar o bebê, porque a medicina está muito avançada”.
Desde a cirurgia de Ana Mafalta, a Santa Casa implantou mais de 18 mil marca-passos.