Quatro em cada cinco pessoas na classe C não sabem falar inglês ou outro idioma estrangeiro, segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira (5) pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). O número equivale a 77% da população nesta faixa econômica.
A maioria dos brasileiros neste grupo estudou ou estuda em escolas públicas, onde o ensino de línguas é deficiente ou inexistente, afirma João Ferreira de Oliveira, professor de educação da UFG (Universidade Federal de Goiás).
- Tradicionalmente, é a classe média que matricula os filhos em escolas particulares, aulas de idiomas e outras atividades extraclasse. Isso quase não acontece na classe C, cuja faixa de renda varia entre R$ 600 e R$ 2.099.
Apesar disso, o especialista diz "não ser desprezível" que 23% das pessoas nessa faixa econômica falem uma língua diferente do português - seja inglês, espanhol ou outro idioma.
O número equivale a aproximadamente 23 milhões de brasileiros, levando em conta a estimativa do Ibope de que a população na classe C seja de quase 100 milhões de brasileiros.
- É surpreendente que, mesmo com todas as deficiências de estudo, haja tanta gente nesta classe que fale inglês. Uma das hipóteses que eu considero é que o acesso à internet e a computadores faz com que os jovens aprendam com mais facilidade este idioma.
O levantamento do Ibope traça um perfil dos brasileiros situados na classe C - eles são adolescentes e negros, na maioria. Em Salvador, por exemplo, 41% da população nesta faixa é afrodescendente. Já em Brasília, a proporção cai para 22%.
Sonho da faculdade
O estudo aponta ainda que 37% das pessoas na classe C pretendem entrar em uma faculdade, seja particular ou pública. Trata-se de um "sonho de consumo" recente, que surge a partir de benefícios como o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (linha de crédito universitário com juros baixos do governo federal), na avaliação de especialistas ouvidos pelo R7.
Dois terços desse grupo econômico (67%) avaliam que a qualidade das escolas públicas está igual ou melhor do que no passado, outro dado surpreendente.
O levantamento foi feito em nove regiões metropolitanas do país, no interior de São Paulo e em cidades do interior de Estados nas regiões Sul e Sudeste. Nessas áreas, vivem cerca de 32 milhões de pessoas da classe C brasileira.
A pesquisa do Ibope ouviu 20 mil pessoas de 12 a 64 anos entre fevereiro de 2009 e janeiro deste ano. Cada entrevistado respondeu a cerca de mil questões para completar o estudo.