Promotora da Bahia diz que cárcere privado é o pior tipo de controle

Estudante de Camaçari foi mantida em cárcere privado pelo namorado durante seis meses

| Foto:Reprodução/ Evandro Veiga/CORREIO
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promotora Márcia Teixeira, coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh) do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), afirmou que a prática de cárcere privado é a forma mais radical e cruel do controle, utilizada em casos de violência doméstica. Esse foi uma das situações que estudante Deisiane Souza Cerqueira, 18 anos, sofreu e teve de enfrentar do seu então namorado, o tatuador Marcos Alexandre da Silva, 35.

Deisiane foi torturada e mantida durante seis meses em cárcere privado (Foto:Reprodução/ Evandro Veiga/CORREIO) 

“O cárcere privado seria uma modalidade mais cruel da segregação da rede socioafetiva, que é uma característica do homem que pratica violência doméstica. Normalmente, esse homem usa a técnica para que o controle da mulher fique mais fácil. Ele vai afastando aos poucos a rede familiar, associativa, espiritual dela”, afirmou Márcia, para quem a violência, muitas vezes, é silenciosa.

É muito comum, nos casos de violência doméstica, o controle de ‘não vá, não faça, não estude, não quero, não trabalhe’. O cárcere seria um nível máximo de controle do corpo e do direito de ir e vir”, acrescentou.

A promotora destacou também que é necessário uma maior atenção para o interior da Bahia, onde há aumento nos casos de feminicídio porque as cidades estão “desguarnecidas de forças de segurança e sociais”.

No caso da estudante, Márcia Teixeira acredita que a tese de tentativa de feminicídio cabe dentro das investigações sobre o caso. “Precisa saber se a intenção final dele era a morte, para verificar a tentativa de feminicídio. E tortura é crime hediondo”, disse.

A promotora aponta ainda que a família, como elemento mais próximo das vítimas precisam ficar atentas para qualquer tipo de mudança de comportamento que a pessoa apresente após entrar em um relacionamento.

"Nesse caso teve, por exemplo, a relação de afeto com o pai. Ainda bem que ele foi até a casa dela, mas a violência doméstica pode ser muito silenciosa. Precisamos olhar para isso, para a sociedade, os familiares. Às vezes, a mulher não quer falar, a criança tem medo de contar e nós precisamos insistir", defendeu.

A ativista Sandra Muñoz questionou a aplicação das políticas públicas para mulheres vítimas de violência, como Deisiane.

A gente tem vivido momentos de perda. Que políticas estamos falando? Eu, por exemplo, tinha uma casa que acolhia mulheres e LGBTs e ninguém nunca me ajudou”, criticou. 

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