Violão: “instrumento de cordas dedilháveis, com caixa de ressonância em formato semelhante a um oito, com seis cordas, de diferentes materiais”. Esta definição é facilmente encontrada em qualquer dicionário. Mas engana-se quem acredita que o violão se resume apenas a um instrumento musical que utiliza cordas para produzir o som. Basta olhar, por alguns segundos, para pessoas que tocam violão marcando o tempo batendo o pé, e está explícita a grandeza que ele representa.
O projeto Violão na Escola, realizado por integrantes da Orquestra de Violões do Piauí, membros da Associação de Amigos da Orquestra Sinfônica de Teresina, com o apoio da Fundação Monsenhor Chaves, atende cerca de 400 alunos, funcionando em 10 instituições de ensino.
Além de fornecer instrução musical e aproximar crianças carentes da arte e da cultura, o contato com a música facilita o desenvolvimento do aluno e melhora o desempenho acadêmico.
As aulas acontecem semanalmente, em horários que não atrapalham o andamento das aulas da grade curricular. A princípio, a intenção do projeto era musicalisar as crianças, através de um repertório clássico e popular. “O Violão na Escola não tem, primeiramente, a característica de formar músicos, mas sim a preocupação em dar condições de cidadania para os alunos. Nossa intenção é que eles tenham uma formação cidadã por meio da cultura”, revela Ravi Annael, violonista, professor e coordenador do projeto.
O Violão na Escola tem todo um planejamento, possuindo apostilas, repertório e um método próprio de cada professor para repassar os conhecimentos musicais. “Temos alunos que se destacam e que podem trilhar pelo caminho da música, e os que não quiserem seguir este caminho terão o conhecimento da boa musica e uma transformação cidadã”, completa Ravi.
Aulas tiram crianças do ócio da rua
Para o professor Luciano Santos, o projeto tem grande impacto social, ao tirar as crianças do ócio da rua. “Este projeto é um presente, com ele eu vejo que nem tudo está perdido. Vejo como uma nova vertente de opções ricas para pessoas pobres. Fico alegre em poder contribuir com esse projeto. Rezo para que ele tenha vida longa e chegue a mais crianças”, relata.
Para entrar no projeto, os alunos interessados devem acompanhar o período de inscrição. São colocados avisos nas instituições e são realizados testes de aptidão. “Mesmo que não tenha muito jeito, a pessoa pode se tornar um aluno.
Nós vamos lapidá-los”, comenta Luciano ao destacar que ele é totalmente gratuito. “Tudo é de graça, até o violão os participantes recebem”, acrescenta.
O projeto, que já é realizado há oito anos, já colhe bons frutos. Os alunos que têm um desempenho maior durante as aulas do projeto são convidados para integrar a Orquestra de Violões, que por sua vez tem o Palácio da Música de Teresina como casa.
A Orquestra de Violões de Teresina é, na realidade, uma orquestra-escola formada por alunos que se destacam no projeto, além de seus professores. A coordenação está a cargo do violonista e professor Ravi Annael e a regência sob a responsabilidade do também violonista e professor Filipe Vilarinho.
"Na Orquestra estão os melhores alunos e os professores. Através do Projeto Violão na Escola, os alunos adquirem conhecimento de Teoria e Percepção Musical, Apreciação Musical e Prática Instrumental. Os que se destacam, tocam com a gente”, fala o professor Ravi Annael.
Em seu repertório, a Orquestra de Violões mescla composições eruditas e populares de vários períodos e estilos: de Stravinsky a Baden Powell, de Bach a Tom Jobim, a maioria tocadas com arranjos próprios e de compositores renomados do meio violonístico.
O conjunto já se apresentou em diversas ocasiões como no Festival de Violão, aniversário da cidade de Teresina e no projeto “Concertos Matinais” do Palácio da Música.
Os ensaios da Orquestra acontecem uma vez por semana, no Palácio da Música. Tanto os ensaios, como as aulas do projeto Violão da Escola são programados para ocorrerem sem que haja prejuízo para o aluno na aprendizagem dos demais conteúdos didáticos.
De aluno a mestre
Grandes músicos de Teresina foram descobertos através do projeto. Alguns professores da orquestra são ex-alunos do Violão na Escola. Este é o caso de Paulo Henrique, que já está há 5 anos na Orquestra de Violões de Teresina e ministra aulas no Centro Paroquial do Cristo Rei e no Teatro João Paulo II. Com quase 20 alunos, poder contribuir com a sociedade, oferecendo aos jovens outro tipo de ocupação, foi uma benção para ele. A intenção de Paulo Henrique é que eles se cheguem ao nível de professor, assim como aconteceu com ele.
Isto porque Paulo foi aluno de Silvana Ferreira, que continua ministrando aulas através do projeto e integra a Orquestra de Violões de Teresina. “Fico feliz por ter um aluno que hoje é professor. Isso é resultado de um trabalho de dedicação”, conta Silvana. Para Paulo, poder olhar para trás e perceber o que foi alcançado, é muito gratificante.
“Comecei como aluno e, pelo meu desempenho e reconhecimento do Felipe Vilarinho, que é regente, e todos os outros professores, fui escolhido para integrar a Orquestra”, lembra o professor ao enfatizar que o violão é um instrumento bem complicado. “Estou sempre aprendendo e isso que torna o violão complexo, porque você nunca está no ápice, tem sempre o que aprender”, finaliza.
Dedicação é a marca dos alunos
A mãe de Caio Icaro, Carina Alves, o observa atentamente. Ele tem 12 anos e faz parte do projeto há 3, tendo aulas duas vezes na semana no Centro de Artesanato Mestre Dezinho. Quando toca, chama atenção de todos, pela sua intimidade com o instrumento. “Eu, sendo mãe neste nosso mundo, fico muito emocionada de ver ele tão empolgado ao tocar, porque isto acaba afastando ele de tudo que existe de ruim”, diz a mãe ao comentar que quando completou 8 anos ele chegou para ela e disse que não queria brinquedos, mas sim um violão.
“Assim fiz. Ele começou a tocar em casa, e depois descobrimos o projeto”, acrescenta. Caio Icaro é aluno do 7º ano da Unidade Escolar Professora Osmarina, localizada no bairro Angelim I, zona Sul de Teresina. Ele é muito dedicado e não perde nenhuma aula. Além do violão, toca contrabaixo e guitarra. “Desde pequeno que gosto de música. Meu sonho é ser professor de violão e tocar na Orquestra de Violões de Teresina”, revela Caio ao frisar que um de seus incentivadores foi seu tio, Evanaldo Raimundo dos Santos. Mesmo com esse apoio, foi Silvana Ferreira quem passou todos os ensinamentos relacionados ao violão para Caio.
Além do Centro de Artesanato, ela ministra aulas no Parque Piauí e na Paróquia do Cristo Rei. Cada uma de suas turmas tem entre 10 e 12 alunos, que aprendem a apreciar a música. “Cada professor tem sua maneira de ministrar aula, eu dou os três primeiros meses de teoria, para eles aprenderem a ler a partitura e depois a prática”, declara.