Produzir alimentos limpos e saudáveis é o objetivo do Projeto Agrofloresta, desenvolvido pelo agricultor Antônio Cícero Costa, 42 anos, no município de São João da Serra, no Piauí. O projeto consiste na prática agrícola limpa e viabiliza o cultivo de produtos orgânicos e com sustentabilidade.
O agricultor assume papel importante na produção e preservação dos recursos naturais, há o fortalecimento da agricultura familiar e o resgate de suas raízes culturais. "Estimular a participação homem nas estruturas sociais agrárias baseadas em boas práticas agrícolas", diz Antônio Cícero.
O objetivo é produzir alimentos de boa qualidade com sabores e qualidades nutricionais preservadas e com baixo custo, com menos impacto ambiental e social. "Estamos preocupados com o ser humano contemporâneo, com sua saúde e com os impactos gerados pelo homem que esquece a fauna, a flora e todos os demais recursos naturais em nome de um progresso chamado lucro. Então, visamos fortalecer a nutrição que é um dos principais fatores de promoção de saúde humana e qualidade de vida", explica.
O agricultor declara que alimentos produzidos em solos equilibrados e ricos em nutrientes produzem os melhores frutos, verduras e cereais, e os de origem agroecologicas contém mais minerais, aminoácidos, vítaminas C, açúcares totais e fitoquímicos quanto os de cultivos em sistemas geneticamente modificados.
Antônio Cícero relata sua experiência e diz que em 2016 atuava na educação de trânsito e por curiosidade leu uma matéria sobre a vida e trajetória de Ernest Gosht. "Fiquei muito curioso para conhecer de perto o Sistema Sintropico desenvolvido por ele. Porque eu tinha a certeza de que esse sistema seria viável para a nossa região e logo uma pessoa que atua na agricultura familiar quilombola no Piauí me apresentou a AGRODOIA, um projeto sustentável Sintrópico idealizado pelo agroflorestor Vilmar Lermen e sua família, localizado na chapada da Araripina ( Exu- PE). Não pensei duas vezes e me aproximei deles e recebi total apoio, participei de capacitações com eles, horas a fio de conversas, vídeos, fotos, suor, sol, chibancas facão, enxadas. Retornando a São João da Serra em 15 de novembro de 2018", conta.
Desde então, ele vem executando a implantação de Sistemas Agroflorestal Sintropicos (SAFs) de maneira voluntária. "Nosso grupo já conta com mais de 50 agricultores que trabalham na Legião da Boa Vontade e sem fins lucrativos. Nossas atividades de plantações são realizadas nos finais de semana e feriados, temos intensificado as culturas forrageiras com foco em Palmas forrageiras, Amendoins, Girassol, Cana-de açúcar, Braquiárias existentes na região e algumas adquiridas em trocas de sementes entre agricultores de outras regiões. Temos plantado também a melancia-de-cavalo, feijão-de-porco para complementar a nutrição animal já que esses gêneros oferecem melhores condições de armazenamento a longo prazo e oferecem ricas fontes de energias minerais", relata.
Antônio Cícerto destaca o apoio recebido pela Prefeitura municipal que demonstrou interesse pelo projeto como forma de contribuição na merenda escolar. "Por isso, estamos capacitando agricultores para produzir alimentos orgânicos e futuramente comercializar no município. Estamos aguardando apoio da EMATER-PI, Secretaria Municipal de Educação, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Associações de moradores para a execursão de um projeto "Roça Comunitária" onde iremos plantar gêneros agrícolas (com foco em arroz) em larga escala nas áreas urbanas que estiverem desocupadas", diz.
No projeto, são cultivados fruticultura, plantas ornamentais, forrageiras, madeiras nativas de lei e nobres, culturas anuais, manga, caju, acerola, açaí, mamão, banana, jaca, macaxeira, mandioca, amora, abacate, mogno, pumpunha, araruta, cabaça, Gliricidia, graviola, biribá, espinafre, laranja, amendoim- de- árvore, fruto-do-conde, junco, sorgo, oiti, cacau, café, abricó-de-sao-domingos, pau d'arco, batata doce, mombaça, cebola, ervilha, tamboril, milho, buriti, feijão, arroz, dentre outras culturas.
"Contamos com 17 famílias em nosso grupo, plantando, estratificando, regando, podando, colhendo, replantando, fazendo coberturas de solos. Mas nosso objetivo é que todos os agricultores adotem a agricultura Sintropica para a produção de seus próprios alimentos", comenta.
Agrofloresta é viável às condições climáticas
O projeto pode ser executado tanto em pequena e larga escola. A Agrofloresta é o único sistema agrícola que não exige espaço e pode ser adaptável às condições climáticas, físicas e econômicas. "Geralmente, todos os agricultores que participam de capacitações implantam nos quintais, horta, jardim, chácara, roça e isso é motivador, tanto que em pouco tempo, já temos colhidos bons frutos oriundos de produções de agricultores que aderiram ao sistema", afirma.
A viabilidade é um ponto positivo, pois não é necessário comprar insumos químicos, corrigir solos com calcários, aplicar formicidas, herbicidas, pesticidas, que geralmente custam preços elevados e sem contar as sementes híbridas que chegam ao mercado com preços não acessíveis a todos. "Usamos materiais orgânicos (folhas de árvores, esterco, palhas...) que estão em franca expansão e sem custos. Os sistemas que oferecem o melhor custo benefício é o " Sisteminha Embrapa" de apenas 225m quadrados, nele é possível cultivar mais de 100 espécies e todas produzem bem e em harmonia com o meio ambiente", diz o agricultor.
No momento, as atividades estão paradas devido ao isolamento, mas logo que tudo voltar à normalidade, Antônio Cícero idealiza uma capacitação em hortaliças orgânicas. "Até o momento presente essa capacitação será reservada aos membros do grupo mas se a sociedade civil ou poder público manifestar interesse, podemos estudar as propostas que nos apresentarem. Após a horta orgânica, iremos plantar 10 mil raquetes de palma forrageira em 10 localidades do município para ajudar na alimentação animal no longo período de estiagem", explica.
Para Antônio Cícero, o grande diferencial em relação aos sistemas tradicionais paliativos ou mecanizados onde o agricultor trabalha 11 meses, colhe em 1 mês e consome no outro e não deixa nada para regenerar o solo, além de incêndios que destroem o bioma e afeta todos os ecossistemas. "Na Agroecologia é diferente, o que você planta em um dia, passa 11 meses colhendo e deixa matéria orgânica no solo equilibrando o pH, preserva espécies ameaçadas e deixa árvores para futuras gerações", comenta.