Projeto combate a pobreza menstrual em Teresina

No Brasil, o Girl Up protocola projetos de lei de combate à pobreza menstrual. No Piauí a ideia é a mesma, com o contato com deputados estaduais para garantir absorventes gratuitos

Campanha | José Alves Filho
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O projeto Girl Up surgiu há dez anos como uma iniciativa da Fundação das Nações Unidas de engajar meninas na luta local em prol da equidade de gênero. Em qualquer lugar do mundo uma menina pode fundar um clube, cadastrando-o na plataforma virtual do Girl Up e reunindo outras garotas que tenham como objetivo promover a equidade de gênero. No Piauí o projeto é tocado por Lívia Fontenele, presidente e fundadora do Clube Girl Up Teresina.

Girl Up atua como suporte a instituições de assitência social - Foto: Divulgação

O projeto visa, de início, a coesão de garotas: meninas unidas são mais fortes em suas metas e pretensões. Para que o grupo cumpra seu objetivo primordial, são realizadas reuniões para debate de diversas temáticas relacionadas à seguridade dos direitos femininos, identificando problemas e encontrando soluções, e ações de defesa, arrecadação e propagação de informação.

Na questão da defesa, o Girl Up advoga junto a parlamentares para a aprovação de leis que assegurem os direitos pelos quais o grupo luta. No Brasil, o Girl Up protocola projetos de lei de combate à pobreza menstrual. No Piauí a ideia é a mesma, com o contato com deputados estaduais para garantir absorventes gratuitos no Estado.

O clube da capital distribuiu centenas de absorventes - Foto: Divulgação

Em Teresina não é diferente. O clube da capital distribuiu centenas de absorventes através de instituições de serviço social da cidade. “Ainda há poucas pesquisas em relação à pobreza menstrual no Brasil, então, consequentemente, os dados em Teresina são ainda mais escassos. Com os dados que temos, mais de 25% das meninas brasileiras de 14 a 17 anos não têm acesso a absorventes e, com as poucas pesquisas no Piauí, os índices chegam a 30%”, estima Lívia.

A pobreza menstrual afeta até mesmo nas relações sociais. “Além de um problema de saúde pública, já que pobreza menstrual interfere na regulação do ciclo hormonal e na higiene física de milhares de meninas, o que mais preocupa são as consequências no trabalho e na educação. O fato de mulheres e meninas não terem acesso a um item básico de higiene as afasta das escolas, em dias de fluxo, e do trabalho”, acrescenta a presidente e fundadora.

Absorvente para quem precisa!

No Piauí, projeto é tocado por Lívia Fontenele - Foto: José Alves Filho/Jornal MN

Lívia Fontenele explica que as meninas de Teresina vivem uma situação grave de vulnerabilidade social. Daí a necessidade de combater a falta de absorventes nos lares mais pobres. “Em Teresina, é ainda mais preocupante, já que se acentua as disparidades socioeconômicas e de gênero já existentes. Justamente por isso é tão necessário erradicar a pobreza menstrual. No Piauí, as meninas do Girl Up elaboraram um Projeto de Lei que, hoje, está na ALEPI para democratizar o acesso a absorventes para todas as mulheres piauienses. Mas como a colocação de uma lei em prática é extremamente demorada, estamos suprindo as necessidades das mulheres teresinenses por meio de doações”, considera.

O grupo permanece arrecadando e distribuindo asborventes. “As distribuições feitas pela arrecadação, que ainda está acontecendo, foram para assistentes sociais que distribuem kits de higiene a mulheres de rua teresinenses, para a Casa Zabelê, para o Carmelo e para a Casa Savinna Petrilli. Até agora, foram mais de 550 pacotes de absorventes distribuídos, mas as distribuições ainda não cessaram”, contabiliza Lívia.

Pobreza menstrual afeta relações sociais - Foto: DivulgaçãoO Girl Up é um projeto desenvolvido pela Fundação das Nações Unidas para engajar, localmente, meninas de 14 a 22 anos na luta em prol da equidade de gênero. “O Girl Up Teresina, ligado ao projeto, é um grupo de meninas que veem nessa causa uma forma de melhorar a segurança, a educação e a saúde de mulheres para promover a emancipação feminina. Dentro do grupo, há subdivisões de funções, já que agimos em diversas áreas da causa. Há responsáveis pelos projetos de lei encaminhados à Assembleia Legislativa do Piauí, pelas arrecadações, pela elaboração de debates e por contar histórias de garotas que inspirem outras garotas. Enfim, é uma forma de meninas liderarem em prol de toda a sociedade”, pontua.

Casa de Zabelê: uma das instituições beneficiadas

Distribuição ocorre em centros que presentam serviço de assistência social - Foto: José Alves Filho

A Casa de Zabelê atende mais de 100 meninas que precisam da instituição para tomar banho e coletar o próprio fluido menstrual de forma saudável. Os kits de higiene, que incluem shampoo, sabonete e absorvente, são distribuídos todos os meses. Com a pandemia, a demanda cresceu, e o apoio do Girl Up foi fundamental nesse processo.

É o que explica Suely Coelho, coordenadora da Casa de Zabelê. “Nós atendemos crianças, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade social. Principalmente aquelas que sofreram abusos, violência e exploração sexual. A pobreza menstrual é uma realidade preocupante. A maioria das meninas que atendemos não têm condições de comprar um absorvente, que a cada dia que passa fica mais caro”, atesta.

Foto: José Alves FilhoA meta de atendimento é sempre superada. “Esperamos atender até 100 meninas, mas sempre chega a quase 120. Fazemos os kits, então a demanda é grande por absorventes. A ajuda do Girl Up veio em boa hora para conseguirmos suprir os kits, que são distribuídos por nossa equipe de assistência social”, acrescenta Suely.

A coordenadora afirma que essas garotas merecem zelo e proteção. “Algumas meninas até recebem uma bolsa que a gente paga, mas esse valor é mais para suprir a alimentação. Falta para o absorvente”, finaliza.

Foto: José Alves Filho

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