Laio, Leif e Liana. Três irmãos e muitas coisas em comum, entre elas o gosto pela música. Passando de geração a geração, a música faz parte da vida deles há alguns anos, através do projeto Bandas-Escolas.
Com a mesma dedicação e objetivo, eles e outros 37 alunos da Escola Municipal Parque Itararé aprendem todas as técnicas necessárias para entoar grandes clássicos em seus instrumentos.
O projeto iniciou em 1988 como um dos mais importantes centros de formação de instrumentistas para a música do Piauí. Ao todo são 27 anos e durante esse tempo a iniciativa foi capaz de transformar vidas, despertando nos jovens o gosto pela música.
De caráter comunitário e aberto à população jovem, residente nos bairros periféricos e povoados da capital piauiense, nele cada participante tem a oportunidade de aprender um instrumento musical de sopro ou percussão que compõe a estrutura da banda de música.
Segundo Gustavo Cipriano, coordenador do projeto de banda na Escola Municipal Parque Itararé, o projeto acontece em todas as regiões da cidade de Teresina.
Além do Parque Itararé, escolas dos bairros Cerâmica Cil, Alto da Ressurreição, Piçarreira, Mocambinho, Santa Maria da Codipi e Parque Dagmar Mazza recebem o projeto.
Cada banda recebe um nome diferenciado, que homenageia uma pessoa renomada no cenário musical. A banda do Parque Itararé homenageia o maestro de Recife, com a nomenclatura: Banda Infanto Juvenil Maestro Duda.
Gustavo Cipriano está desde 2007 como professor da banda e foi aluno do projeto na escola Parque Itararé. Atualmente, a banda desta escola possui 40 integrantes, na faixa etária de 9 a 18 anos, entre alunos e ex alunos. Durante uma formação média de três anos eles conseguem atingir um nível técnico que os habilitam a pleitear um espaço dentro do mercado musical profissional.
“Os alunos começam aqui na escola, quando eles chegam ao nono ano do ensino fundamental, saem para cursar o ensino médio em outra escola, mas continuam no projeto”, explica Gustavo. Laio, Leif e Liana, os três da família Barbosa, integram a Banda Infanto Juvenil Maestro Duda.
Leif, de 19 anos, é ex-aluno e entrou no projeto em 2007, junto com o irmão Laio, de 23 anos. Já Liana, de 11 anos, entrou no começo deste ano e está se aperfeiçoando nas técnicas do clarinete. “Laio que me incentivou”, conta a menina.
Leif é autodidata e sabe tocar trompete, contrabaixo, bateria, piano, guitarra, violão, bombardino e trompa. “Na banda eu fico apenas no trompete e contrabaixo”, destaca Leif ao revelar que gosta de fazer parte do projeto porque ele preza por uma cultura que não é vista no dia a dia.
Dedicação se estende à sala de aula
Nas escolas, as bandas de música ajudam a manter a disciplina dos alunos, já que para se obter êxito musicalmente, é preciso que haja um comprometimento com os estudos.
O aprendizado musical nas Bandas de Música se difere do modelo adotado nas Escolas de Músicas Tradicionais porque possuem uma prática de ensino dinâmica, ministrada pelos mestres e por ou-tros membros da banda.
Para o diretor da Escola Municipal Parque Itararé, Solisticios Melão de Oliveira, são vários os benefícios do projeto. “Além da inclusão social neste meio em que convivemos, eles trabalham o aspecto preventivo.
Os alunos se concentram tanto nas aulas de música quanto nas aulas das disciplinas regulares. Temos alavancado resultados excelentes com a profissionalização e aprendizagem”, destaca.
Gustavo Cipriano afirma que o Bandas-Escolas trabalha com lado social e não é somente com a parte de educação musical. Além disso, muitos jovens do projeto já vivem da música.
Laio Barbosa, de 23 anos, toca saxofone. Ele pretende continuar na carreira musical e se tornar professor do projeto. “Já dei aulas de música pelo Mais Educação, mas ainda quero continuar repassando o que aprendi dentro deste projeto”, disse.
Professores são exemplos para os alunos
A maioria dos instrutores que hoje orientam os garotos é ex-aluno do projeto. Além disso, os que se destacam passam a compor a Banda Jovem de Teresina.
A principal filosofia do Bandas-Escolas é revitalizar a música das bandas de coreto como uma prática contemporânea, sem abrir mão das tradições, através da formação musical de jovens nos bairros da cidade.
Gustavo Cipriano é ex-aluno da Escola Municipal Parque Itararé e começou na banda tocando clarinete. Hoje, é saxofonista e regente da banda. “É muito gratificante chegar onde cheguei. Sempre conto minha história para que sirva de incentivo, para eles tomarem como exemplo”, declara.
Ao colocar no mercado novos instrumentistas com sólida formação musical, prática e teórica, o projeto desempenha um papel fundamental para a preservação e continuidade da produção cultural das bandas de músicas em Teresina.Nas escolas, os alunos participam de ensaios semanais. São 3 vezes por semana e as aulas têm duração de 2 horas.
“Temos uma prática relacionada à questão da técnica do instrumento e estudos relacionados também à parte teórica. E o mais importante: o lado social. Nossos alunos são carentes e somos mais que professores para eles”, relata Gustavo.
O projeto Bandas-Escolas é executado pela Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves e Secretaria Municipal de Educação (SEMEC), com parceria ainda da Orquestra Sinfônica de Teresina. Os parceiros mantêm toda a estrutura. Os instrumentos são gratuitos e há apoio para o fardamento e a manutenção do projeto.
Escolha do instrumento depende do aluno
As bandas tocam vários estilos, desde o dobrado até o jazz. Clarinete, saxofone alto, tenor, trompete, trombone, tuba, bateria, bombardino, lira, sousafone, bomba e o tambor fazem parte da lista de instrumentos oferecidos aos alunos.
Gustavo Cipriano explica que a escolha de qual instrumento o aluno vai aprender a tocar é feita de acordo com as atividades realizadas em sala de aula.
"Também avalio a estrutura corporal dele, porque têm instrumentos grandes a que nem todos se adaptam, e ainda observo como eles desenvolvem a parte prática", conta o professor.
Cada banda-escola possui 1 ou 2 regentes. A maioria delas já tocou em convenções internacionais, em aberturas de solenidades pelo Piauí e em concertos didáticos nas escolas. Gabriela de Sousa está há duas semanas no projeto.
Seu instrumento é a lira, que a acalma quando está chateada. "Tudo me chama atenção neste instrumento, mas o principal é a calmaria que ele me dá", diz.
A mãe de Gabriela, a dona de casa Rosimare de Sousa Marino, sente orgulho da filha e incentiva para que ela continue indo às aulas. "Ela me pediu para entrar na banda. Vim até a escola e a matriculei. Agora, ela estuda pela manhã e tem aulas de música na parte da tarde", comenta.