Professores da UFPI são contra o Future-se

O Future-se é um programa anunciado pelo MEC que visa estimular a captação de recursos privados nas universidades públicas federais. Pelo menos cinco instituições de ensino no país são contrárias à proposta.

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O Future-se, programa anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) para estimular a captação de recursos privados nas universidades públicas, vem ganhando cada vez mais críticas contrárias à sua adesão. Pelo menos cinco universidades já se manifestaram oficialmente contra o programa, como Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal do Amapá (Unifap) e, agora, a Universidade Federal do Piauí (UFPI). A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Piauí (ADUPI), que há 40 anos mantém o objetivo de unir os docentes da Universidade na luta por direitos e melhorias, vai contra a implantação do Future-se. 

Na presidência da ADUFPI, desde fevereiro de 2016, Jurandir Lima conta que as ações do Governo Federal de alcance social visam cortar e diminuir investimentos. Com o status adquirido pela Universidade e diante da sua grande estrutura de funcionamento,  a dimensão dos prejuízos que a  instituição vem sofrendo é ainda maior. “Os cortes atingiram os terceirizados de segurança, da limpeza e administração. Foram suspensos os concursos para técnicos e para professores e agora, por fim, o governo ataca os estudante, que até então era um segmento da Universidade, que sofria de forma secundária”, conta

O presidente da ADUFPI prevê condições que dificultam o ambiente acadêmico de uma Universidade pública de qualidade.

"O Future-se adota uma concepção mais privatista da educação superior do que todas as medidas tomadas até agora. Do ponto de vista administrativo, ele apresenta uma proposta em que as gestões,    como reitorias e pró-reitorias, vão ser decorativas, pois as Universidades serão gerenciadas administrativamente por Organizações Sociais (OS) que terão o  corpo administrativo funcional por meio dos critérios de mercado”, explicou o presidente da ADUFPI.

Caso as Universidades apoiem o Future-se, elas terão que captar no mercado as receitas para o seu custeio. Segundo Jurandir, o projeto tem uma proposta de financiamento para educação pública superior que altera dispositivos constitucionais.  Por exemplo, dentro da autonomia financeira das Universidades, que é mantida pelo governo federal e pelo MEC.

“O outro problema que ele apresenta é que, sendo feito em uma perspectiva do mercado, quais são as empresas e empreendimentos de mercado que vão investir em instituições cujos objetivos de suas pesquisas são voltados para ganho social, cultural e de produção de massa crítica?”, questionou. 

De acordo com as palavras de Jurandir, o mercado está preocupado em financiar pesquisas que ao final geram um produto, e que isso seja colocado em uma dinâmica de mercado na perspectiva de lucro. Isto é, o Future-se é mais voltado para as áreas de ciências tecnológicas, como cursos de Informática e áreas da Saúde, como Medicina. 

Crédito: José Alves Filho

“Mas a Universidade não é feita só com áreas do conhecimento que geram produtos. Algumas áreas do conhecimento geram outros produtos abstratos: conhecimento, qualidade de vida, formação de cidadania, a formação de sujeitos críticos, cidadãos autônomos, aptos a governar e a receber um governo”, expressou Jurandir.

“Qual é o empreendimento privado que vai investir na formação de professores? Qual  o produto,     além do sujeito crítico, do sujeito capaz,  apto a transformar outros sujeitos a partir da educação? Qual é a iniciativa privada que vai investir em programas de atuação no semiárido para diminuir os impactos da seca  no Nordeste como um todo?”, questiona. 

Diante das informações disponibilizadas por Jurandir Lima, a UFPI tem 39 mil alunos matriculados. Desses, mais de 30 mil são nas áreas de Licenciatura, que formam professores. 

Cortes põem em risco funcionamento da instituição

Desde o começo do ano, o conjunto de políticas públicas ainda mais agressivas em relação ao corte de custos e investimentos nas instituições públicas de ensino superior geram um alerta para UFPI, que, até janeiro de 2018, funcionava com o orçamento de 2014 com contenção de 30%. Agora, desde o começo de 2019, e após o bloqueio de mais de R$ 33 milhões, que representam quase 50% do orçamento para o período entre maio e dezembro de 2019,  o funcionamento da UFPI se encontra em risco. 

Na segunda-feira, pela primeira vez na Universidade, houve uma assembleia comunitária proposta pelo Conselho Universitário (Consun) para discutir o projeto. O Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal do Piauí (SINTUFPI), assim como o Diretório Central dos Estudantes e o segmento docente decidiram, por unanimidade, que a UFPI não deve aderir ao Future-se.

Agora, o Conselho dos Estudantes precisa encaminhar formalmente, junto ao MEC, se a instituição vai aderir ou não. 

Com relação às manifestações, há uma organização de movimentos sociais, sindicais e estudantis indicando uma paralisação de 48h no setor da educação para o final de setembro, em que o dia  será decidido nos próximos dias em Brasília (DF).

Jurandir Lima expressa indignação com as medidas do atual governo voltadas para a educação. Para ele,  ao longo de toda a trajetória de ensino superior no Brasil, que já permeia mais de 90 anos, nunca um Governo Federal, deliberadamente, colocou a educação como uma inimiga do próprio governo. 

“Há toda uma narrativa que tenta desconstruir a importância da Universidade e que tenta construir nela um caráter negativo para sociedade, quando tacha professores de produtores de balbúrdia, quando trata a maioria dos estudantes como desocupados ou quando trata a própria instituição acadêmica como um espaço que não produz resultados e pesquisas para a sociedade”, falou o presidente da ADUFPI. (A.S.)

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