Passavam-se vinte minutos do horário previsto para o início da primeira aula de filosofia do curso de agronomia do Instituto Federal Sertão Pernambucano, zona rural de Petrolina (PE), e a professora ainda não havia aparecido. Além dos impacientes alunos, somente uma faxineira, limpando a sala.
Ou era o isso que pensavam os alunos, que então começaram a reclamar. Indignados, comentavam sobre o acintoso atraso da professora, enquanto eles não poderiam jamais atrasar. A faxineira então se interessa, e pergunta qual era aquela aula. Diante da resposta dos alunos, ela segue: o que é filosofia?, ela pergunta. Irritado, um dos alunos respondeu: uma coisa que inventaram para reprovar estudantes.
Mal sabiam eles que a tal faxineira era na realidade a própria professora de quem falavam. Sua identidade secreta só foi desvendada quando uma assessora adentrou o recinto, e a reconheceu. Antes disso, ela pode conversar incólume com os alunos sobre temas que interessam diretamente ao curso de filosofia, sem que eles sequer soubessem que já estavam estudando.
“Aqui na instituição, a equipe de limpeza é maravilhosa, mas os alunos passam, esbarram e nem veem. Chamei a atenção para isso”, ela conta. “Nas aulas, a gente trabalha os temas de ética. Quando eu me proponho e, trazer um tema para os alunos, tenho a preocupação de que eles se apaixonem pela disciplina. Para mim, todo mundo nasce filósofo. E de repente, a gente para de agir assim. Em sala de aula quero rever isso e fazer com que os alunos voltem a questionar tudo”, explicou. Mesmo ao fim da aula, nem todos os alunos acreditavam que ela de fato fosse a professora. E sua ideia era mesmo essa: provocar os alunos, a fim de que pudessem questionar e se afetar por tudo que se dá à volta deles.