A reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) recebeu, nesta semana, mais um pedido de apuração contra atos preconceitusos em campus da instituição. Após denúncias recentes sobre racismo e sexismo, desta vez, alunos e professores apontam um caso de homofobia ocorrido dentro de sala de aula, na Faculdade de Direito. A informação foi confirmada pela assessoria da instituição, que afirmou estar apurando a situação, mas ainda não ter aberto processo administrativo para investigação.
Conforme postagem feita no perfil do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) no Facebook, o professor José Marcos Rodrigues Vieira teria dito em aula para alunos do 5º período, no dia 23 de março: “graças a Deus existe um pouco de heterossexualidade no Direito”. A frase teria a intenção de condenar a homossexualidade, segundo petição. Ele ainda criticou a cena protagonizada pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na telenovela “Babilônia”, da TV Globo. O folhetim também foi alvo de críticas de grupos religiosos contrários à união homoafetiva, no mês de março.
Contrários às declarações, muitos alunos se retiraram da sala de aula e foram chamados de “vagabundos”, conforme detalha a petição, por “estarem supostamente despreocupados com aquilo que ele ensinava". Uma das alunas presentes também teria se manifestado contra a citação nas redes sociais e, no dia 26 do mesmo mês, o assunto voltou a ser pauta em sala. O professor teria se mostrado insatisfeito com as declarações feitas.
O portal tenta contato com o professor José Marcos Rodrigues Vieira para comentar a denúncia dos alunos.
Em nota, o CAAP repudiou a atitude do professor. “Acreditamos que é necessário romper com a tradição de silenciamento institucional das opressões cotidianamente perpetradas na Faculdade. Atos homofóbicos como o do Professor José Marcos Vieira, mascarados como inocentes opiniões pessoais, são extremamente violentos porque contribuem para a inferiorização social da população LGBT. Isso é inaceitável não só porque se trata do contexto de uma Universidade Pública, que deve respeitar a diversidade, mas, sobretudo, porque estamos num país que ostenta índices recordes de violência física e moral contra gays, lésbicas, travestis e transexuais”, afirmaram representantes do Centro Acadêmico Afonso Pena.
Ainda de acordo com o CAAP, alguns alunos avaliam pedir o trancamento da disciplina ministrada pelo professor. O centro informou que o catedrático continua dando aulas normalmente, mas o clima é de tensão entre os estudantes.
Reclamações foram levadas ao diretor da Faculdade de Direito, professor Fernando Gonzaga Jayme, que teria evitado questionamentos ao professor, e indicado que a aluna se retratasse pelas manifestações feitas contra a afirmação de Rodrigues. Ao sugerirem o afastamento de Rodrigues e insistirem na apuração dos fatos, os alunos teriam ouvido de Jayme que, mesmo que ele indicasse a abertura de um processo administrativo, ele mesmo teria condições de manipular as investigaçõs, de forma a beneficiar o colega docente.
A petição foi assinado pelo próprio CAAP, pelo Centro Acadêmico do Curso de Ciências do Estado (Cace), ministrado também da Faculdade de Direito, e cinco professores da universidade. Um deles, o professor Marcelo Maciel Ramos, também disse em nota que “a manifestação de desapreço, no exercício de uma função pública como a docência, a um grupo minoritário e vulnerável ofende não só os alunos para os quais o discurso se dirigiu. Ela ofende, discrimina e inferioriza alunos, professores e servidores técnicos homossexuais. Ela ofende alunos, professores e servidores técnicos heterossexuais comprometidos com a defesa da igualdade, da liberdade e da dignidade da pessoa humana. Ela ofende a própria dignidade universitária e os fundamentos do Estado de Direito”.