Cláudio Charles Gonçalves Pereira, de 33 anos, ficou sete dias preso por furtar pedaços de frango congelado na empresa onde trabalhava. Ele foi solto na noite desta terça-feira (4) e recebido por sua família, que o aguardava com um churrasco na casa de sua mãe, em Nova Aurora, bairro de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, para comemorar a liberdade.
?Ah, eu estou muito feliz de estar em casa. Esta uma semana que fiquei preso foi uma eternidade. Ficar longe da minha família, da minha mulher, dos meus amigos aqui da rua foi muito ruim?, disse. Ele brincou que agora se tornou vegetariano. ?Agora eu não como mais frango, não. O churrasco aqui hoje é só carne de porco e carne de boi mesmo?.
Ele trabalhava em uma empresa terceirizada que oferece lanches e refeições à Petrobras, na Ilha do Governador. Além dele, outros dois funcionários foram presos em flagrante acusados de furtar pedaços de frango congelado, barras de cereais e iogurte. Eles alegaram que só pegaram a comida que seria jogada no lixo. No dia seguinte ao ocorrido, os três pagaram fiança, equivalente a um salário-mínimo, e foram soltos.
Mesmo assim, o Ministério Público pediu que os funcionários ficassem presos até o fim do julgamento. Após o pedido do MP, a Justiça expediu um mandado de prisão preventiva para os três acusados. No entanto, apenas Cláudio voltou a ser preso.
Cláudio afirma que os 2kg de frango iriam para o lixo e, por isso, colocou na mochila para levar para casa. Segundo ele, em dois anos e três meses ele nunca tinha visto ninguém ser revistado dentro da empresa. No dia 19 de junho, foi feita uma inspeção e encontraram o frango na mochila de Cláudio. Ele foi levado para a 54ª DP (Belford Roxo) e pagou uma fiança no valor de um R$622,00. Na terça-feira, 28 de agosto, a polícia buscou Cláudio em casa e o levou para a delegacia novamente. Da 54ª DP, ele foi encaminhado para Bangu II e posteriormente para Japeri.
Ele dividiu uma cela com mais doze homens, entre eles acusados de tráfico e estupro. ?Quem tem colchão para dormir, dorme, quem não tem, dorme no chão, no frio mesmo. É complicado?, disse.
A Justiça revogou a prisão de Cláudio em 30 de agosto, mas o alvará de soltura foi expedido apenas na segunda-feira (3). No mesmo dia 30, ele foi transferido para Japeri sem nem poder avisar a sua família.
Para chegar até o trabalho Cláudio caminhava 15 minutos do bairro Bela Vista até a rodoviária Nova Aurora, em Belford Roxo. Lá ele aguardava o ônibus da empresa que levava ele e seus colegas até a Ilha do Fundão. Cláudio trabalha desde os 17 anos de idade. Começou ajudando o seu pai, que é proprietário de um armazém na mesma rua onde moram. Depois começou a fazer diversos bicos: trabalhou como ajudante de obras e como vendedor no Ceasa. Este era o terceiro trabalho de Cláudio com a carteira assinada.
Ele se diz preocupado em não conseguir um novo emprego por ter sido preso.
?Eu preciso trabalhar, eu sou casado, minha mulher tem filhos que eu tenho que sustentar. Ela está trabalhando sozinha agora. Eu quero arrumar um serviço também?, disse.
O irmão de Cláudio, Gilson Pereira, não se conforma com o fato de a fiança ter sido paga pela família de Cláudio e, ainda assim, ele ter sido preso sem julgamento. ?A gente quer saber por que isso aconteceu. A juíza tinha que dar a sentença. Ele foi condenado antes de ser julgado?, disse.
Cláudio não foi demitido por justa causa. Em sua carteira consta dissídio coletivo, mesmo sem ter havido nenhum acordo entre ele e a empresa.
Incidente ocorreu em junho
O incidente ocorreu no dia 19 de junho no restaurante do Centro de Pesquisas da Petrobras, na Ilha do Fundão. A empresa terceirizada que oferece lanches e refeições à Petrobras registrou queixa na delegacia contra os três funcionários.
No dia 20 de junho, o Ministério Público pediu a prisão preventiva porque entendeu que o crime era mais grave por se tratar de funcionários da empresa. A Justiça decretou a prisão, que foi cumprida na semana passada.