O médico Sidney Klajner, de 53 anos, é o atual presidente da Sociedade Israelita Albert Einstein, um dos mais importantes hospitais de São Paulo. O cirurgião lamentou, em entrevista ao GLOBO, que colegas ainda insistam no chamado tratamento precoce, que inclui remédios sem nenhum efeito positivo para o tratamento do novo coronavírus, além do fato do Conselho Federal de Medicina (CFM) não se opor a isso.
Dentre os remédios do chamado "kit Covid-19" estão a ivermectina e a cloroquina. Ambos foram descartados pela ciência por não terem efeitos positivos no combate ao novo coronavírus. Inclusive, as próprias fabricantes já sinalizaram que as drogas não são eficazes contra a doença.
O médico afirma que o Conselho tem uma atitude controversa. "Quando vejo um presidente do CFM, cuja responsabilidade é garantir a boa prática médica, e o mesmo CFM que não falou de autonomia quando quis julgar a telemedicina, e não fala até hoje, mas para uso de medicamento sem comprovação nenhuma, fala que o médico tem autonomia... Se eu quero atender o meu paciente pelo Skype eu não tenho essa autonomia? É um discurso de quem não usa a ciência como norteador. Acaba sendo um argumento que faz com que as pessoas acreditem numa solução que é uma mentira", dispara.
O cirurgião afirma que é preciso encarar os fatos com verdade. "A gente vê essa situação de os leitos acabando, de demanda reprimida de outras doenças, e precisamos chamar a população para a veracidade desses fatos, senão sempre vão ter pessoas que, diante de uma liderança dúbia, escolhem aquela que contemple os seus objetivos, que diz que tem um remédio que vai salvar. Por que então não usam [tratamento precoce] em outros países? É uma conspiração?", questiona.
O médico defende a vacinação em massa, apesar das polêmicas com relação ao fármaco. "Tem uma série de trabalhos demonstrando que, após uma primeira infecção, há uma queda sensível de anticorpos, e o número de reinfecções tem aumentado. Há também pacientes vacinados que acabaram adquirindo a Covid mesmo com a segunda dose, não as formas graves. A vacina tem uma eficácia maior na prevenção de casos graves do que na possibilidade de adquirir a doença", explica.
Sidney Klajner avalia que o Brasil atravessa o pior período da pandemia. "Março foi uma tragédia total. Eu vejo abril com um cenário não muito diferente do de março. Ainda vamos conviver com um número alto de pacientes internados e de mortes , especialmente no setor público, que sente mais a falta de UTIs e de insumos.