?Você é o que come?. Essa frase muito conhecida faz ainda mais sentido para quem passa por um delicado tratamento de saúde. Pensando nisso, as nutricionistas Honorina Paes Landim e Yuska Paes Landim realizam um interessante trabalho, que desvenda o poder dos alimentos para quem está enfrentando um inimigo muito perigoso: o câncer de mama.
As duas profissionais realizam, há quase uma década, um trabalho voltado para a informação nutricional de pacientes atendidas pela Fundação Maria Carvalho Santos, no Bairro Ilhotas, em Teresina. A Fundação, que tem um cadastro de aproximadamente 2.500 mulheres, é uma entidade sem fins lucrativos, de caráter filantrópico, assistencial, educacional e cultural de defesa e promoção da saúde.
Desde 25 de novembro de 1998, quando foi organizada, a Fundação Maria Carvalho Santos reúne diretoria, voluntários e profissionais para, em conjunto, promover atividades filantrópicas na área de saúde e prevenção de doenças em especial o câncer de mama. A entidade faz doação de perucas, sutiãs, próteses mamárias, material de fisioterapia, livros, publicações e outros produtos necessários à recuperação de pessoas portadoras da doença.
Mas havia também a necessidade de fornecer informações na área alimentar, e foi aí que surgiu a oportunidade de fazer o convite às duas nutricionistas, que aceitaram prontamente. A tarefa: mostrar às mulheres como os alimentos podem fortalecer o sistema imunológico, ajudando a prevenir e a combater não só o câncer de mama, mas outras doenças.
Desde então, o trabalho de Honorina e Yuska junto às mulheres da Fundação vem sendo pautado no amor pela profissão e na possibilidade de ajudar pessoas que, muitas vezes, estão fragilizadas e precisando de apoio. A assistência é formatada por dois projetos: o ?Comendo Saúde? e o ?Prato sem câncer?. Honorina explica as características dessas duas iniciativas.
Usando alimentos como fonte de qualidade de vida
De acordo com Honorina Paes Landim, o projeto ?Comendo saúde? foi, a um só tempo, o pontapé inicial e a base de todo esse trabalho nutricional junto às mulheres assistidas pela fundação. ?É um projeto um pouco mais holístico, mantido pelo núcleo de nutrição, que orienta pacientes portadoras de câncer, a comunidade interessada e diversas instituições, sobre como comer melhor no sentido de promover a saúde e a qualidade de vida. Ou seja, é um projeto de educação nutricional, que busca fazer com que as pessoas possam ter a consciência de como podem usar os alimentos a favor de sua saúde?, resume.
Já o ?Prato sem câncer? tem caráter mais específico. Visa ajudar a conter o avanço da doença, bem como combater os males causados pelo tratamento em si.
?Neste projeto, damos ênfase na alimentação funcional, anticancerígena, mostrando como o organismo pode prevenir ou até mesmo refrear o processo do câncer, através de hábitos alimentares saudáveis. Nós temos no ?Prato sem Câncer? uma cozinha itinerante, que pode ser levada para as comunidades e instituições. É um trabalho que engloba a parte teórica e prática de como melhorar a alimentação, mostrando, por exemplo, como manusear e preparar o alimento de forma que ele possa oferecer mais benefícios à saúde?.
Chás diversos, ervas, cúrcuma (planta da família do gengibre, tendo a raiz a parte mais utilizada na culinária e na medicina), açafrão, chá verde... muitos produtos podem ajudar no combate ao câncer, seja na parte de prevenção ou na tarefa de potencializar os efeitos curativos dos tratamentos. E todas essas dicas são repassadas às pacientes da fundação, que ficam informadas sobre o poder que a natureza tem para ajudar na tarefa de vencer a doença.
?Existem dentro dos alimentos princípios ativos que podem ajudar. Um exemplo é o alho, que é um anti-inflamatório em potencial.
Além disso, alimentos ricos em ômega 3, como peixes de águas mais profundas, por exemplo, também costumam ser benéficos para combater os efeitos desses tratamentos, já que também são anti inflamatórios. Ou seja, muitos nutrientes podem ajudar a debelar os males causados à condição fisiológica do paciente que passa por processos de quimioterapia, por exemplo?.
A nutricionista explica que avanços estão sendo percebidos, e que, no geral, a conscientização das pessoas quanto à influência da alimentação está melhorando. ?As pessoas estão começando a valorizar mais o alimento como fator promotor da saúde. A mídia tem mostrado muito os cuidados com a alimentação, e os hábitos corretos estão sendo muito divulgados. E existem vários outros projetos como esses que mantemos, que também são voltados para a alimentação saudável, ou seja, que são iniciativas de educação para a população no que diz respeito aos hábitos alimentares. E isso é muito bom. Ao orientar as pacientes, nós aprendemos também.?
Alimentos funcionais e sol: aliados no combate ao câncer
Outro fator muito importante (e muito simples de fazer) para a prevenção do aparecimento do câncer é tomar sol.
Mas como assim? Quem explica é Yuska Paes Landim. ?Isso porque, para prevenir o câncer, nosso corpo precisa da vitamina D. Sabemos que essa vitamina é melhor absorvida quando tomamos sol. Então o recomendado é pegar um pouquinho de sol diariamente, sem protetor (porque ele bloqueia a absorção)?.
A nutricionista explica que, quem tem vitamina D em quantidades satisfatórias, também absorve melhor o cálcio, e neste caso um fator ajuda o outro, complementando-se. ?Nós temos sol o ano todo. Mas vale ressaltar que não é tomar sol de qualquer jeito: É importante tomar sol na região do abdômen e coxas, que são regiões que costumam ter uma concentração um pouco maior de gordura?. Vale também observar os horários mais adequados de exposição ao sol.
Além dessa dica preventiva, Honorina e Yuska costumam esclarecer as pacientes sobre o poder de alguns alimentos em especial. ?Hoje nós chamamos alguns alimentos de funcionais. Isso porque além de nos alimentar e nutrir, eles têm outras funções no nosso organismo. Um exemplo são os alimentos ricos em vitamina A, que são antioxidantes e que diminuem as chances do aparecimento da doença. São os alimentos amarelo-alaranjados (laranja, tangerina, mamão, cenoura, entre outros)?, conta Yuska.
Ou seja, as duas profissionais de nutrição orientam uma mudança de vida para as mulheres atendidas pela fundação, aconselhando e cuidando de forma abrangente, introduzindo novas práticas no dia a dia. ?No que diz respeito ao risco de câncer, a primeira coisa a se observar é a genética.
Sabemos que a influência dela é relativamente pequena, mas o fato é que ela contribui, sim. Ou seja, quem tem avó, tia, mãe ou irmã que teve câncer de mama, o alerta é maior. E essa prevenção se faz com exames regulares e idas frequentes ao médico, além, é claro, de fazer o auto exame das mamas. Tudo isso precisa ser combinado a um estilo de vida saudável, com atividades físicas, procurando não ingerir muitos alimentos industrializados, com muito sódio; não fumar, diminuir o consumo de açúcar, por exemplo?, complementa Yuska.
Presidente de honra elogia trabalho do setor de nutrição
O mastologista Luiz Ayrton Santos Jr, presidente de honra da Fundação Maria Carvalho Santos, acompanha o trabalho desenvolvido pelas duas profissionais de nutrição desde o começo. Ele descreve a importância que a iniciativa tem no contexto da entidade.
?No começo das nossas atividades, dividimos a instituição em diversas etapas de atendimento: as unidades de fisioterapia, de farmácia, de terapia ocupacional, de biblioteca e a unidade de nutrição ? esta última faz uma mobilização das mulheres em relação aos alimentos. Nosso público recebe informações de quais os alimentos são importantes para o controle da doença, qual a alimentação recomendada durante o tratamento de uma pessoa que tenha câncer, quais os elementos que promovem a defesa do organismo, deixando-o mais fortalecido para enfrentar o tratamento ? ou seja, é um trabalho essencial?, diz ele.
As pacientes também aprovam o trabalho. Janaína dos Santos descobriu há quatro anos que tinha câncer de mama, e teve de se submeter a uma mastectomia. Recentemente ela passou a frequentar a Fundação, e lá encontrou todo o apoio necessário para a recuperação. ?O trabalho feito aqui é maravilhoso, todos são nota 10?, disse ela, em meio a goles do chamado ?suco verde?, devidamente pensado pelo setor nutricional. Janaína, que tem 30 anos, é moradora do bairro Porto Alegre, e se disse ansiosa para ver sua primeira palestra sobre nutrição, com a doutora Honorina, já neste sábado. Dona Ernesta de Sousa, de 57 anos, é mais uma atendida pela entidade. Com lágrimas nos olhos, a moradora de Elesbão Veloso faz seu breve relato. ?Aqui somos muito bem tratadas. Recebemos amor, carinho, e ficamos mais fortes para lutar contra uma doença que é muito traiçoeira?.
Orientação faz parte de ação multidisciplinar
Mas o trabalho desenvolvido por Honorina e Yuska não seria tão completo se não se encontrasse inserido em uma cadeia de serviços oferecidos pela Fundação Maria Carvalho Santos. Por lá, as mulheres atendidas encontram uma equipe profissional pronta a atender com toda a atenção necessária.
?Na Fundação, cada profissional atua em uma área diferente, buscando dar uma assistência completa. Um dos efeitos colaterais da quimioterapia pode ser um inchaço, por conta da retenção de líquidos, por exemplo. Então uma fisioterapeuta já pode ajudar a combater com uma drenagem. Além disso, a primeira coisa que afeta uma paciente que recebe a notícia de um câncer de mama é o fator psicológico. A pessoa então se vê obrigada a aceitar a doença e o tratamento, e aí entra o profissional de psicologia. E nós, nutricionistas, entramos na parte da mudança dos hábitos alimentares?, diz Yuska Paes Landim.
De fato, o trabalho das nutricionistas acaba refletindo em outros atendimentos, como conta a fisioterapeuta Ana Célia Faustino. Ela explica que uma paciente com o peso normal terá melhor evolução no tratamento de um linfedema (acúmulo localizado de líquido de origem linfática determinado por deficiência na absorção ou condução da linfa), problema que pode surgir no braço da paciente como consequência de uma mastectomia radical (remoção de toda a mama), por exemplo. ?Em uma paciente obesa, o braço pesa mais, porque há o peso da linfa com o do tecido adiposo, o que pode causar acúmulo de carga na articulação?, detalha Ana Célia.