Por lixo, fregueses só vão à Ceasa por falta de uma opção

Tomado pelo lixo e falta de higiene, o espaço onde fica a Ceasa de Timon não agrada nem um pouco os clientes

SUJEIRA | Ponto de venda de alimentos, a Ceasa está tomada pelo lixo. | Moisés Saba/Jornal Meio Norte
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Lixo espalhado por todos os lugares, urubus disputando espaço com feirantes, e uma profunda sensação de abandono compõem a paisagem da CEASA de Timon.

A desorganização e fedentina tomaram conta do local, prejudicando os negócios dos feirantes e barraqueiros da área. Eles reclamam do completo descaso da administração do centro de distribuição, que não toma nenhuma providência para solucionar o problema.

A feirante Maria das Graças trabalha no ramo há 20 anos e, desde que se transferiu para a Ceasa, nunca a viu em um estado tão deplorável. ?Estamos na pior.

O lixo tomou conta do local, estamos brigando com os ratos e urubus que aparecem aqui. Às vezes o lixo demora duas semanas para ser recolhido, graças a Deus fizeram uma limpeza esta semana?, denuncia.

De acordo com Maria, os vendedores têm dificuldade em passar muito tempo no local, tamanho o fedor. Ela afirma que já presenciou fregueses passarem mal enquanto faziam as compras no centro de distribuição.

Por conta das condições desagradáveis, eles estão deixando de frequentar o lugar. ?A sujeira daqui atrapalha muito nossas vendas. As vezes a gente reza para virem limpar, pois domingo é o dia de maior movimento. Quando está sujo os fregueses param de vir?, confessa.

Sem esperanças, os comerciantes desistiram de pedir ajuda e rezam para que na próxima administração municipal, as coisas sejam diferentes. ?A sujeira é tanta que já vi até vermes caminhando pelo chão.

Os agentes de saúde vieram algumas vezes aqui, mas não resolveram nada. Aqui dentro não existe ordem, tomara que o próximo diretor seja sério e rígido. Só assim para as coisas saírem do lugar?, fala o feirante Abimael dos Santos.

Os clientes e feirantes reclamam em uníssono: eles pedem que a CEASA seja limpa o quanto antes. ?Hoje está bom, aqui foi tomado pela falta de higiene. Não existe um só lixeiro e o fedor é tão grande que só continuamos frequentando a CEASA por falta de opção?, critica a estudante Daiane Lima.

Além do descuido, os assaltos são comuns. ?Só venho pra cá com o dinheiro das compras. Todos sabem que aqui é perigoso, já levaram o colar de uma amiga minha?, esbraveja a doméstica Tânia Maria.

Feirantes deixam boxes por estacionamento

Como se a sujeira que toma conta do local não fosse suficiente, os feirantes sofrem com a falta de estrutura dos boxes e invadiram o estacionamento do local. Como resultado, os fregueses precisam estacionar os veículos próximo das calçadas, o que prejudica as vendas dos barraqueiros.

No galpão principal, apenas dois feirantes insistem em continuar lá. Maria da Penha se instalou no estande desde o início das operações da Ceasa e é uma das únicas que resistem no local.

"Os outros vendedores se mudaram daqui porque o box é muito pequeno e eles não tinham lugar para armazenarem suas mercadorias. Prefiro ficar do lado de dentro, pois assim fico livre da chuva, do esgoto e de confusões", explica.

Questionada sobre a queda nas vendas, ela afirma que os fregueses quase não andam naquele galpão, mas ainda consegue ter algum lucro no final do mês. "Tudo o que peço é que tenham um pouco mais de atenção com a gente.

Limpar a CEASA é o mínimo que poderiam fazer", desabafa Maria.

O lugar está entregue ao abandono e durante a noite é ponto de encontro dos meliantes, se reunem para usar drogas e praticar furtos no estoque dos comerciantes. Além disso, os próprios feirantes urinam e defecam nos estandes porque não querem usar o banheiro público.

Segundo informações da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, existem onze funcionários responsáveis pela limpeza do complexo, mas durante todo o tempo que a reportagem do jornal Meio Norte passou no local nenhum faxineiro foi avistado.

População precisa pagar para usar banheiro público

Mesmo com um efetivo de 11 zeladores, responsáveis pela limpeza e manutenção da Central de Abastecimento de Timon, os feirantes e fregueses precisam pagar uma taxa para usar o banheiro, que se encontra em situação deplorável.

A situação lá dentro é inóspita: as pias não tem torneiras ou cubas, o chão é muito sujo e as dependências de mictório e vasos sanitários são impróprias para uso.

"Precisamos pagar R$ 0,25 para fazer xixi e R$ 0,50 para outras necessidades e tomar banho. E ainda assim continua sujo. Dia desses precisei usar o banheiro e não aguentei passar pela porta. O fedor era tanto que logo senti dor de cabeça e ânsia de vômito", reclama a feirante Maria da Penha .

Para não usar o banheiro, os feirantes urinam e defecam nos boxes que estão desocupados, aumentando a fedentina em um local destinado para venda de hortifrutos.

"Esse descaso conosco é um absurdo. Somos trabalhadores de bem e estamos lutando para ganhar nosso dinheiro. Mas desse jeito fica difícil, se não nos dão a menor condição de trabalhar com dignidade. É triste", desabafa a feirante Maria da Penha.

Com medo, feirantes contratam vigilância

Acontecimento frequente na Ceasa de Timon, os furtos e assaltos viraram parte do cotidiano de quem passa diariamente pelo centro de abastecimento. A vendedora Maria Pereira relata que já teve vários produtos roubados.

?Levam melancia, macaxeira e até azeite. Eles preferem esses produtos porque podem vender mais caro?, conta.

O feirante Adão Soares trabalha na CEASA desde a inauguração e recentemente teve seu box assaltado. Os meliantes levaram R$ 13.000,00 em espécie, deixando o idoso atolado em dívidas.

Visivelmente abalado, Adão prefere não falar sobre o assunto e desconversa. ?Nem levei o caso para a administração do Centro, pois aqui eles não fazem nada. Dei queixa na polícia, mas nada?.

Na tentativa de conter a onda de furtos, alguns comerciantes contrataram o serviço de vigilância particular para não terem toda sua produção levada por meliantes. Ainda assim, assaltos em plena luz do dia são comuns na CEASA.

As várias queixas dos feirantes e o aparente descaso com a manutenção da CEASA de Timon parecem não preocupar a administração do centro de distribuição.

Procurados pela reportagem do jornal Meio Norte, o escritório da administração estava trancado. Após algum tempo de espera, apareceram dois funcionários que diziam ter pressa em entregar um documento na Prefeitura da cidade.

Questionados sobre o funcionamento da unidade administrativa, o funcionário Francisco Pinto de Lira justifica que os servidores preferem ficar do lado de fora do escritório, pois o ar condicionado está quebrado e é impossível passar muito tempo dentro da sala, pois não há condições de trabalho.

A Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento realiza a manutenção periódica do espaço em parceria com a Secretaria de Limpeza e o secretário Luiz Filho informa que foi realizado uma limpeza geral na CEASA durante a manhã da última quarta-feira.

De acordo com o servidor, há onze vigilantes responsáveis pelo centro de abastecimento, mas não soube informar se o salário deles está em dias. ?A Secretaria de Limpeza é responsável pelas outras questões da Ceasa?, informa.

As duas instâncias divergem sobre a responsabilidade da manutenção do centro de abastecimento. ?A Secretaria de Limpeza é responsável exclusivamente pela limpeza do ambiente.

A parte administrativa e tudo o que diz respeito aos boxes e limpeza de banheiros é responsabilidade do administrador da CEASA?, declara Francisco das Chagas, secretário de Limpeza.

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