No primeiro debate promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), realizado em Brasília-DF durante todo o dia de ontem (24), o secretário estadual de Saúde do Piauí, Ernani Maia, expôs uma realidade que preocupa: o aumento dos atendimentos originados em traumas ortopédicos, sobretudo a vítimas de acidentes, no interior do estado.
O secretário apontou que, atualmente, uma verdadeira ?epidemia? de politraumas se abate sobre o Piauí, exigindo novas posturas no direcionamento de investimentos e estratégias.
?O número de atendimentos ortopédicos a vítimas de traumas, sobretudo oriundos de acidentes de trânsito, é o dobro do número de partos nos hospitais regionais no interior. Isso é muito preocupante?, disse o secretário.
Maia alertou sobre a necessidade de contar com mais médicos ortopedistas no interior, e lamentou o fato de que a Lei de Responsabilidade Fiscal ainda impeça o estado de fazer novas contratações para essas e outras especialidades. O secretário contextualizou essa realidade com o tema do debate do CONASS: ?Saúde - para onde vai a nova classe média brasileira?.
?Ela vai para o consumo. A população tem um novo perfil. Vimos no debate que boa parte dessa nova classe média está se dirigindo para os planos de saúde, mas muitos continuam usando o SUS mesmo tendo plano (o secretário referiu-se a um dado apresentado no evento por Renato Meireles ? sócio-presidente do Instituto de Pesquisa Data Popular, que mostrou que quase 30 milhões de brasileiros da classe C usaram o SUS ao menos uma vez depois de adquirir um plano).
Ou seja, as pessoas exigem cada vez mais dos serviços públicos de saúde, e um dos pontos de maior reclamação diz respeito à demora e às filas no atendimento no serviço público?.
Maia apontou que, para combater esse problema, o Piauí está desenvolvendo uma iniciativa que busca ampliar o atendimento a casos de média complexidade no interior, ajudando a reduzir as transferências para a capital, Teresina. ?Trata-se da Força Estadual do SUS, que será criada mediante Lei Estadual e que deve ser formalizada nos próximos 20 dias.
O objetivo é destinar médicos do estado para atendimentos em hospitais do interior, contemplando, além da ortopedia, a cirurgia geral, a urologia, a ginecologia e a cirurgia pediátrica?.
A informação é de que os profissionais da Sesapi que permanecerem na Força Estadual do SUS pelo período mínimo de um ano ascenderão mais rápido na carreira.
NOVO PERFIL ? O primeiro CONASS Debate abordou o impacto que a nova conformação da classe C brasileira exerce sobre os serviços de saúde.
O presidente do Conselho dos Secretários de Saúde, Wilson Duarte Alecrim, afirmou que o Sistema Único de Saúde precisa ser visto sob um novo prisma no contexto dessa classe média que originou-se na estabilização da economia brasileira, iniciada na década de 90.
?O SUS não é um problema sem solução, e sim a solução para vários problemas. É um sistema que foi construído a duras penas, e que hoje possibilita que tenhamos os dispositivos constitucionais necessários para dar atendimento digno à população?, disse Alecrim.
O ex-ministro da Saúde e atual diretor executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, José Gomes Temporão, também participou do debate, e aproveitou para abordar aspectos da atual impressão que o SUS gera nos brasileiros.
?Disseminou-se um conceito de que o SUS é um sistema pobre, e que gasta mal seus recursos. As pessoas acostumaram-se a fazer uma avaliação de que o fato de ?se livrar? do SUS e contratar um plano de saúde representa uma maior tranquilidade para a pessoa e para a sua família.
Ao fazer isso, o usuário tem a sensação de estar deixando de ser um cidadão perante o governo para passar a ser um consumidor diante de uma empresa?, disse o ex-ministro.
Além do já citado Renato Meirelles, o CONASS Debate contou com explanações de Ricardo Paes de Barros (subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República), José Cechin (diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar ? FenaSaúde) e de Lígia Bahia (professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ).