Os policiais militares Thiago Quintino Meche e Jefferson Alves de Souza, do 22º Batalhão da Polícia Militar vão a júri popular às 12h30 desta quinta-feira (17) sob a acusação de matar a pauladas Gabriel Paiva, 16 anos, em abril de 2017. A juíza Debora Faitarone, da 1ª Vara do Júri de São Paulo, pretende concluir o julgamento até sexta-feira (18).
Thiago e Jefferson estão presos e serão levados do Presídio Romão Gomes para o Fórum Criminal da Barra Funda na manhã desta quinta-feira. Eles foram presos em maio de 2017 e chegaram a responder pelo crime em liberdade, mas cumprem prisão preventiva. Segundo a juíza, Jefferson procurou uma das testemunhas do caso com o “intuito de intimidá-la” e isso justificou deixar os dois policiais presos até o julgamento.
Em decisão anterior, da juíza Renata Carolina Casimiro Braga entendeu que existem indícios e provas suficientes para que os acusados sejam submetidos a julgamento popular, no Tribunal do Júri. Defesa dos réus convocaram quatro testemunhas em prol dos policiais e a acusação convocou outras quatro testemunhas.
Em dezembro do ano passado, os advogados de defesa dos dois policiais militares protocolaram pedido de adiamento do julgamento, que foi negado pela juíza, sob a alegação de que a medida poderia provocar mais prejuízo público.
A família de Gabriel vai acompanhar o julgamento. Segundo Tatiane Godoy, prima da vítima, parentes, amigos e testemunhas estarão no tribunal para acompanhar o julgamento. "Meu primo foi covardemente, cruelmente, injustamente e brutalmente espancado por alguém que está a serviço da sociedade para proteger e zelar pela vida das pessoas de bem."
Quase dois anos após o crime, a família se reúne para esperar por Justiça. "Os assasinos vão a júri popular e eu, toda a nossa família, amigos e até mesmo quem não o conhecia e se compadeceu espera o mínimo que é a Justiça."
Tatiane disse que "Gabriel se foi e eles [PMs] nos condenaram a essa pena que não será entre 12 ou 30 anos. Nosso luto será eterno e só esperamos a Justiça. Só ficaremos em paz quando eles forem condenados e pagarem perante a sociedade o mal que nos causaram."
Ariel de Castro Alves, conselheiro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), acompanhou o caso desde o início e considera o caso um dos mais alarmantes de violência policial.
“Foi um dos casos mais graves de violência policial ocorrido em São Paulo nos últimos anos. O adolescente Gabriel Paiva não esboçou qualquer reação e foi brutalmente agredido pelos PMs, o que gerou graves lesões na sua cabeça e em várias partes do seu corpo, resultando em sua morte. É necessário que os policiais envolvidos no crime tenham punições exemplares."
O crime
O adolescente morreu quatro dias depois da abordagem de 16 de abril de 2017. Ele foi espancado pelos dois policiais militares. De acordo com parentes do garoto, a morte foi provocada por parada cardíaca. O caso ocorreu na Rua Vila Missionária, em Cidade Ademar, na Zona Sul de São Paulo.
A justiça ainda cita o apelido do policial Jefferson como sendo “Negão da Madeira”, em virtude de relatos de testemunhas do crime afirmarem que ele costumava fazer revistas em jovens na região sempre com um pedaço de madeira em mãos. Segundo a acusação do Ministério Público aceita pela juíza, Thiago foi espancado na cabeça com um pedaço de madeira.
A defesa do policial Thiago alegou à Justiça que não há provas da participação dele no crime e requereu a revogação da prisão preventiva, que foi negado pela juíza.
A defesa de Jefferson também alegou falta de provas contra ele e pediu a revogação da prisão, que também foi negado pela juíza.
Violência dos policiais
No processo, duas testemunhas protegidas relataram com detalhes como foram as agressões praticadas pelo policial Jefferson contra a vítima e a falta de ação de Thiago para evitar as agressões, que resultaram na morte de Gabriel.
Em um dos depoimentos, uma das testemunhas disse em juízo que “viu a vítima já caída no chão, sendo agredida na cabeça e no rosto com um pedaço de madeira. Disse que pediu para ele parar de agredir o menino, mas ele continuou. Informou que já conhecia o policial ‘Negão da Madeira’ porque todos os domingos ele estava lá e era conhecido por ser violento.”
Também em juízo, o irmão da vítima, Roger, disse que “a viatura demorou bastante tempo no local e que depois ela começou a andar e estava cheia de sangue.”
Os depoimentos dos policiais são considerados contraditórios entre si e entre as declarações das testemunhas. Jefferson é policial militar há cinco anos e Thiago estava em operação havia apenas 30 dias na data do crime.