Em cinco meses de investigações, a polícia de São Paulo já verificou quase 300 endereços em dez estados do Brasil e em dois países da América do Sul sobre os possíveis paradeiros do assassino de Rafael Miguel e dos pais dele.
Todos os endereços foram verificados, inclusive na Argentina e no Paraguai. Até a publicação desta reportagem Paulo Cupertino Matias não havia sido encontrado ou preso pelas autoridades.
O empresário de 48 anos é procurado desde que matou a tiros o ator de 22 anos e o casal João Alcisio Miguel, de 52, e Miriam Selma Miguel, 50, no último dia 9 de junho na Zona Sul da capital.
Segundo a investigação, ele matou as vítimas porque não aceitava o romance da filha Isabela Tibcherani Matias, 18, com Rafael. Além da jovem, a mãe dela, Vanessa Tibcherani de Camargo, também presenciou o crime cometido na frente da casa onde moravam.
O empresário executou as vítimas atirando 13 vezes. Elas estavam desarmadas e não tiveram tempo de reagir.
Devido à chacina, a Justiça decretou a prisão temporária dele.
280 denúncias
Do dia do crime até quinta-feira (7), a polícia paulista já checou mais de 280 denúncias dos locais por onde Paulo Cupertino poderia ter passado durante sua fuga.
Além do estado de São Paulo, foram checados lugares em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul, Pará e Maranhão. E até em território argentino e paraguaio, países que fazem fronteira com o Brasil.
Do total de denúncias sobre o assassino do ator e da família dele, quase 220 delas chegaram por telefonemas e informações feitas diretamente ao 98º Distrito Policial (DP), Jardim Miriam, e a 6ª Delegacia Seccional Santo Amaro, que investigam o crime.
Disque e Web denúncia
O restante dessas denúncias, 64 endereços, foram repassados às delegacias pelo Disque Denúncia, que atende pelo número de telefone 181, e o Web Denúncia, serviço oferecido na internet.
Os sistemas são coordenados pelo Instituto São Paulo Contra a Violência em parceria com a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Para denunciar não é preciso se identificar.
Levantamento feito pelo órgão aponta 24 cidades por onde Paulo Cupertino pode ter passado, segundo as denúncias recebidas pelo Disque Denúncia e Web Denúncia.
São Paulo
O estado de São Paulo teve 58 denúncias sobre o provável paradeiro do assassino.
A capital paulista foi o município que mais teve denúncias sobre o provável paradeiro do assassino. Foram 31.
Guarulhos, Santo André, na Grande São Paulo, e Itatiba, no interior paulista, vêm na sequência com três citações cada. Diadema, no ABC, Pedreira, no interior, e São Sebastião, no litoral paulista, aparecem com duas menções.
Denúncias sobre possíveis paradeiros de Paulo Cupertino
SÃO PAULO Denúncias Barueri 1 Botucatu 1 Bragança Paulista 1 Campinas 1 Diadema 2 Embu Guaçu 1 Guarulhos 3 Itatiba 3 Jarinu 1 Osasco 1 Pedreira 2 Penápolis 1 Santa Fé do Sul 1 Santo André 3 São Bernardo do Campo 1 São José dos Campos 1 São Paulo 31 São Pedro 1 São Sebastião 2 TOTAL 58 endereços Fonte: Disque Denúncia e Web Denúncia deslize para ver o conteúdo
Rio de Janeiro
O estado do Rio de Janeiro teve duas denúncias contra Paulo Cupertino, todas na capital fluminense.
Argentina
Puerto Iguazu, cidade argentina, na tríplice fronteira com Brasil e Paraguai, também foi mencionada como um dos locais onde o empresário esteve.
Outros estados e país com denúncias
RIO DE JANEIRO Denúncias Rio de Janeiro 2 ESPÍRITO SANTO Serra 1 MATO GROSSO Araguaiana 1 PARANÁ São Pedro Ivaí 1 ARGENTINA Puerto Iguazu 1 TOTAL 6 endereços Fonte: Disque Denúncia e Web Denúncia deslize para ver o conteúdo
"O Disque Denúncia 181 e o Web Denúncia são ferramentas seguras e idôneas que os cidadãos em todo o estado de São Paulo têm à sua disposição para que possam colaborar com as autoridades policiais no combate ao crime e a violência”, afirma Mário Vendrell, gerente de projetos do Instituto São Paulo Contra a Violência e coordenador do Disque Denúncia e Web Denúncia.
“Qualquer informação por menor que seja pode ajudar a polícia a resolver um crime ou prender um criminoso foragido", diz Vendrell ao G1.
Policiais civis de São Paulo que procuram Paulo Cupertino disseram que todas as denúncias sobre o paradeiro dele são checadas, inclusive as de outros estados e países.
Para isso, eles entram em contato com as polícias dessas regiões e pedem ajuda para ir até os endereços citados como possíveis esconderijos do criminoso. Os agentes colaboradores não o encontraram nesses locais, mas tiraram fotos e as enviaram para registro nas delegacias que investigam o caso São Paulo.
Cada denúncia vai para um volume onde é arquivada juntamente com outras. O documento auxilia delegados e policiais na checagem de dados e informações sobre Paulo Cupertino.
Mas nem todas as denúncias feitas são sérias. Algumas não passam de trotes. Foi o que ocorreu no dia 20 de junho, quando alguém havia dito que levou marmita para o assassino na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo.
No dia seguinte, uma operação policial com cerca de 100 agentes, helicópteros e viaturas foi ao endereço informado, mas chegando lá descobriu que se tratava de uma falsa denúncia. O denunciante, na verdade, queria reclamar do barulho do vizinho e resolveu fazer uma reclamação mentirosa para que a polícia fosse ao local.
Policiais alertam que quem dá trotes assim pode responder por falsa comunicação de crime. Por isso é importante acionar os serviços de denúncia somente se tiver convicção de que viu o assassino.
Interpol, reconstituição e disfarces
Devido a possibilidade de Paulo Cupertino ter fugido para outro país, a polícia pediu a inclusão do nome e foto dele na lista de criminosos mais procurados do mundo da Interpol.
Isso, porém, ainda não ocorreu porque, segundo policiais, a Interpol só registra informações de procurados que têm prisão preventiva decretada pela Justiça.
No caso de Paulo Cupertino, a prisão dele é temporária. Para a Justiça dar a prisão preventiva dele é preciso que o inquérito policial seja concluído.
O inquérito não foi finalizado porque ainda depende da realização da reconstituição do crime. Ela estava marcada para o último dia 2 de outubro, mas não aconteceu, segundo policiais, porque Isabela e a mãe dela não compareceram.
À época, o advogado delas, Elinton Lima dos Santos, havia alegado que as duas não compareceram porque Isabela ainda estava tratando do estresse pós-traumático do crime.
Na reconstituição serão reproduzidas as versões das testemunhas sobre como foi o crime. O investigado também pode participar, desde que se entregue à polícia e compareça ao local.
Policiais ainda avaliam se vão marcar uma nova data para a reconstituição ou se encerram o inquérito sem essa etapa da investigação.
A polícia ainda divulgou fotos dos possíveis disfarces que Paulo Cupertino poderia estar usando para não ser reconhecido (veja acima).
A pedido da investigação, a Justiça bloqueou a única conta bancária em nome do empresário. A ideia dos investigadores é que, sem poder movimentar dinheiro para continuar se escondendo, o comerciante decida se entregar.
Policiais ainda apuram a possibilidade de ele estar recebendo ajuda de outras pessoas para não ser preso.
Paulo Cupertino já teve passagens criminais anteriores por outros crimes, como agressão e roubo. Em seu braço está tatuado ‘Marginal sempre marginal’.
Como denunciar
A polícia pede a quem tiver informações sobre o paradeiro de Paulo Cupertino para ligar 181, número do Disque-Denúncia ou acessar a página do Web Denúncia na internet. Não é preciso se identificar.
Homenagem
“Esperamos, sim, uma ação mais eficaz da justiça para nos trazer respostas e resolução. É o mínimo, já que não podem nos trazer de volta tudo que nos foi tirado”, escreveu Isabela nas suas redes sociais em 9 de agosto, quando os assassinatos do seu namorado e dos sogros haviam completado dois meses.
A estudante deixou de usar o sobrenome paterno, Matias, e tatuou no ombro a frase “Together, always [Sempre juntos, numa tradução livre do inglês para o português]” em homenagem a Rafael.