Motorista que derrubou passarela no Rio admite que falava ao celular no momento do acidente

Luis Fernando prestou depoimento ainda no hospital ao delegado.

Acidente na Linha Amarela causou cinco mortes | Estadão Conteúdo
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O motorista Luis Fernando da Costa, de 30 anos, disse em depoimento na tarde desta quarta-feira (29) que estava falando no celular no momento do acidente que causou cinco mortes e deixou quatro feridos na Linha Amarela, no Rio, nesta terça-feira (28). A informação é do delegado da 44ª DP (Inhaúma), Fabio Asty, que investiga o motivo de o motorista não ter visto a caçamba levantar antes de colidir com uma passarela na altura de Pilares, na Zona Norte.

"Isso indica uma falta de cuidado, uma negligência. Ele não observou nos retrovisores laterais e o caminhão possui retrovisor central. A distração pode ter ocasionado ele não ter visto a caçamba içada", afirmou o delegado.

Ao fim do inquérito, se confirmada a negligência, Luis Fernando pode responder por três lesões corporais ? ele próprio é o quarto ferido ? e cinco homicídios culposos, quando não há intenção de cometer o crime. O laudo da perícia deverá ficar pronto em até 10 dias.

O motorista contou ao delegado que começou a falar com um amigo assim que entrou na Linha Amarela. O amigo, que também seria motorista da empresa de caminhões, será convocado para prestar depoimento e a polícia vai checar informações com a companhia telefônica.

Problema no caminhão

O motorista voltou a afirmar, em depoimento, que houve um problema técnico no caminhão na sexta-feira (24).

Segundo disse ao delegado, a caixa de marcha do veículo caiu e foi levada para a manutenção. A polícia vai investigar se o problema pode ter afetado o sistema que aciona a caçamba. O caminhão foi usado por um outro motorista um dia antes do acidente.

" A caixa de marcha é acoplada ao sistema de bombeamento hidraúlico da caçamba e quando o mecânico fez o reparo pode ter provocado uma avaria involuntária no sistema hidraúlico. Nós vamos apurar".

Asty disse ainda que Luis Fernando voltou a afirmar que não percebeu em nenhum momento que a caçamba estava içada e confirmou que o içamento é feito em três passos: a embreagem é acionada, em seguida a trava é aberta e por último a alavanca deve ser puxada para que ela suba.

A polícia informou que vai ouvir os depoimentos do chefe da mecânica da empresa Aliança, do gerente operacional da empresa. Uma perícia complementar vai verificar se o defeito apresentado pode ter sido a causa de um possível acionamento da caçamba do caminhão involuntariamente.

Segundo informações do delegado, não há previsão de alta médica para o motorista do caminhão. De acordo com ele, os médicos disseram que Luis Fernando está com ruptura de fígado, um trauma no abdômen e problemas cardíacos. Nesta terça, ele ficou sabendo das mortes ocorridas no acidente. " Ficou muito supreso e emocionado" disse Asty.

Mais cedo, Fábio Asty interrogou Antonio Thimotheo, que é motorista de ônibus há 10 anos e passava pela Linha Amarela na hora do acidente. Antonio disse que tentou chegar perto para avisar que a caçamba estava levantada, mas que o caminhão estava mais rápido. "Eu só posso andar a 70 km/h e não alcancei", explicou, dizendo que as imagens do ônibus comprovam o que ele diz (veja no vídeo).

Ainda de acordo com a testemunha, a carreta havia passado por outras passarelas com a caçamba levantada, mas pelas pistas do meio, onde há altura suficiente. "Ali, onde ele colidiu, é inclinada", explicou.

Depoimento informal do motorista

Costa disse em depoimento informal à polícia na terça que não viu a caçamba levantada e que sabia que estava trafegando em horário proibido na via, mas alegou que estava "com pressa". A declaração dele foi dada no hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, onde estava internado.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Luis Fernando foi transferido para o Hospital do Coração de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Um representante da empresa Arco da Aliança, responsável pela carreta, também será ouvido na delegacia. Outras testemunhas e sobreviventes serão intimados, após liberação médica, para esclarecer o caso.

Imagens de câmeras de segurança da Linha Amarela, fornecidas pela concessionária Lamsa, que administra a via, também estão sendo analisadas, e a polícia aguarda o resultado dos laudos periciais, que devem ficar prontos em até 10 dias, já que foi pedida urgência na conclusão dos trabalhos.

Mais uma morte

Subiu para cinco o número de mortos no acidente, que ocorreu na altura de Pilares, no Subúrbio. Morreu às 6h desta quarta-feira Luiz Carlos Guimarães, de 60 anos, que estava internado em coma no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, no Subúrbio, após ter sofrido um traumatismo craniano e um edema (inchaço) cerebral.

Luiz Carlos estava no banco de trás do Palio que foi esmagado pela estrutura. Pelo menos outros dois veículos foram atingidos pela passarela. Ainda não há informações sobre o local e o horário de enterro da vítima.

Enterros

Quatro vítimas da queda da passarela na Linha Amarela ? Adriano Oliveira, Célia Maria, Alexandre Almeida e Luiz Caros Guimarães ? foram enterradas na tarde desta quarta-feira em cemitérios da Região Metropolitana do Rio.

Protesto

Colegas e parentes de Alexandre Almeida, que era taxista, fizeram uma carreata que ocupou todas as faixas da Linha Amarela, na pista sentido Barra da Tijuca, altura de Pilares, por volta das 14h30 desta quarta. A via foi liberada às 14h50, de acordo com o Centro de Operações da Prefeitura. O trânsito chegou a ter retenções enquanto houve o bloqueio, mas voltou a fluir normalmente.

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