O vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB), os ex-executivos da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud e mais sete foram presos nesta sexta-feira (9) em uma operação que investiga suposto esquema de corrupção no Ministério da Agricultura durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).
Nove pessoas ainda são procuradas. Também faz parte do esquema, segundo a PF, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB), que está preso no Paraná. Além disso, a PF cumpre 63 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso.
VEJA A LISTA DE PRESOS
Antonio Andrade, vice-governador de Minas e ministro da Agricultura de março a dezembro de 2014
Joesley Batista, dono da JBS
Ricardo Saud, executivo da JBS
Demilton de Castro, executivo da JBS
João Magalhães, deputado estadual pelo MDB de MG
Neri Geller, deputado estadual eleito pelo PP de MT e ministro da Agricultura de março a dezembro de 2014
Rodrigo Figueiredo, ex-secretário de Defesa Agropecuária
Mateus de Moura Lima Gomes, advogado
Mauro Luiz de Moura Araújo, advogado
Ildeu da Cunha Pereira, advogado
A PF fez buscas no gabinete do vice-governador de MG. Ele foi preso em uma fazenda em Vazante, no Noroeste de Minas Gerais. Os mandados foram expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Batizada de Capitu, a operação é um desdobramento da Lava Jato e feita em conjunto com a Receita Federal. A operação é baseada na delação do doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador do MDB.
Segundo as investigações, havia um esquema de arrecadação de propina dentro do Ministério da Agricultura para beneficiar políticos do MDB, que recebiam dinheiro da JBS, que pertencem aos irmãos Joesley e Wesley Batista, em troca de medidas para beneficiar as empresas do grupo.
Ainda de acordo com as investigações, empresas doavam dinheiro para políticos e partidos. Duas grandes redes varejistas de Minas Gerais atuavam no esquema, por meio de seus controladores e diretores.
O esquema
De acordo com as investigações, Antonio Andrade teria beneficiado a JBS com decretos quando era ministro da Agricultura, no governo Dilma.
Ele teria determinado a regulamentação da exportação de despojos, a proibição do uso da ivermectina de longa duração – droga antiparasita – e a federalização das inspeções de frigoríficos.
O Grupo JBS teria pagado R$ 2 milhões pela regulamentação da exportação de despojos e R$ 5 milhões na proibição da ivermectina de longa duração.
Se indiciados, os envolvidos vão responder pelos crimes de constituição, participação em organização criminosa, obstrução de Justiça, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Antonio Andrade
Antônio Andrade nasceu em 1953 em Patos de Minas, mas foi criado em Vazante, no Noroeste mineiro, onde iniciou-se na política. Filiou-se ao PMDB em 1987 e, no ano seguinte, foi eleito prefeito de Vazante.
Em 1994 conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa, onde permaneceu por 12 anos. Em 2001 e 2002 foi líder do governo Itamar Franco na Assembleia.
Em 2006, foi eleito deputado federal, sendo reeleito em 2010. Em 2009 assumiu a presidência da Executiva Estadual do PMDB.
Representou Minas na equipe da presidente Dilma Rousseff (PT), tendo sido escolhido em 2013 para dirigir o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, cargo que ocupou até março de 2014.
É engenheiro civil, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pecuarista.
Joesley Batista
O nome de Joesley começou a aparecer com mais força no noticiário da Lava Jato em maio de 2017, quando chegou ao conhecimento do público uma conversa que ele gravou com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu.
Joesley visitou Temer na residência oficial em março daquele ano e gravou o presidente em segredo. No áudio, o empresário sugere que tem feito pagamentos para comprar o silêncio do deputado cassado e preso, Eduardo Cunha. Nesse momento, Temer respondeu: “Tem que manter isso aí, viu...”
O caso deflagrou a maior crise política do governo Temer e gerou duas denúncias contra o presidente, apresentadas pela Procuradoria-Geral da República. Ambas foram barradas na Câmara.
Joesley, seu irmão Wesley Batista, e o executivo Ricardo Saud fecharam acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, no qual se comprometiam a prestar
Informações sobre irregularidades das quais participaram em troca do abrandamento de possíveis penas.
No entanto, em setembro de 2017, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou a rescisão do acordo de Joesley e Saud. De acordo com Janot, os dois executivos se recusaram a prestar informações, além de terem, após a assinatura do acordo, sonegado, adulterado, destruído ou suprimido provas.
Joesley e Saud foram presos dias depois.
Em fevereiro deste ano, a Procuradoria-Geral da República anunciou a rescisão da delação de Wesley, também por descumprimento dos termos do acordo.
O que diz a defesa de Joesley
André Callegari, advogado de defesa de Joesley, mandou a seguinte nota: "Joesley Batista é colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários.
A operação
Batizada de Capitu, a operação é um desdobramento da Lava Jato e feita em conjunto com a Receita Federal. A operação é baseada na delação do doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador do MDB.
De acordo com as investigações, empresas doavam dinheiro irregularmente para políticos e partidos. Segundo as investigações, havia um esquema de arrecadação de propina dentro do Ministério da Agricultura para beneficiar políticos do MDB, que recebiam dinheiro da JBS, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Em troca, empresas do grupo eram beneficiadas.
Duas grandes redes varejistas de Minas Gerais atuavam no esquema, por meio de seus controladores e diretores. As redes varejistas se aproveitavam do grande fluxo de caixa para lavar o dinheiro que era doado a partidos e políticos. O esquema operou entre agosto de 2014 e fevereiro de 2015.