PMs de SP traficavam drogas e alteravam cenas de homicídio

Mensagens trocadas pelos policiais militares em um grupo criado no aplicativo WhatsApp indicam também que os PMs extorquiam dinheiro de traficantes de drogas ligados à facção criminosa PCC.

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Policiais militares da Força Tática do 5º Batalhão, na Vila Gustavo, zona norte da capital paulista, traficavam drogas apreendidas, matavam moradores de rua e adulteravam as cenas dos crimes para despistar a investigação das autoridades. 

Mensagens trocadas pelos policiais militares em um grupo criado no aplicativo WhatsApp indicam também que os PMs extorquiam dinheiro de traficantes de drogas ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e comemoravam o recebimento da propina com churrascos realizados dentro da unidade da corporação (veja algumas dessas mensagens no decorrer dessa reportagem).

A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo realizou ontem uma operação que cercou a sede do 5º Batalhão, na Vila Gustavo, zona norte da capital paulista, para apurar denúncias contra policiais da unidade. 

Ninguém foi preso durante o cerco promovido pela Corregedoria. Foram vasculhados armários utilizados pelos investigados, em busca de prova das ações irregulares. A investigação segue em sigilo.

O UOL teve acesso a essas mensagens. O site Ponte Jornalismo entregou em janeiro essas mesmas mensagens à Corregedoria da PM paulista. 

Em uma delas, um PM investigado propõe vender quatro dos seis tijolos de maconha que estão guardados dentro do próprio batalhão.

Denúncias 

Na véspera do Natal do ano passado, a Corregedoria da PM recebeu denúncias informando que PMs da Força Tática do 5º Batalhão cobravam uma espécie de "mensalão" de traficantes de drogas do Jardim Brasil. 

O autor da denúncia chegou a divulgar mensagens de WhatsApp de PMs da Força Tática negociando com um traficante o valor da propina em R$ 7.500,00 mensais. 

Na troca de mensagens, os policiais militares demonstram insatisfação com o valor cobrado e ameaçam exigir uma mesada de R$ 10 mil para não coibir a venda de drogas no bairro.

Segundo o denunciante, o ponto da venda de entorpecentes funcionava na rua Tenente Sotomano e a propina era cobrada sempre por um tenente e ao menos quatro cabos da Força Tática. 

Em uma das mensagens de WhatsApp, um cabo comenta com um traficante que a "biqueira" (ponto de venda de drogas) da rua Tenente Sotomano era uma mina de ouro e chegava a faturar R$ 30 mil por semana com a comercialização de cocaína.

O denunciante também informou à Corregedoria que PMs da Força Tática abordaram, no ano passado, um integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital) e tentaram extorqui-lo, pedindo R$ 100 mil para não prendê-lo. Como o criminoso não tinha o dinheiro, os PMs roubaram um fuzil dele.

Ainda segundo a denúncia, os PMs corruptos realizavam churrascos regados a bebidas e drogas com parte do dinheiro obtido com a extorsão contra os traficantes da região.

Mortes de moradores de rua 

A Corregedoria da Polícia Militar abriu dois inquéritos para apurar as denúncias contra os PMs da Força Tática do 5º Batalhão.

A morte de pelo menos dois moradores de rua é um dos pontos centrais da investigação. As mensagens indicam que os policiais militares cometeram os homicídios, retiraram os corpos dos locais, e colocaram um fuzil no novo local para indicar, falsamente, que houve um tiroteio. Há indícios de que a fraude foi flagrada por câmeras de rua. 

Os policiais integrantes da Força Tática foram chamados a prestar depoimentos sobre esses casos, em dezembro do ano passado.

Após a tomada de depoimentos, um dos suspeitos xinga uma tenente da Corregedoria da PM e comenta sobre como poderia acobertar os crimes cometidos. 

Na tarde desta quinta-feira, a sede da unidade militar foi cercada por oito viaturas do órgão fiscalizador, além de outros três veículos (descaracterizados). Foram vasculhados armários usados pelos policiais militares da Força Tática do 5º Batalhão.

Resposta da PM 

A Polícia Militar informa que "nesta quinta-feira (25), após recebimento de denúncia anônima informando irregularidades supostamente cometidas por policiais militares do 5º BPM/M, a Corregedoria da PM desencadeou Operação na sede daquela unidade". 

A nota continua: "em razão dos fatos contidos na denúncia, a investigação prossegue e é conduzida de forma sigilosa, uma vez que a divulgação precoce do seu teor pode comprometer as ações da Corregedoria". 

Por fim, a Polícia Militar afirma "que é uma instituição legalista e que, conforme amplamente divulgado ontem (25), vai a fundo nas investigações".

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