O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), divulgou nesta sexta-feira que os pilotos do avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) no mês passado relataram problemas com o sistema de antigelo logo no início do voo.
ACÚMILO DE GELO
O acúmulo de gelo nas asas é uma das hipóteses levantadas para o acidente, conforme mencionado por especialistas civis após o ocorrido — embora essa hipótese ainda não tenha sido confirmada pelo Cenipa. O relatório preliminar da entidade ainda não aponta a causa definitiva do acidente.
O Cenipa revelou hoje o relatório preliminar sobre a queda do ATR, que resultou na morte de 62 pessoas em 9 de agosto.
— Os tripulantes relataram falhas no sistema de boot das asas, responsável por quebrar o gelo — informou o tenente-coronel Paulo Mendes Fróes, investigador-chefe do Cenipa. — O piloto e o copiloto mencionaram o gelo em duas ocasiões durante o voo, que durou pouco mais de uma hora.
ALARME NA CABINE
De acordo com o relatório, às 12h15min42s (horário de Brasília), um alarme único soou na cabine, seguido por uma mensagem de "Fault" no sistema de degelo da aeronave. Poucos segundos depois, esse sistema foi desativado, e, durante os minutos seguintes, o alerta do sistema de detecção de gelo apareceu e desapareceu várias vezes. Às 13h20, o copiloto comentou sobre "bastante gelo", e, cinco segundos depois, o sistema antigelo foi reativado pela terceira vez. Às 13h21min09s, o controle da aeronave foi perdido, resultando em uma atitude de voo anormal até a colisão com o solo.
Ainda não há confirmação desses dados, conforme informou o chefe do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno.
— O que temos são declarações de tripulantes sugerindo uma falha no sistema de degelo, mas essa informação não foi confirmada pelos dados — explicou Moreno.
O brigadeiro também destacou que, após um mês de investigação, ainda é cedo para definir a linha principal de investigação.
Segundo Fróes, dois minutos antes do acidente, o copiloto relatou "bastante gelo". O sistema de degelo foi acionado novamente e permaneceu ligado até a queda. O Cenipa confirmou que o detector de gelo gerou alertas durante o voo.
O relatório indicou que o sistema antigelo foi ativado várias vezes, mas houve um período em que o avião voou por seis minutos sem o sistema ligado. Depois, ele foi reativado e permaneceu assim até a perda de controle.
— O sistema de degelo foi ligado e permaneceu ativo até o momento da perda de controle — afirmou Fróes.
O relatório também confirma que o piloto não solicitou uma emergência à torre de controle para realizar um pouso alternativo devido à formação severa de gelo nas asas, embora ele tivesse a opção de descer para uma altitude onde a temperatura seria mais alta e ajudaria a evitar o problema.
Sobre os registros técnicos, Fróes garantiu que estavam atualizados e que o certificado de aeronavegabilidade estava válido.
— Os registros de manutenção estavam em dia. Verificamos que estavam atualizados antes do acidente, conforme os registros — acrescentou o tenente-coronel.
A aeronave era certificada para voos em condições de gelo e estava considerada "aeronavegável", segundo os investigadores, que também confirmaram que os pilotos haviam recebido treinamento específico para voar em condições de gelo.
O relatório final do Cenipa ainda não tem uma data definida para ser divulgado, mas deve ser concluído dentro de um ano. Embora o Cenipa não determine culpados, ele identifica os fatores que contribuíram para o acidente e emite recomendações para melhorar procedimentos e aspectos técnicos.
— As investigações continuam, principalmente no que diz respeito a fatores humanos e técnicos — disse o tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno, comandante da Aeronáutica.
A caixa preta do ATR foi analisada pelo Cenipa. A queda, que ocorreu com o avião vindo de Cascavel (PR) e com destino a Guarulhos (SP), não teve sobreviventes. Antes de divulgar o relatório à imprensa, o Cenipa se reuniu com as famílias das vítimas.
EM APURAÇÃO
A Polícia Federal também está investigando o acidente, podendo identificar responsáveis e realizar diligências. O ATR-72 transportava 57 passageiros e 4 tripulantes. Imagens do momento da queda mostram que o avião estava em voo de cruzeiro quando perdeu sustentação e caiu em uma trajetória vertical em espiral, conhecida em manobras acrobáticas como “parafuso chato”.
Os pilotos são treinados para recuperar o avião em casos de perda de sustentação. O fato de o avião ter altitude suficiente para, teoricamente, recuperar a sustentação sugere que o gelo pode ter congelado as asas e que o sistema de degelo pode não ter funcionado adequadamente.